A producao do conhecimento nas ciencias - Matemática (2025)

A producao do conhecimento nas ciencias - Matemática (1)

UNIBTA

Enviado por leo_chipans_chatgpt leo_chipans_chatgpt em 02/12/2024

Prévia do material em texto

Editora chefe Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira Editora executiva Natalia Oliveira Assistente editorial Flávia Roberta Barão Bibliotecária Janaina Ramos Projeto gráfico Camila Alves de Cremo Daphynny Pamplona Gabriel Motomu Teshima Luiza Alves Batista Natália Sandrini de Azevedo Imagens da capa iStock Edição de arte Luiza Alves Batista 2021 by Atena Editora Copyright © Atena Editora Copyright do texto © 2021 Os autores Copyright da edição © 2021 Atena Editora Direitos para esta edição cedidos à Atena Editora pelos autores. Open access publication by Atena Editora Todo o conteúdo deste livro está licenciado sob uma Licença de Atribuição Creative Commons. Atribuição-Não-Comercial-NãoDerivativos 4.0 Internacional (CC BY-NC-ND 4.0). O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores, inclusive não representam necessariamente a posição oficial da Atena Editora. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Todos os manuscritos foram previamente submetidos à avaliação cega pelos pares, membros do Conselho Editorial desta Editora, tendo sido aprovados para a publicação com base em critérios de neutralidade e imparcialidade acadêmica. A Atena Editora é comprometida em garantir a integridade editorial em todas as etapas do processo de publicação, evitando plágio, dados ou resultados fraudulentos e impedindo que interesses financeiros comprometam os padrões éticos da publicação. Situações suspeitas de má conduta científica serão investigadas sob o mais alto padrão de rigor acadêmico e ético. Conselho Editorial Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Prof. Dr. Alexandre Jose Schumacher – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná Prof. Dr. Américo Junior Nunes da Silva – Universidade do Estado da Bahia Profª Drª Andréa Cristina Marques de Araújo – Universidade Fernando Pessoa Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná Prof. Dr. Antonio Gasparetto Júnior – Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília https://www.edocbrasil.com.br/http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4774071A5http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4444126Y9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4734644D8http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4771171H3http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4242128Y5http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4168013D9 Prof. Dr. Arnaldo Oliveira Souza Júnior – Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Carlos Antonio de Souza Moraes – Universidade Federal Fluminense Prof. Dr. Crisóstomo Lima do Nascimento – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa Prof. Dr. Daniel Richard Sant’Ana – Universidade de Brasília Prof. Dr. Deyvison de Lima Oliveira – Universidade Federal de Rondônia Profª Drª Dilma Antunes Silva – Universidade Federal de São Paulo Prof. Dr. Edvaldo Antunes de Farias – Universidade Estácio de Sá Prof. Dr. Elson Ferreira Costa – Universidade do Estado do Pará Prof. Dr. Eloi Martins Senhora – Universidade Federal de Roraima Prof. Dr. Gustavo Henrique Cepolini Ferreira – Universidade Estadual de Montes Claros Prof. Dr. Humberto Costa – Universidade Federal do Paraná Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice Prof. Dr. Jadson Correia de Oliveira – Universidade Católica do Salvador Prof. Dr. José Luis Montesillo-Cedillo – Universidad Autónoma del Estado de México Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins Prof. Dr. Luis Ricardo Fernandes da Costa – Universidade Estadual de Montes Claros Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte Prof. Dr. Marcelo Pereira da Silva – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Profª Drª Maria Luzia da Silva Santana – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Prof. Dr. Miguel Rodrigues Netto – Universidade do Estado de Mato Grosso Prof. Dr.Pablo Ricardo de Lima Falcão – Universidade de Pernambuco Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa Profª Drª Rita de Cássia da Silva Oliveira – Universidade Estadual de Ponta Grossa Prof. Dr. Rui Maia Diamantino – Universidade Salvador Prof. Dr. Saulo Cerqueira de Aguiar Soares – Universidade Federal do Piauí Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande Profª Drª Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti – Universidade Católica do Salvador Prof. Dr. William Cleber Domingues Silva – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4758163P1http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4270399A9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4270399A9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4270399A9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K2187326U4http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4537717Y7&tokenCaptchar=03AGdBq25B4lxTE6dxhpWHIqxGO4pzzZPgu_iV_QeN8f-tMTk8_sLDOB3PD_mtdQto3H5C2R2ZsmxnQtfmP66wxlIUt_CzTJNotB4Nr2WeA_ZeswgWraa8MbkAaZzV6d4gzkjqhc5hYQ_M-PfSdSI7td93FvBg2bA_iQABLK3i0vQ0yQRv1A1eB6SAfJCCqLkJYK596wJItTTqwwkcjAoFPtAsP-pVLiuGf7SJ_ujWrq_i7e1ac86qNNWa4t2uz65kb3UGFiVXXHrO-FYdcycEtCopnwy24k_7y06U-vF-n-8PZQEl3SDM3ejydvF0fyiSGRsDtN1eSkV6vWnGCu7u4Mc0gY3WMCxo6n9h6ArYBnNV6Cm64GaRIFb2IozQuQEayUcf2hIrTNuNZNcI3xXna_NbCwxnM8FL3whttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4236503T6http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4442899D1http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4442899D1http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4779936A0http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4279858T4http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4764629P0http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4137698A3http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.dohttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4777360H4http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4257759E9http://orcid.org/0000-0001-9605-8001http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4705446A5http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4771879P6http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4416387H0http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4465502U4http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4235887A8http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4437388Z1http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4252176Y6&tokenCaptchar=03AGdBq26r9EVjWZW6sbYV6Q3XWGEB7epb3WfkzfKlDLCL6nuSImCrTbZxxdXfH115SzT25I_DhCpgpShBG_bHFXb9avzWk6MqPQ5Zp852OEiXNYhpLA-1o7WMKEodPM974saRwubwT3ShtpI7TEUL1yL5gyWfjv-J8D0MVaZgolDHwnfde1QFLtnFBrSV7U3TMOlJjjTwlkIFKDPDdU5xFyNuqv7dgkF7UxyXUdDvkxvbam3pRrYvbqx_9n6fnJX2_cfH-uWR2fMeVyV82I9DjqHSG7u0oUFyl5bANzJZo2QGC73qpepr9YPym9hEA6ZkyAdzW0KaEju5BJNlFoIaVJkRrvcw_NNcXhQ9bnlrNJoyfwprUxxX9sxpxDuekPRDL7SREOqoujeurRQ7LYg7MiVFrMwFKPFpsudAav9n63JnabvRFbkuxokGOVhW6hIZ6GrqDjdtJArpWI8QYKDGLgBsWmONrszfNwhttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4759649A2http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4745890T7http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do?metodo=forwardPaginaResultados&registros=10;10&query=%28%2Bidx_nme_pessoa%3A%28rita%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28de%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28cassia%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28da%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28silva%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28oliveira%29++%2Bidx_nacionalidade%3Ae%29+or+%28%2Bidx_nme_pessoa%3A%28rita%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28de%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28cassia%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28da%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28silva%29+%2Bidx_nme_pessoa%3A%28oliveira%29++%2Bidx_nacionalidade%3Ab%29&analise=cv&tipoOrdenacao=null&paginaOrigem=index.do&mostrarScore=false&mostrarBandeira=true&modoIndAdhoc=null“a ideologia provê um arcabouço interpretativo pelo qual os atores sociais encontram sentido em sua relação com o mundo” (MUMBY, 2013, p. 86). Assim, Mumby (2013) enfatiza que a ideologia funciona para manter o status quo e, ao mesmo tempo, obscurece o fato de que o status quo é historicamente contingente e serve aos interesses de certos grupos dominantes, em detrimento de outros. O conceito de hegemonia está relacionado a ideologia e, de acordo com Mumby (2013), refere-se a um tipo particular de relação de poder entre os grupos de interesse no campo. “Para o poder ser exercido de forma mais efetiva, o grupo que dita as regras não deve tratar os grupos subordinados de forma coercitiva, mas, ao invés disso, deve criar condições para que os últimos concordem e de fato apoiem de forma ativa as ideias e sistemas de significados” (MUMBY, 2013, p. 87).Assim, no contexto dos estudos críticos organizacionais, Mumby (2013) destaca que os pesquisadores buscam explorar como os significados organizacionais e os processos de comunicação funcionam ideologicamente para estruturar as relações de poder no local de trabalho e, também, como a cultura organizacional pode ser um instrumento importante de poder e resistência dentro do ambiente organizacional. Nesse sentido, Mumby (2013) defende que a exploração da relação entre cultura e poder possibilita examinar como os significados organizacionais são o produto de diversas habilidades dos sujeitos e que se constroem em um processo de significado próprios. Além disso, para o autor, o significado é sempre negociado e repleto de multiplicidade, aproximando-se da visão apresentada por Hall (2013), Thompson (1995) e Carrieri e Silva (2013). Nesse contexto, Mumby (2013) indica que nenhuma cultura é monolítica e singular em seu significado e interpretação, cada funcionário, cada ator que integra a organização se apropria desse significado, resiste e retrabalha os esforços da gestão para ditar uma cultura organizacional uniforme. “Nesse sentido, o poder e a resistência não são simplesmente opostos, mas dialeticamente complementares” (MUMBY, 2013, p. 84).Mumby (2013) indica, ainda, que a cultura opera no nível do cotidiano e existe nas práticas e nos discursos contínuos dos membros da organização. Assim, o grau de estabilidade da cultura organizacional, só é “real” quando sua representação comunicativa está aberta a mudanças e transformações pelos membros. “As organizações, portanto, são locais complexos e contraditórios de construção e negociação de significados” (MUMBY, 2013, p. 84).Outro aspecto que Mumby (2013) afirma é o fato de que a cultura se constitui a partir da diferença. De acordo com o autor, os significados surgem por meio de articulações de A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 21algumas coisas e questões.De algumas formas, o poder pode ser descrito como a habilidade de alguns grupos de moldar as diferenças que fazem a diferença e, portanto, os constructos que utilizamos para compreender o mundo. A resistência envolve, em partes, a habilidade de remoldar e transformar aqueles constructos opostos, recompondo assim o que conta como significativo. (MUMBY, 2013, p. 84).Ou seja, Mumby (2013) aponta como é complexo compreender a cultura organizacional sob uma perspectiva crítica. E ao observar essa abordagem, as noções de cultura são ampliadas, assim como são reformuladas a partir de outros conceitos como poder, hegemonia e ideologia. São aspectos que precisam ser considerados ao avaliar os impactos da cultura no contexto das organizações e, também, como a cultura não é algo dado e construído, mas sim um processo de relações e interações que os sujeitos experienciam nas organizações, resultando em processos de construção de significados negociados ou de resistência. CONSIDERAÇÕES FINAISA intenção desse artigo foi realizar um resgate teórico relativo ao conceito de cultura e como ela é resgatada nos estudos de cultura organizacional e no contexto das organizações. Esse resgate evidencia a complexidade a que está submetido o conceito de cultura, com múltiplas abordagens e perspectivas. Inclusive, que essa multiplicidade de referenciais ocasionou uma dificuldade do próprio campo de compreender e avançar nesses estudos.Percebemos, ainda, que no contexto contemporâneo marcado pela velocidade, fluidez e complexidade das relações, a cultura envolve sistemas simbólicos e práticas sociais profundas que envolvem uma construção de significado que vai além daquele sentido ofertado pela organização, mas que é construído a partir de um contexto histórico e uma conjuntura individual, fazendo do sujeito um ator capaz de interpretar e de ressignificar as práticas sociais.Além disso, concordamos com Barbosa (2013) ao afirmar que as práticas culturais envolvem representações, da mesma forma que representações são em si práticas, e ambas são constitutivas e constituintes da noção de cultura. E corroboramos a visão de Mumby (2013) ao indicar que as novas realidades de trabalho exigem uma nova noção de “cultura organizacional” que reflita as práticas sociais no âmbito organizacional. É preciso repensar a cultura no contexto das organizações não como um constructo estável ou lugar de construção de significados, mas como uma confluência complexa de discursos, identidades múltiplas e espaços de tensões, confrontos, resistências e ressignificados dos discursos e práticas organizacionais. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 22REFERÊNCIAS BARBOSA, Lívia. Dilemas e tensões do conceito de cultura. In: MARCHIORI, Marlene (Org.). Comunicação em interface com a cultura. São Bernardo do Campo: São Paulo: Difusão Editora. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2013, v.1.CARRIERI, Alexandre de Pádua e SILVA, Alfredo Rodrigues Leite da. Cultura organizacional versus culturas nas organizações: conceitos contraditórios entre o controle. In: MARCHIORI, Marlene (Org.). Cultura e Interação. São Bernardo do Campo: São Paulo: Difusão Editora. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2013, v.5.HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Org: Liv Sovik. 2a ed. BeloHorizonte: Editora UFMG, 2013.FREITAS, Maria Ester. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? SP: FGV, 1999.GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: Por uma Teoria Interpretativa da Cultura. O impacto do conceito de cultura sobre o Conceito de Homem. In: GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2012.MARCHIORI, Marlene. Cultura e comunicação organizacional: um olhar estratégico sobre a organização. São Caetano do Sul, SP: Difusão, 2008.MUMBY, Dennis R. Cultura, organização e poder. In: MARCHIORI, Marlene (Org.) Perspectivas metateóricas da cultura e da comunicação. São Bernardo do Campo: São Paulo: Difusão Editora. Rio de Janeiro:Editora Senac, 2013, v.3.THOMPSON, John B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 1995. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 23Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 3 COMUNICAÇÃO CONTRA-HEGEMÔNICA NAS PLATAFORMAS DIGITAIS: UMA PERSPECTIVA DAS TEORIAS DA AÇÃO POLÍTICA DO JORNALISMOData da submissão: 08/11/2021Claudia Miranda RodriguesPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-RioRio de Janeiro/RJhttp://lattes.cnpq.br/9979426573347306Leonel Azevedo de Aguiar Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/PUC-RioRio de Janeiro/RJhttp://lattes.cnpq.br/3833374955831745 RESUMO: As contranarrativas produzidas pelo ativismo em rede jogam luz sobre a produção contra-hegemônica que se espalha nas plataformas digitais. Essa produção nos remete a conceitos como hegemonia e contra-hegemonia que inspiram as práticas jornalísticas de coletivos midiáticos. Sob a luz de autores como Gramsci, Herman & Chomsky, Traquina, Gitlin e Moraes, o objetivo deste artigo realizarum debate conceitual sobre a premissa que rege as teorias da ação política do jornalismo: as notícias sofrem distorções sistemáticas para obedecer à interesses econômicos, políticos e ideológicos. Com este respaldo teórico, apresentamos estudo de caso em torno das narrativas do coletivo Mídia Ninja a fim de refletir sobre as disputas discursivas nas plataformas digitais.PALAVRAS-CHAVE: Teorias do jornalismo; teorias da ação política; hegemonia; contra-hegemonia; Mídia Ninja.COUNTERHEGEMONIC COMMUNICATION ON DIGITAL PLATFORMS: A PERSPECTIVE OF THE THEORIES OF POLITICAL ACTION IN JOURNALISMABSTRACT:: The counter-narratives produced by network activism shed light on the counter-hegemonic production that spreads across digital platforms. This production takes us to concepts such as hegemony and counter-hegemony that inspire the journalistic practices of the collective media. based on authors such as Gramsci, Herman & Chomsky, Traquina, Gitlin, and Moraes, this article aims to carry out a conceptual debate on the premise that governs journalism’s theories of political action: The news undergo systematic distortions to obey economic interests, political, and ideological. With this theoretical support, we present a case study around the narratives of the Mídia Ninja (a far-left type of media found in Brazil) collective to reflect on the discursive disputes on digital platforms.KEYWORDS: Journalism theories; theories of political action; hegemony; counter-hegemony; The Ninja Media.1 | INTRODUÇÃOÉ inegável o tensionamento do campo jornalístico a partir da entrada em cena de novos atores favorecidos pela facilidade de produção e distribuição de notícias na internet. As condições de possibilidade no terreno digital impulsionaram novas dinâmicas noticiosas A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 24e a emergência de uma comunicação alternativa em rede. Na contramão das grandes organizações midiáticas, cidadãos e midiativistas encontram suportes para veicular um fluxo de informação contra-hegemônica (AGUIAR; SCHAUN, 2010; MORAES, 2013; MEIKLE, 2003; PERUZZO, 2009).Durante os oito anos em que ficou na prisão, de 1926 a 1934, e escreveu Cadernos do Cárcere, o filósofo marxista e jornalista, Antonio Gramsci, desenvolveu conceitos como Estado ampliado, sociedade civil, hegemonia e guerra de posição, promovendo uma revisão das formulações propostas por Marx e Engels (COUTINHO, 2011). Na perspectiva hegemônica, não é integralmente subtraída, aos grupos subalternos, a construção de uma visão de mundo divergente. “A essa resistência político-cultural é que Gramsci chamaria contra-hegemonia” (COUTINHO, 2008, p.9). No campo oposto, o processo de conformismo tem a imprensa a agir como aliado na coerção e dominação.[...] Entre os elementos que recentemente perturbaram a direção normal da opinião pública por parte dos partidos organizados e definidos em torno de programas definidos, devem ser postos na linha de frente a imprensa marrom e o rádio (onde estiver muito difundido) (GRAMSCI apud COUTINHO, 2011, p. 283).A crença na capacidade de o sistema midiático exercer interferência na seleção e circulação de informações e de interpretações que ajudam a consolidar a construção de consensos sociais é a base das teorias de ação política (TRAQUINA, 2012). Este pensamento encontra eco em autores como Herman e Chomsky, Stuart Hall, Gítlin, Moraes e Ramonet. A comunicação tornou-se uma matéria-prima estratégica, sustenta Ramonet (2013). Autor de A explosão do jornalismo: das mídias de massa à massa de mídias, Ramonet salienta que os grandes grupos midiáticos não ocupam mais o lugar do “quarto poder” – termo cunhado com base no pressuposto que a mídia tem o poder de fiscalização dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário – e agem, como “ferramentas ideológicas de globalização” (RAMONET, 2013, p.63).Moraes (2013) pontua que a digitalização contribuiu para a multiplicação do infoentretenimento, acentuando a concentração de setores complementares – imprensa, rádio, televisão, internet, audiovisual, editorial, fonográfico, telecomunicações, informática, publicidade, marketing, celulares, redes sociais –, pois as corporações midiáticas se apresentam como multiplataformas integradas e estabelecem a combinação de interesses estratégicos em diferentes suportes. Em relação a multiplicação do entretenimento na mídia, Aguiar (2008) já havia apontado – ao descortinar uma contradição histórica constitutiva do campo jornalístico na Modernidade, ou seja, entre cumprir uma função educativa ou uma função de entretenimento –, que o infotenimento pode ser compreendido como um formato híbrido típico da Contemporaneidade que funde informação jornalística com entretenimento. A expansão do poder corporativo e das fusões, com o declínio da radiodifusão pública, conferiram mais influência aos resultados finais e borraram as fronteiras entre A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 25departamento editorial e publicidade, expõem Herman e Chomsky (2002). A dupla prescreve que as redações foram incorporadas às estruturas corporativas transnacionais, com cortes orçamentários e redução de pessoal, e impacto no entusiasmo pelo jornalismo investigativo que desafiaria as estruturas do poder. Mesmo contestado por críticos que enxergam uma visão monolítica do bloco da mídia no modelo da propaganda proposto por Herman e Chomsky (2002), a teoria se mantém como ferramenta de reflexão. Pesquisa realizada, em 2010, pela Harvard’s John F. Kennedy School of Governament, analisou a cobertura da mídia mainstream, de 1930 a 2004. Na compreensão do estudo, os quatro veículos analisados – entre eles, The New York Times e The Washington Post – passaram a nomear como “submarino”1 o que antes chamavam abertamente de tortura. Essa mudança ocorreu quando a “técnica de afogamento” passou a integrar a lista de táticas de interrogatório autorizadas pelo presidente Bush, em 2002. Apenas um conjunto de assuntos ou fatos é posto à disposição da população em geral, quer por censura tácita ou oficial, a condição de diversidade não é satisfeita. Ou se os temas, fatos e perspectivas que se desviam da perspectiva geral estão confinados aos limites dos media e não chegam ao grosso da população, o resultado é o que pode ser chamado de diversidade sem sentido ou “marginalizada” (HERMAN, 1985, p.135).Este entendimento de déficit comunicacional e de invisibilidade inspira as ações do coletivo Mídia Ninja – um exemplo de ativismo em rede que despontou nas manifestações políticas ocorridas no Brasil que ficaram conhecidas como jornadas de junho de 2013. Nas tentativas de agendamento e desconstrução das narrativas da grande mídia que o estudo de caso nos revelou, observa-se a visão parametrizada pelas teorias da ação política que percebem a forma como a mídia dita hegemônica constrói um consenso a partir de enquadramentos. 2 | A CONSTRUÇÃO DO CONSENSOEstudos sobre o jornalismo, a partir da década de 70 (TUCHMAN, 1973; HALL, 1979), convergem para investigações no âmbito da parcialidade (new bias studies) que tangenciam, de acordo com a teoria democrática, a função da mídia como Quarto Poder, contrapoder e/ou servidor público. A onda de protestos que emergiu, em diversos países, na década de 1960, reverberou em questionamentos ideológicos sobre as imbricações políticas e sociais da atividade jornalística. Esta cultura crítica – que atingiu profissionais nas redações – abalou conceitos cristalizados, como a objetividade da mídia, e serviu como fulcro teórico para uma série de investigações acadêmicas (TRAQUINA, 2012). O ambiente “de oposição” desperta jornalistas sobre a gestão da informação por parte das instituições do governo, com ingerência especialmente depois da Segunda 1 O submarino consiste em torturar o preso mergulhando sua cabeça em recipiente com água. Em 2007, a CIA proibiu o uso datécnica denunciada por grupos de direitos humanos como forma de tortura. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 26Guerra Mundial, quando brota a percepção sobre a forma como editores e repórteres seriam instrumentos do governo (SCHUDSON, 2010). O autor salienta que parte dos profissionais compreendem que são “temidos e valorizados não pela capacidade de representar a opinião pública, mas pelo seu poder de controlá-la” (SCHUDSON, 2010). Cresce o sentimento que o repórter convencional aceita passivamente o testemunho público e que a reportagem interpretativa – que apura o pano de fundo e as questões paralelas – era um trabalho restrito e de pouco alcance. Schudson pondera que a “cultura crítica”, então, acentua o impacto político da mídia(...) nos pressupostos inexplorados nos quais baseavam sua prática profissional e, acima de tudo em sua conformidade em relações às convenções da reportagem objetiva. Sob este ponto de vista, a objetividade não era um ideal, mas uma mistificação. A obliquidade do jornalismo não estava no viés explícito, mas na estrutura social da coleta de notícias que reforçava as perspectivas oficiais da realidade social (SCHUDSON, 2010, p. 190).Althusser compreende a imprensa como um dos Aparelhos Ideológicos de Estado (AIEs) que elaboram, difundem e unificam visões da classe dominantes (entre eles, os AIEs escolar, familiar, jurídico e sindical). A característica destes poderes constituídos na esfera privada é funcionar pela ideologia em vez de pela repressão, embora Althusser (1970) aponte um amálgama no jogo tácito entre “Aparelho (repressivo) do Estado” e os Aparelhos Ideológicos. Dessa forma, mesmo na diversidade, operam unificação em torno da ideologia da classe dominante que detém o poder de Estado, pois “nenhuma classe pode duravelmente deter o poder sem exercer sua hegemonia sobre e nos Aparelhos Ideológicos de Estado” (ALTHUSSER, 1970, p. 49).Dentro dessa perspectiva, Moraes aponta a imprensa e os jornalistas como “agentes históricos essenciais no direcionamento da opinião pública, interferindo nos processos de conservação ou modificação das formas de hegemonia político-culturais (MORAES, 2013, p.105). Sob influência do pensamento gramsciniano, Hall (1999) observa que os pontos de vistas consensuais presentes na sociedade tornam-se representações que, de forma equivocada, denotam a inexistência de rupturas culturais ou econômicas e/ou importantes conflitos de interesse entre classes e grupos.Os media definem para a maioria da população os acontecimentos significativos que estão a ter lugar, mas também oferecem interpretações ponderosas acerca da forma de compreender estes acontecimentos. Implícitas nessas interpretações estão orientações relativas a acontecimentos e pessoas ou grupos nelas envolvidos (HALL, 1999, p. 228).Diferente de Herman e Chomsky (2002), Hall reconhece uma certa autonomia dos jornalistas frente ao controle econômico – o que faz Traquina (2012) enquadrá-lo também na teoria estruturalista. De acordo com a corrente estruturalista, o processo de produção das notícias pressupõe a natureza consensual da sociedade, sublinhando o papel das notícias no reforço da construção da sociedade como consenso. Hall, contudo, também enxerga A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 27a mídia como aparelho ideológico de Estado por construir “mapas de significado” (HALL, 1999, p. 227). Herman e Chomsky, por sua vez, argumentam que os jornalistas internalizam as prioridades quanto a noticiabilidade, que se conforma com a política da instituição, e demonstram dependência nas fontes governamentais e do segmento empresarial. O modelo da propaganda proposto pelos americanos observa a restrição da autonomia dos media em virtude de seu alinhamento aos interesses institucionais e econômicos, a partir de sua natureza capitalista que privilegia lucro e publicidade (HERMAN; CHOMSKY, 2002). A partir de análises de coberturas da mídia mainstream norte-americana, Herman e Chomsky apontam enquadramentos que incorrem em percepções seletivas e significados como os rótulos impostos ao termo terrorismo ou às vítimas “dignas” e “indignas” que ajudam a justificar, por exemplo, ações na esfera internacional lideradas pelo governo americano contra países “inimigos”. Herman e Chomsky (2002) analisaram coberturas realizadas pela mídia americana sobre as guerras do Vietnam e Camboja, sobre eleições em El Salvador, Guatemala e Nicarágua; sobre a tentativa de assassinato do Papa João Paulo II; e sobre a União Soviética e a era Putin.A partir desta lógica, o enquadramento imposto pela grande imprensa induz a leituras e interpretações em desacordo com o pensamento dos que não se coadunam com a esfera dominante (HERMAN; CHOMSKY, 2002; GITLIN, 1964; BAILEY et al., 2007; COULDRY, 2002). Traquina, contudo, assinala que o modelo da propaganda se atém às questões da política exterior americana, com base em estudos de caso limitados que não consideram assuntos domésticos onde a “elite econômica” pode estar mais vulnerável às cisões (TRAQUINA, 2012, p.168).3 | A CONSTRUÇÃO DO DISSENSO As formulações de Gramsci sobre contra-hegemonia vinculam projetos jornalísticos alternativos à expressão da diversidade informativa com práticas de resistência cultural, permitindo-nos refletir sobre a reversão dos consensos estabelecidos. Gramsci define ações contra-hegemônicas como instrumentos para criar uma nova forma ético-política, cujo alicerce programático é denunciar e tentar superar as condições de marginalização e exclusão impostas a amplos estratos sociais pelo modo de produção capitalista (MORAES, 2013, p.105-106).Em contraponto ao material veiculado pela Indymedia – coletivo midiático que se sobressaiu na cobertura do encontro do Organização Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, em 1999, com narrativas que capturaram imagens de violência contra manifestantes –, Bailey, Cammaerts e Carpentier (2007) explicitam que a mainstream media.[...] usou principalmente fontes oficiais de informação e opinião e negou, aos manifestantes, o acesso e a chance de apresentarem seus pontos de vista. O resultado deste tipo de cobertura foi a demonização dos manifestantes como ultraviolentos e a construção de um consenso geral em favor da globalização A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 28econômica; a mídia desperdiçou uma oportunidade de informar ao público questões referentes ao livre comércio a partir de várias perspectivas (BAILEY et al., 2007, p. 16).Neste sentido, a ação da mídia alternativa – categoria em que se enquadra o coletivo Indymedia –, como observam Bailey, Cammaerts e Carpentier (2007), é um fenômeno que está intimamente vinculado à ideia de sociedade civil. Sem ignorar a fragmentação e a diferenciação embutidas no conceito de sociedade civil, os autores ressaltam que é, nesta esfera, que se articulam as ideias dos cidadãos, a mobilização e a pressão por mudanças sociais. Consideramos importante introduzir o conceito de modelo minimalista proposto por Gramsci em que a esfera da sociedade civil se sobrepõe e se relaciona com as esferas do estado e do mercado de forma autônoma e independente. Gramsci compreende que a sociedade civil é um espaço onde a hegemonia, por consenso, se engendra. Mas o pressuposto gramsciano é que a hegemonia pode ser contestada na esfera da sociedade civil, uma vez que esta se constitui uma arena onde é possível despontar visões alternativas a respeito da política e da economia (BAILEY et al., 2007, p. 21).Na época em que a Indymedia surgiu não se falava em web 2.0, e a telefonia móvel ainda engatinhava em vários países. A conexão sem fio por dispositivos móveis não havia se popularizado. Ainda assim, eram dados os primeiros passos em direção à constituição de um modelo de comunicação guiado pela convergência de formatos, pelo espalhamento de conteúdos e pela colaboração nosprocessos de produção e circulação (BITTENCOURT, 2014, p. 89).Com respaldo no pressuposto do “Quarto Poder”, Ramonet (2013) sugere que as redes sociais atuam como um “quinto poder”, através do qual cidadãos criam “contraopinião pública”. A internet se constitui lugar de transmissão de conteúdo contra-hegemônico que questiona o neoliberalismo e a globalização, sentencia Moraes (2007). O “ecossistema virtual” é propício a práticas comunicacionais, como convocação, articulação, cobertura e socialização de atos públicos, e manifestações em tempo real, como tuitaços2 ou viralização de posts compartilhados (MORAES, 2013, p.104). O grau de ressonância dos meios contra-hegemônicos na web está associado à competência dos coletivos em se afastar do “formato discursivo e do maniqueísmo das máquinas midiáticas” (MORAES, 2007, n.p.). De acordo com essa lógica, Jenkins, Ford e Green (2013) cunham a expressão “ativismo avatar” para se referir ao emprego de técnicas da contemporaneidade tecnológica com o objetivo de operar propagabilidade. A propagabilidade diminui os custos do discurso político. Como resultado, grupos ativistas acham mais fácil conceber e circular conteúdos de mídia convincentes, construindo afiliações mais fortes com um público que desempenha um papel muito mais ativo na propagação de sua mensagem. Essas táticas funcionam porque criam mídia (como os vídeos do YouTube) 2 Manifestações através de publicação intensa via Twitter. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 29que é de fácil circulação, prestam atenção às motivações sociais que estimulam os adeptos e os visitantes mais casuais a compartilharem esse conteúdo (JENKINS et al., 2013, p. 271).Moraes chama atenção para convergências e singularidades existentes no amálgama do ativismo em rede. Como ponto de interseção, o autor enumera a atuação multimídia com possível utilização de vídeos, arquivos sonoros, tecnologia flash, WebTV, WebRadio e streaming. Na perspectiva comum de democratizar a informação e criar “novas dinâmicas noticiosas”, cita as agências alternativas de informação na América Latina que apresentam diferentes objetivos e graus de autonomia (MORAES, 2013, p. 121). A Aporrea, na Venezuela, por exemplo, está alinhada com o governo, a mexicana Cimac destina-se aos direitos étnicos e da mulher, e a chilena Azkintuwe defende povos originários como o Mapuche. A Agência de Informação Frei Tito para América Latina (Adital), o coletivo uruguaio Rebelarte e o jornal Brasil de Fato, como as demais citadas, têm, em comum, “a visão de que a mídia hegemônica não retrata adequadamente a realidade social da América Latina” (MORAES, 2013, p.122). Buscam apontar incongruências, limitações ou distorções na mídia, como também publicizar reivindicações dos movimentos populares.Aguiar atenta para a forma como as representações sobre a realidade determinadas pela imprensa implicam práticas discursivas atravessadas por relações de poder-saber que ultrapassam a modalidade de jornalismo em questão. “O processo de produção de informação se configura como um espaço público de lutas micropolíticas, no qual diversas forças sociais, políticas e econômicas disputam a produção de sentido sobre o real” (AGUIAR, 2009, p.179-180).4 | MIDIATIVISMO: ESTRATÉGIAS E NARRATIVAS DA MÍDIA NINJAA formação do coletivo Mídia Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação – está intrinsecamente ligada ao ciclo aberto pelos movimentos Occupy que se disseminaram nos países árabes, Europa e Estados Unidos a partir de 2011. Foram gestados no espaço autônomo e livre da internet onde emissores selecionam seus destinatários em uma interação horizontal, de difícil controle. Este pano fundo histórico imprimiu uma conjuntura favorável para a disseminação de novas práticas comunicacionais que influenciaram outros coletivos no exterior e no Brasil. Através da transmissão de assembleias, via streaming, o coletivo espanhol 15M unia manifestantes em diferentes cidades espanholas numa calle global. Os ecos dos Occupy instigaram Ocupas em cidades brasileiras e a reunião de coletivos em torno de atividades como o encontro Preliminares, em 2012, uma conferência na capital paulista que colocou em pauta novas formas de fazer ativismo digital e o futuro do midialivrismo no Brasil. A conjuntura política nacional, marcada por protestos contra o aumento das passagens, desde o começo de 2013, serviu como estopim para o surgimento A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 30de coletivos como a Mídia Ninja.A Mídia Ninja foi concebida como braço midiático do coletivo cultural Fora do Eixo com a finalidade de veicular contranarrativas. O FdE já havia feito incursões neste segmento através do Centro Multimídia Fora do Eixo e do canal digital POSTV. A proposta de jornalismo independente foi explicitada em sua nota de lançamento, em 27 de maio de 2013, no Facebook.Enquanto a velha mídia vai se transformando em mofo emerge pelo mundo inteiro uma tropa de comunicadores independentes. Nas ruas e nas redes, em textos e fotos, memes e streaming, atrás de câmeras ou celulares, eles estão por toda parte. (…) Reduzindo filtros entre fatos e o público. Já não precisamos de veículos. Somos os veículos (Mídia Ninja, 2013)3. A explosão das jornadas de junho de 2013 deu notoriedade ao coletivo que narrou, em tempo real, os acontecimentos a partir do lócus do manifestante. Apoiado na subversão do uso do de smartphones e acesso 3G, via plataforma Twitcasting, foi protagonista de denúncias contra a violência da Polícia Militar nos protestos. A conectividade das redes promoveu crescimento exponencial de seguidores e agenciamento coletivo, resultando em um poder mobilizador da audiência conectada pelas coberturas midiativistas via streaming.Neste sentido, a pesquisa acadêmica4 sobre as narrativas da Mídia Ninja no período de 2013 a 2016 revelou práticas midiativistas que extrapolam a produção de conteúdo veiculado no Facebook e no site do coletivo. Durante a observação participante realizada em duas casas coletivas – a Casa Fora do Eixo, em São Paulo e a Casa das Redes, em Brasília, em 2015 –, percebemos que os integrantes atuam como articuladores dos movimentos ou dos coletivos que apoiam. A parceria se estabelece na prévia organização e divulgação do evento e posterior cobertura. O material fotográfico é reutilizado com frequência na elaboração de arte gráfica que serve para mobilizar5 e promover escracho – narrativa visual carregada de deboche e irreverência6. O objetivo declarado da Mídia Ninja é “mudar o imaginário coletivo” e “fazer um contraponto à mídia hegemônica”7. Os midiativistas rejeitam os paradigmas da objetividade e imparcialidade jornalística. Em uma lógica inversa, calcada em narrativas, tentam descontruir imagens negativas que acreditam ser reforçadas pela mídia. Percebe-se clara tentativa de ressignificação simbólica em pautas recorrentes como MST8, MTST e Black Blocs9. O resultado são notícias que priorizam o ponto de vista dos movimentos. Foi o que 3 Disponível em https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a1643087003939501073741828164188247072662/164308703727283/type=3&theater. Acesso em 01 dez. 2015.4 A metodologia da pesquisa combinou observação participante (uma semana na Casa Coletiva de São Paulo e uma semana na Casa Coletiva de Brasília), cinco entrevistas e análise de conteúdo da produção da Mídia Ninja veiculada no Facebook e na página Oximity durante 2013 e 2016.5 Exemplo disponível em https://www.facebook.com/events/281418555526299/. Acesso em 04 jul. 2016.6 Exemplo disponível em https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a2355268632721331073741870164188247072662/533965756761574/?type=3&theater. Acesso em 14 nov. 2016.7 Rafael Vilela em entrevista a autora, em 27 jul 2015, em São Paulo.8 Disponivel em https://medium.com/@MidiaNINJA/a-trajetoria-e-as-lutas-do-mst-a02e6d9b64dd. Acesso em 27 jun. 2018.9 Disponívelem https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a1643087003939501073741828164188247072662/23 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 31aconteceu nas postagens massivas contra a redução da maioridade penal10, a favor da cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, em 2015, e em torno dos atos contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Compreendemos que a ideia de fluxo para o coletivo encontra sustentação nas teorias do jornalismo, especialmente na premissa do agendamento, conceito que percebe a capacidade de a mídia pautar e enquadrar assuntos relevantes para o público. A organização impôs um ritmo frenético de publicações no Facebook, a partir de março de 2016 com postagens sobre atos contrários ao impeachment11. Em dois atos nacionais, nos dias 18/03/2016 e 31/03/2016, foram publicados, respectivamente, 118 e 179 posts na timeline da Mídia Ninja no Facebook; no dia 17/04/2016, data da sessão de votação para abertura do processo de impeachment, foram feitas 256 postagens. Houve silenciamento a respeito de protestos favoráveis ao processo de afastamento. Inferimos, a partir desta constatação, uma tentativa de agendamento de cenário de mobilização e resistência. Nos conteúdos analisados – coberturas envolvendo black blocs12, greve dos garis em 201413, MOE (Movimento Ocupa Estelita) e pautas que fazem referência à legalização da maconha14 – torna-se evidente a inversão de critérios de noticiabilidade largamente utilizados pelos media como relevância, notoriedade, significatividade e dramatização. Verifica-se, portanto, um dissenso na forma de seleção e enquadramento. No caso dos garis, enquanto o jornal O Globo abordava o caos na cidade, a partir de uma apuração que privilegiou fontes do governo, a Mídia Ninja buscou construir um contraponto à narrativa apresentada pela grande imprensa a partir do viés ideológico da categoria. […] Os movimentos acionam a gente antes dos veículos por que confiam. Nossa relação é orgânica. […] de pessoas interessadas em falar sobre aquilo. A relação de fonte está ligada à imparcialidade e a gente não acredita nisso. Não é só fonte. É um sujeito ativo no processo político. Ele está fazendo fluxo de informação para facilitar a visibilidade do que ele acredita (VILELA, 2015)15.Dessa forma, o coletivo Mídia Ninja tornou-se suporte para veiculação de narrativas que se contrapõem, na forma e no conteúdo, ao que é produzido pela mídia mainstream. À luz das formulações de Gramsci, observamos como a Mídia Ninja imprime um caráter contra-hegemônico em sua produção jornalística ao abordar temas marginalizados e, com isso, procurar dar visibilidade a temas “invisibilizados”. A práxis do coletivo se constitui, em 3169286841224/type=3&theater. Acesso em 19 mai. 201610 A Mídia Ninja se engajou numa campanha contra a redução da maioridade penal e pelo afastamento do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Disponível em https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/512671455557671/?type=3&theater. Acesso em 3 abr. 2016.11 Disponível em https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/624958420995640/type=3&theater. Acesso 5 abr. 2016.12 Na prisão dos manifestantes no dia 17 de outubro de 2013, publicação sob o título “Ditadura 2.0” denunciava “Estado de exceção”. Disponível em https://www.facebook.com/MidiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.16418824 7072662/235758636582289/?type=1&theater. Acesso em 22 mar. 2016.13 Disponível em https://medium.com/@MidiaNINJA/other-carnivals-1fab2f577664. Acesso 27 jun. 2018.14 Disponível em http://midianinja.org/news/10-anos-de-marcha-da-maconha-autonomia-feminismo-e-quebrada/ Aces-so em 27 jun. 2018. 15 Rafael Viela em entrevista a autora em 27 ago. 2015, em São Paulo. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 32última análise, uma resistência político-cultural.5 | CONSIDERAÇÕES FINAISPerante o prisma gramsciana que expõe o processo de construção de consenso, a mídia exerce um papel crucial uma vez que reforça o pensamento hegemônico da sociedade capitalista. Esta é a ótica que inspira autores vinculados às teorias da ação política (TRAQUINA, 2012) e funciona como um princípio na definição das estratégias comunicacionais contra-hegemônicas demarcadas conforme os parâmetros adotados por coletivos, dentre os quais a Mídia Ninja. Ao apontar a autonomia restrita da mídia em face à submissão a interesses políticos e econômicos, Herman e Chomsky (2002) assinalam que as informações divergentes e “inconvenientes” veiculadas pela mídia evidenciam que o sistema não é monolítico, mas argumentam que estas permanecem à margem, sem alcance suficiente para interferir na agenda oficial. Isso não implica, contudo, que qualquer “propaganda” proveniente da mídia seja eficaz. Ao fazer uma revisão das práticas do ativismo em rede, Aguiar e Schaun (2010) recorrem a Scherer-Warren a fim de classificar tais táticas enquanto “ações coletivas reativas aos contextos histórico-sociais nos quais estão inseridas” (AGUIAR; SCHAUN, 2010, p.139). Podemos comparar a atuação dos midiativistas à comunicação alternativa em rede definida por Moraes: trata-se de mídia que se vale de discursos e dinâmicas editoriais guiadas pela tentativa de “romper crivos e controles da mídia convencional” (MORAES, 2007, n.p.). Na esfera digital, “ativistas veiculam vozes dissonantes e desafiam o consenso imposto pela grande mídia sobre o que deve ser informado à esfera pública” (MEIKLE, 2003, p.61).Um desafio para os ativistas na internet é desenvolver formas de contar histórias que não repliquem a estrutura narrativa dos conflitos. Outra armadilha é a priorização de pautas, com tratamento critico, inspiradas na agenda da grande mídia. O resultado é a reprodução dos fatos mais repercutidos pela cobertura midiática, fenômeno verificado na produção da Mídia Ninja que resultou na redução de sua teia noticiosa e da visibilidade que pretende alcançar. O comportamento reverso é o estreitamento do público-alvo com conteúdo de cunho mais ideológico que atingem mais especificamente os convertidos. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 33REFERÊNCIASAGUIAR, L. A validade dos critérios de noticiabilidade no jornalismo digital. In: RODRIGUES, C. (org.). Jornalismo online: modos de fazer. Rio de Janeiro: ed.PUC-Rio, 2009.AGUIAR, L.; SCHAUN, A. Híbrido glocal, ciberativismo e tecnologia da informação. Polêmica, v. 9, n. 4, p. 130-147, out./dez. 2010. AGUIAR, L. Entretenimento: valor-notícia fundamental. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 5, n.1, p. 13-23, jan./jun. 2008.ALTHUSSER, L. Ideologia e os Aparelhos Ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1992.BAILEY, O.; CAMMAERTS, B; CARPENTIER, N. Understanding alternative media: issues in cultural and media studies. Berkshire: Open University Press, 2007. BITTENCOURT, M.C.A. A midiatização do ativismo nas coberturas do G1 e do Mídia Ninja. Comunicação, mídia e consumo, v. 2, n. 30, p. 87-109, jan./abr. 2014. COULDRY, N. Mediation and alternative media, or relocating the centre of media and communication studies. Media International Australia, n. 103, p. 24-31, 2002. COUTINHO, C.N. (org.) O leitor de Gramsci. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011. COUTINHO, E.G. (org.). Comunicação e contra-hegemonia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. HALL, S. et al. A produção social das notícias: o mugging nos media. In: TRAQUINA, Nelson (org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1999.HERMAN, E. S. Diversity of news: marginalizing the opposition. Journal of Communication, v.35, n.3, set. 1985.HERMAN, E.S.; CHOMSKY, N. Manufacturing consent: the political economy of mass media. New York: Pantheon Books, 2002.GITLIN, T. News is what newspapermen make it. In: DEXTER, A; MANNING, D.M. (orgs.). People,society and mass communication. Nova York: Free Press, 1964. GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.JENKINS, H.; FORD, S.; GREEN, J. Spreadable media: creating value and meaning in a networked culture. Nova York: New York University, 2013. MEIKLE, G. Future Active - media activism and the internet. Nova York: Routledge, 2003.MORAES, D. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. Revista Eptic, vol. 9, n.2, mai./ago. 2007, n.p. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 3 34_____. Agências alternativas em rede e democratização da informação na América Latina. In: MORAES, D. et al (orgs.). Mídia, poder e contrapoder. Da concentração monopólica à democratização da informação. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013. PERUZZO, C. Aproximações entre a comunicação popular e comunitária e a imprensa alternativa no Brasil na era do ciberespaço. Galáxia, São Paulo, n. 17, p. 131-146, jun. 2009. _____. Movimentos sociais, redes virtuais e mídia alternativa no junho em que o gigante acordou. Matrizes, v.7, n 2, p. 74-89, 2013. RAMONET, I. Meios de comunicação: um poder a serviço de interesses privados? In: MORAES, D. et al (orgs.). Mídia, poder e contrapoder. Da concentração monopólica à democratização da informação. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013. SCHERER-WARREN, I. Cidadanias em fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1999. SCHUDSON, M. Descobrindo a notícia: uma história social dos jornais nos Estados Unidos. Petrópolis: Vozes, 2010.TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo. Por que as notícias são como são. Florianópolis: Insular, 2012.TUCHMAN, Gaye. Making news by doing work: routinizing the unexpected. American Journal of Sociology, v. 79, n.1, 1973. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 35Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 4 AS TEMPESTADES DO PASSADO, VIAGENS DO PRESENTEData de submissão: 06/11/2021Georgina Rodríguez HerreraEscuela Nacional de Estudios Superiores, Unidad Morelia, Universidad Nacional Autónoma de MéxicoMorelia, Michoacán, Méxicohttps://orcid.org/0000-0003-1821-099XEste texto fue presentado como ponencia en el marco del VII Congreso Internacional AsAECA, titulado “Nuevas formas del Cine y del Audiovisual: Géneros, Afectos, Identidades y Políticas”y realizado en modalidad virtual durante noviembre de 2020. Una versión fue publicada en las Actas de dicho evento.RESUMO: En el 2016, la cineasta Tatiana Huezo dirigió el fime Tempestad, en el que presenta la historia de dos mujeres mexicanas, Adela Alvarado y Miriam Carbajal, quienes, por distintos motivos y de diferentes maneras, fueron y son víctimas del crimen y la impunidad que impera actualmente en el mundo, y, en específico, en México. En este artículo se estudia dicha cinta, mediante el análisis discursivo y visual del relato de la tormenta física, emocional y mental que viven las protagonistas. Se indaga en la tensión creada entre palabras e imágenes, los dos principales componentes de la película. También se profundiza en la importancia que se le otorga a la narración memorial autobiográfica como instrumento para pensar la situación que vive gran parte de la población y para reflexionar sobre los individuos que fingen olvidar lo que han sufrido y callado, a fin de evitar futuras (y mayores) represalias. Es necesario, entonces, indagar en el pasado, ver el presente, para imaginar un mejor mañana. Esto es lo que se muestra en Tempestad: la memoria de dos personas, pero que remiten a muchas más historias de violencia. PALAVRAS-CHAVE: memoria, autobiografía, análisis fílmicoSTORMS OF THE PAST, TRAVELS FROM THE PRESENTABSTRACT: In 2016, the filmmaker Tatiana Huezo directed the film Tempestad, in which she presents the story of two Mexican women, Adela Alvarado and Miriam Carbajal, who, for different reasons and in different ways, were and are victims of the crime and the impunity that currently prevails in the world, and, specifically, in Mexico. This article studies this movie, through the discursive and visual analysis of the story of the physical, emotional and mental storm that the protagonists live. It explores the tension created between words and images, the two main components of the film. It also delves into the importance given to the autobiographical memorial narrative as a tool to think about the situation that lives large part of the population and to reflect on individuals who pretend to forget what they have suffered and remain silent, in order to avoid future (and further) reprisals. It Is necessary, then, to go to the past, see the present, and imagine a better tomorrow. This is what is shown in Tempestad: the memory of two people, but that refers to many more stories of A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 36violence. KEYWORDS: memory, autobiography, film analysis.“[...] Las letras de agua caen rompiendo las vocales contra los techos. Todo fue crónica perdida, sonata dispersada gota a gota: el corazón de agua y su escritura. Terminó la tormenta pero el silencio es otro”.Pablo Neruda, Tempestad con silencioPara conmemorar el Día Internacional de la Eliminación de la Violencia contra la Mujer, el 25 de noviembre de 2019 se llevó a cabo una marcha en la Ciudad de México. En dicho acto y colocada enfrente del Palacio de Bellas Artes, una madre, Yesenia Zamudio, reclamó que en esa ciudad mataban a sus hijas, tanto fuera como dentro de las escuelas y que, pese a ello, se cuidaba más una pared que a las jóvenes. “¿Cómo chingados no voy a estar enojada? ¡Lo quiero quemar todo, me mataron a mi hija!”, gritó con voz potente la mamá de María de Jesús Jaimes Zamudio (Fig. 1), quien fue asesinada en el 2016, cuando tenía 19 años de edad. Según su testimonio, un maestro era el culpable y estaba siendo protegido. Ese lamento, esa muestra de dolor, pero también de hartazgo representa el de millones de mujeres que, aunque haya pasado tiempo desde las desapariciones, las violaciones y las muertes de sus hijas, hermanas, primas, amigas, colegas, piden y luchan porque se haga justicia a las víctimas de cualquier muestra de violencia y, sobre todo, a las víctimas de feminicidio (LA SILLA ROTA, 2019).Fig. 1 Luz Verónica GB, ilustración de Edileth Yesenia Zamudio, madre de Marichuy, imagen obtenida de https://lasillarota.com/lacaderadeeva/lo-quiero-quemar-todo-me-mataron-a-mi-hija-la-historia-de-marichuy-victima-de-feminicidio/340004.La persistencia de Yesenia se subraya, se reproduce también en el documental Tempestad, dirigido por Tatiana Huezo, ya que en él se muestran cuáles son los efectos del crimen y de la impunidad que existen e imperan en México hasta hoy. La película se configura a partir de los testimonios de dos mujeres: Adela Alvarado y Miriam Carbajal, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 37víctimas de tales fenómenos, quienes relatan su historia, la tormenta física, emocional y mental que han experimentado y sufrido en los últimos años. Entre palabras e imágenes, con una voz en off o colocándose ante la cámara, ambas protagonistas construyen la cinta, la cual se estrenó el mismo año que desapareció Marichuy, sobrenombre que recibía María de Jesús. En este artículo estudio la composición del filme, así como su mensaje. Para ello, retomo los planteamientos de la investigadora Leonor Arfuch, quien, desde la crítica cultural y el análisis del discurso, resalta la importancia de la narración biográfica como forma e instrumento de memoria, herramienta que permite pensar, mediante casos individuales, la situación colectiva que prevalece en el mundo, pero que ha cobrado mayor visibilidad en México, donde los individuos se ven obligados a callar, a fingir olvidar lo que sufren y han sufrido, a fin de evitar represalias o mayores castigos futuros. Veamoscuál es la configuración de esas historias.Dos relatos, dos tempestadesEl relato que primero se presenta es el de Miriam Carbajal Yescas, quien trabajó durante nueve años para el Instituto Nacional de Inmigración, en el aeropuerto de Cancún, Quintana Roo. Un día, en dicho espacio la mandan a llamar y después la arrestan, acusándola de formar parte de un grupo de tráfico de personas. Primero, permanece tres meses en una prisión preventiva, luego, es trasladada a una cárcel al norte del país, en Matamoros, Tamaulipas, un lugar fuera de toda normativa, controlado por la delincuencia organizada y en el que también permaneció tres meses. Al ser liberada, debe cruzar todo México, para volver con su familia y, además, tiene que aprender a vivir en un mundo donde es tachada como expresidiaria, aún cuando no merecía tal encarcelamiento. La segunda historia es la de Adela Alvarado, una mujer que trabaja como payasita en un circo ambulante, dando continuidad a la tradición de su familia. Ella es madre de tres hijas, una de ellas, la segunda, fue secuestrada hace más de una década. El culpable de la desaparición: un compañero de universidad, hijo de judiciales. Los testimonios de ambas se presentan por fragmentos, los cortes entre cada narración están marcados por escenas cortas de paisajes silenciosos. No duran más de un minuto, pero son acompañadas por música. Esos instantes de tránsito, de silencio ¿son acaso espacios otorgados al espectador para reflexionar? ¿Se trata de una pausa necesaria para dar paso y distinguir a las narrativas? Sea cual sea el trasfondo, lo cierto es que en esos segundos es posible centrar la atención únicamente en el clima tormentoso, fondo y escenario de casi todo el filme. Ahora bien, en los primeros minutos del filme, en la pantalla se observan las imágenes de un sitio que pareciera estar abandonado, las paredes están destruidas, la naturaleza se asoma por las ventanas rotas, no hay muebles (Fig. 2). Mientras, en una voz A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 38en off, Miriam describe cómo fue el día en que le informaron que sería liberada, momento sorprendente e inesperado, que le alegró y que dio comienzo a su viaje de retorno. Fig. 2 Fotograma del filme Tempestad, dirigido por Tatiana Huezo, México, 2016, 3’ 06’’.Su relato también versa sobre aquello que vivió en el penal de Matamoros, cómo fueron esos primeros días y cómo era la propia dinámica dentro de la prisión. Simultáneamente, el registro visual mostrado es el de varias personas dentro de un camión, transitando por carreteras vigiladas por retenes de policías. Por momentos, la cámara enfoca el paisaje que los pasajeros deben ver por sus ventanas, para luego cambiar y filmar a los individuos. ¿Habrá sido ese el recorrido que tuvo que realizar para volver a su natal estado, donde su hijo vivió alejado de ella durante su encarcelamiento? Miriam no aparece frente a la cámara; como espectadores, solo obtendremos un breve vistazo al final del filme. ¿Por qué? Ella misma ha expresado que, durante un tiempo, su rostro aparecía en los noticieros, en los periódicos, no podía ir a un lugar sin que la reconocieran, sin que la señalaran. Incluso creía que, al salir de la prisión, una marca se había plasmado en ella y le hacía notar a las demás personas de dónde venía, dónde había estado los últimos meses. El no mostrarse es entonces una decisión, ¿pero de quién? ¿De la directora o de la testigo? ¿De ambas? Quizá la manera que las dos encontraron de contrarrestar la imagen violentada de Miriam fue no colocarla en la pantalla, o hacerlo brevemente y casi de manera velada. Tal vez incluso se nos ha mostrado su rostro en las imágenes de los viajeros que observan por la ventana y que ahora son observados por quien ve el filme. No lo sabemos con seguridad, al menos yo no. Diferente es la presentación de la historia de Adela. Primero, ella se presenta y A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 39describe su oficio. No parece haber mayor relación con el relato anterior. Será casi al final de su primera participación que mencione el motivo de su sufrimiento, de su tempestad: una de sus hijas le ha sido arrebatada. Suceso que a muchos padres puede llevar a la locura, ya que, constantemente, piensan en el momento en que los desaparecidos vuelvan sanos y salvos a sus brazos. Esa esperanza, ese rayo de luz, permanece encendido en el corazón de la madre. En contraste con el caso de Miriam, siempre podemos ver a Adela (Fig. 3), puesto que ella es filmada desarrollándose en el circo (el ambiente que tanto ama) y conviviendo con aquellos que han hecho más llevadera su pérdida: su familia. En otras palabras, las tomas nos muestran las imágenes de su rutina diaria actual; en cambio, en el relato de Miriam la cámara da a conocer un metafórico viaje.Fig. 3 Fotograma del filme Tempestad, dirigido por Tatiana Huezo, México, 2016, 1:28:58.Así como los acontecimientos vividos por cada una son distintos, así también lo es la forma de darlos a conocer. Lo que se recalca es que tanto Miriam como Adela han sido víctimas de violencia. Los sucesos les han afectado directamente, les han trastocando su propio entorno: a una porque fue alejada de su hijo cuando la convirtieron en el chivo expiatorio de un crimen que no había cometido, pero del que la acusaron; a otra porque aunque no fue quien desapareció, la pérdida y ausencia le han dolido como la madre de la joven que es. Y, pese a todo, siguen viviendo, porque esas triste experiencias las han marcado, las han transformado, mas no son todo lo que ellas son; son vivencias, importantes, sí, solo que no las definen por completo. Por eso vuelven al pasado y lo hacen desde el presente en el que se encuentran. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 40Lo biográfico y lo memorialLa memoria de Miriam y de Adela es registrada y puesta en juego cuando se les pide contar ciertos aspectos de ella. Tempestad no es la primera cinta de Tatiana Huezo donde la puesta en escena se configura a partir de los recuerdos que son evocados con palabras, a la par que las imágenes remiten al hoy. En su ópera prima, El lugar más pequeño (México, El Salvador, 2012), también acudió a esta configuración. En ella se presentan las historias del regreso de algunos habitantes del pueblo de Cinquera (al norte de El Salvador) luego de que abandonaran el lugar por la insostenible y difícil situación que vivían durante la Guerra Civil, la cual se caracterizó porque, en las últimas décadas del siglo XX, las fuerzas militares estatales se enfrentaron con las guerrillas, arrasando con poblaciones enteras a fin de cortar todos los recursos con los que las fuerzas insurgentes pudieran contar. Siete son las personas que se colocan ante la cámara para narrar el antes, el durante y el después del combate. Todo ello, a partir de lo que cada uno de los individuos vivió, es decir, el punto de partida para cada narración es su propia autobiografía. De hecho, ese es un fragmento de la historia de la cineasta, pues su abuela vivía en dicho sitio.Años después, en Tempestad, Tatiana Huezo vuelve a recurrir a la filmación de los testimonios individuales. Ella nunca interroga directamente a Miriam Carbajal y a Adela Alvarado, pero da a entender que son sus preguntas, o al menos su interpelación, y su cámara las que, teniendo el permiso de las mujeres, se inmiscuyen en su intimidad, removiéndoles sus recuerdos y solicitándoles traer al presente la memoria del pasado. Por eso se vuelve necesario relatar sus trayectorias de vida y visibilizar, más en el caso de una de ellas, las fotografías que guardan celosamente y el espacio en el que se desarrollan y lidian con el día a día.Como mencioné antes, en pocas ocasiones la voz se sincroniza con el rostro de quien se expresa, ya que, en la mayoría del filme las narrativas de lo sufrido y de lo que todavía sufren soncontadas en voz en off. La directora es quien, al final, monta los diálogos y las imágenes, articulando los dos relatos y separando el “yo” de cada uno. Esas narrativas son similares, nunca iguales, a las de otros mexicanos, especialmente mujeres que, además de desempeñarse en el ámbito laboral, son seres en los que se forman la vida de otros, ya que muchas de ellas son madres. En otras palabras, y de acuerdo a lo expresado por Leonor Arfuch en su texto Memoria y autobiografía. Exploraciones en los límites (2013), ese “yo” de Miriam y Adela se extrapola a un “nosotros”, o quizá, mejor dicho, a un “nosotras” que sufren, pero que continúan viviendo. De ahí que afirme, luego de analizar la cinta y retomando los planteamientos de la autora referida, que Tempestad construye un relato que enlaza lo biográfico y lo memorial mediante dos relatos individuales, pero cuyas circunstancias permiten extenderlos hasta alcanzar el horizonte de lo colectivo. Aunque para narrar las historias se utilizan estrategias distintas, lo que se hace es subrayar cuál fue la huella traumática y cómo se configuraron los destinos de las mujeres A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 41a partir de ella. Hay, diría Arfuch, una “subjetividad situada” (2013, 13). ¿En dónde? En el presente, porque es en la actualidad donde se convive con esa biografía. Adela es mostrada jugando, platicando con sus sobrinas, ejercitándose, ensayando su número de payasita, conviviendo con sus nietos o entrenando a una de ellas, quien es, además, la joven que aparece en el cartel de la película (Fig. 4). La historia de Miriam la conocemos mientras tenemos como complemento visual un viaje a través de México, preguntándonos si será o no la recreación de la distancia que recorrió para volver al estado del que no tendría porqué haber salido si ella no lo hubiera querido o necesitado. Fig. 4 Cartel del filme Tempestad, dirigido por Tatiana Huezo, México, 2016. Imagen obtenida de https://www.filmaffinity.com/mx/film901357.html.Durante los 105 minutos de duración de la película, las palabras enfatizan que las voces escuchadas son las de las víctimas, mujeres dañadas por las propias políticas y prácticas que terminan impunes, pero no se daña nada más a un ser humano, sino a un conjunto de ellos. La desaparición, la injusticia, la impunidad son fenómenos que no se A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 42limitan a este milenio ni a México, sino que forman parte de la historia de la humanidad entera.Lamentablemente, ese contexto violento se ha convertido en un “estado de excepción” naturalizado, de acuerdo con el argumento del filósofo Giorgio Agamben, pues el Estado despoja a determinados individuos de su valor como tal, de manera que su existencia tiene poca o nula importancia porque han dejado de contar como personas físicas, morales y políticas. En consecuencia, son seres que pueden ser asesinados o desaparecidos sin que los efectos sean mayores. Aunque existe esa “normalización”, no es más que un constructo impuesto, por lo que los habitantes tienen el derecho de discernir, de actuar para modificar y detener la perspectiva normativa que impere (AGAMBEN, 1998, 2004). A lo anterior contribuye Tatiana Huezo. Desde su lugar como cineasta galardonada y reconocida internacionalmente, les da voz a Miriam y a Adela, permitiéndonos a nosotros como espectadores, escuchar su historia, ver su presente y, con ello, darnos cuenta de que lo vivido se mantiene como una herida abierta que sangra, pero que no es posible cerrar. Las protagonistas le permiten sumergirse en su intimidad, porque ¿de qué otra manera si no es con su propio consentimiento podría haberse insertado la directora y documentalista en sus espacios privados y en sus memorias dolorosas? Huezo se adentra y nos permite entrar en esa subjetividad. La apertura se cierra brevemente cuando los trasladamos de una historia a otra, convirtiendo a esos relatos en relámpagos, en breve vistazos de esa vivencia que se guarda y a la que solo se le permite salir en determinados momentos. Diría Arfuch: Como en verdad vivimos siempre, en una rutina de gestos y voces y trayectos, con todo el pasado bajo la piel y a flor del lenguaje, para ser despertado por momentos, súbitamente, quizá por otra voz, por una circunstancia, por un encuentro. Y luego el decir vuelve a cerrarse, para permanecer, pero diferente. Es que cada relato transforma la vivencia, la dota de otro matiz. Quizá, de otro sentido. Cada relato anota también una diferencia en el devenir del mundo. Inscribe algo que no estaba. Algo que no deja de brotar (2013, 15).Hay en Tempestad una serie de decires, que tienen como escenario climático la lluvia, las tormentas, recalcando así que, más allá de expresado, hay un sentir que rompe la quietud de la cotidianidad. Quizá Adela y Miriam no retomen en todo momento sus experiencias pasadas, pero al darlas a conocer existe, a la par, un despertar de la memoria. El documental, al ser un ejercicio que visibiliza el presente y que evoca la huella del pasado, también cambia y añade algo a las vivencias que no han tenido fin, porque las injusticias no finalizaron con los hechos que marcaron a las protagonistas, sino que estos siguen definiéndolas, ya sea porque lo sienten o porque saben con seguridad que siempre se hallarán en peligro de ser eliminadas por el gobierno que, aprovechándose de sus precarias condiciones, juzgó sus vidas como “destructibles”, retomando el planteamiento que desarrolla Judith Butler acerca de las vidas denominadas “precarias”. Aun teniendo conciencia de ello, lo que les queda ahora es buscar la manera de visibilizar que sus vidas A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 43y las de los suyos valen tanto como las de los demás (BUTLER, 2010)Las dos viven con miedo, de hecho, vivir se ha convertido para ellas en un riesgo, así lo comentan. Esa misma voz que con valentía habla es mezclada con las imágenes del hoy, de forma que se realiza un montaje de aquello con lo que lidian en la actualidad: el recuerdo de sus experiencias y la pérdida de una parte esencial de ellas. ¿De qué? A Miriam Carbajal le ultrajaron su dignidad, le violaron sus derechos como ciudadana, le quitaron su trabajo y le fue elaborado un expediente criminal en el que aparece como culpable; a Adela Alvarado le arrebataron a su hija y, aunque no por ello deja de ser su madre, sí le han quitado la oportunidad de verla crecer, desarrollarse, convertirse en adulta. Todo ello, esas ausencias, también forman parte de la biografía de cada una. No se puede obviar que ambas mujeres fueron marcadas con un estigma y que sus trayectorias de vida sufrieron un devenir inesperado (CRUZ, 2017). Temen, pero viven, cumpliendo con sus labores, con sus responsabilidades, con sus distintas facetas; así, desarrollan los ritos de una “vida normal”, callando lo que les ha pasado y únicamente dejándolo salir en determinados instantes. ¿Tempestad será para ellas una manera de abordar sus problemáticas desde un “lugar protegido”? ¿Protegido por qué? Por el currículum de la propia Tatiana Huezo, quien rehuye las imágenes amarillistas y más bien evoca los pasados violentos a través de posibilitar un lazo empático con las personas que nos presenta.Estamos ante una cinta donde las protagonistas no están interpretando un papel distinto a ellas, sino que están dando a conocer cuál fue su experiencia: están visibilizando y expresando lo que viven y lo que han vivido. Son dos casos derivados de la injusticia e impunidad existente, solo dos de los millones que hay en el país y en el mundo. Por eso, implícitamente, con la historia de Miriam y Adela se da a entender que hay más voces, más imágenes del infortunio actual, porque como individuos todos padecemos, por algún motivo y en circunstancias distintas, pero lo hacemos. De ahí que nos podamos identificar con las mujeresmostradas en Tempestad, la cual se vuelve el lugar común donde, según Arfuch, “podemos compartir el duelo y la pérdida” (2013, 15). Cabe resaltar que se trata de un filme al que se le permite exhibirse en festivales y concursos. ¿Será que como sociedad nos hemos dado cuenta (o comenzamos a hacerlo) de la necesidad de repensar el documental y la manera de registrar los acontecimientos actuales, los efectos del pasado y las consecuencias para el futuro? ¿Por qué es tan importante no centrarse o no construir toda la película en torno a los recuerdos? Ya que, como argumenta Elizabeth Jelin al retomar al filósofo Paul Ricoeur, la resignificación de las vivencias tiene lugar al alejar y acercar los pasados, ese “espacio de experiencia” a partir del cual se establecen determinadas expectativas para los años venideros, sin dejar de lado, por supuesto, cómo todo lo anterior ha afectado la configuración del presente (JELIN, 2002). Entonces, no se trata nada más de registrar un aspecto de la sociedad, es también A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 44conformar un espacio de reflexión donde se piense el sufrimiento y, a partir de él, se busque un cambio. Para ello, en Tempestad se proyectan dos biografías, pero, al mismo tiempo, se devela que existen un sinfín de voces y relatos, se deduce la proliferación de ellos y la especificidad de cada uno. Ello, mientras se da cuenta que todo ocurre dentro de un complejo social, en el que se subraya la imposibilidad de una clausura, incluso de una amnistía, porque incluso existen límites entre lo que es posible decir y mostrar, lo intratable, lo inexpresable de lo que habla Roland Barthes (1993). En Tempestad, el pasado es, por ejemplo, ese fragmento al que no podemos acceder a través de las imágenes en movimiento, si acaso solo mediante la observación detenida de las fotografías en las que se enfoca la cámara por momentos. Son, de nuevo, únicamente registros de la familia de Adela, pues de Miriam únicamente se nos otorga la oportunidad de verla, o de creer que la vemos, en la escena final de la película, en la que una mujer flota sobre el agua. Pienso que se trata de ella porque en un comentario anterior ha dicho que le falta una pierna, y es el mismo miembro faltante del cuerpo cuya sombra o contorno distinguimos antes de que aparezcan los créditos de la cinta (Fig. 5). ¿Estaré en lo correcto?Fig. 5 Fotograma de la escena final de Tempestad, película de la cineasta Tatiana Huezo, México, 2016, 1:39:45.CONSIDERACIONES FINALESLa rememoración de Miriam Carbajal y de Adela Alvarado está situada, escenificada y mediada por la cámara de Tatiana Huezo. Ella, junto con las mujeres, han elegido qué hacer visibles, qué partes de su vida contar y cómo narrarlas para rescatar esas “crónicas perdidas”, en donde la tempestad parece haber concluido, pero cuyos estragos A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 4 45siguen acompañándolas, a veces silenciándolas y, en ocasiones, incitándolas a hablar, empujándolas a hacerlo, porque como diría Yesenia Zamudio, “me han arrebatado algo, alguien esencial para mí”, en el caso de ella, a su hija Marichuy. Los castigos y las penas que sufren estas tres mujeres causan en ellas emociones como la ira, la desesperación, la tristeza y la impotencia. No pueden, no quieren quedarse de brazos cruzados, sin embargo, cualquier acción puede dañarlas a ellas y a los seres queridos que les quedan, así que solo se reúnen y visibilizan –retomando a Pablo Neruda en el epígrafe con el que di comienzo– las gotas de agua de aquella sonata que conforma el panorama del México de hoy, un panorama cualquiera, pero que parece ser peor para cualquiera que es mujer y para quienes son madres.REFERENCIASAGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer I. El poder soberano y la nuda vida. 1ª ed. Valencia: Pre-Textos. 1998. 268 p. AGAMBEN. Giorgio. Homo Sacer II. Estado de excepción. 1ª ed. Buenos Aires: Adriana Hidalgo editora. 2005. 176 p. ARFUCH, Leonor. Memoria y autobiografía: exploraciones en los límites. 1ª ed. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica. 2013. 168 p. BARTHES, Roland. Fragmentos de un discurso amoroso. 11ª ed. México: Siglo XXI editores. 1993. 189 p. FILMAFFINITY. Tempestad. 2016. Disponible en https://www.filmaffinity.com/mx/film901357.html-. Acceso en 5 de noviembre de 2021.JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. 1ª ed. Madrid: Siglo XXI de España editores. 2002. 146 p. CRUZ, Eduardo. Se respira el miedo. Tempestad (2016) de Tatiana Huezo. 2017. Disponible en http://correspondenciascine.com/2017/05/tempestad-de-tatiana-huezo/. Acceso en 6 de noviembre de 2021.LA SILLA ROTA. “Lo quiero quemar todo, me mataron a mi hija”, la historia de Marichuy, víctima de feminicidio. 2019. Disponible en https://lasillarota.com/lacaderadeeva/lo-quiero-quemar-todo-me-mataron-a-mi-hija-la-historia-de-marichuy-victima-de-feminicidio/340004. Acceso en 5 de noviembre de 2021.TEMPESTAD. Dirección: Tatiana Huezo. México: Pimienta Films, Cactus Film and Video, Bambú Audiovisual, 2016. 1 dvd (105 min). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 46Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 5 A COMUNICAÇÃO E O CONSUMO DAS ARTES CÊNICAS NA PÓS-MODERNIDADESuelen Gotardo Doutoranda em Comunicação Social no Programa de Pós-Graduação de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PPGCOM -PUCRS)http://lattes.cnpq.br/0409314611056057Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho (GT) Consumo, Comunicação e Organizações, atividade integrante do XV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.RESUMO: Bens culturais precisam de estratégias comunicacionais para atingir o seu público consumidor, principalmente na sociedade pós-moderna: tecnológica, coletiva e tribal. Este cenário, no entanto, demanda que produtores culturais investiguem novas formas de pensar a gestão cultural por meio da comunicação social, sobretudo em seu processo de divulgação. Norteado por estes tópicos, o artigo reflete a participação e a contribuição de profissionais das áreas de relações públicas, jornalismo e publicidade no processo da produção cultural de espetáculos teatrais e especialmente, na relação com seus consumidores. Para sustentar este percurso, são utilizadas reflexões de Michel Maffesoli sobre a pós-modernidade, Margarida Kunsch, Linda Rubim, Rosa Villas-Boas, Nadja Magalhães Miranda, entre outros autores que discutem a inserção da gestão integrada da comunicação na produção cultural.PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Divulgação; Gestão Cultural; Artes Cênicas.COMMUNICATION AND CONSUMPTION OF PERFORMING ARTS IN POST-MODERNITYABSTRACT: Cultural goods need communication strategies to reach their consumer public, especially in the post-modern society: technological, collective and tribal. This scenario, however, requires cultural producers to investigate new ways of thinking about cultural management through the media, especially in its dissemination process. Guided by these themes, the article reflects on the participation and contribution of professionals from the areas of public relations, journalism and advertising in the cultural production process of theatrical shows and, especially, in the relationship with their consumers. To support this path, we use reflections by Michel Maffesoli about post-modernity, Margarida Kunsch, Linda Rubim, Rosa Villas-Boas, Nadja Magalhães Miranda, among other authors who discuss the insertion of integrated communication management in cultural production.KEYWORDS: Communication; Disclosure; Cultural Management; Performing Arts.1 | INTRODUÇÃO Desde o final do século XX, especialmente por volta de 1950, a sociedade acompanha o rápido desenvolvimento tecnológico e digital, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 47influenciando e modificandoa identidade sociocultural. Mergulhada neste imaginário pós-moderno, a sociedade experiencia uma nova estética de relacionamento, onde o virtual participa constantemente do cotidiano societal. O sociólogo e pensador francês Michel Maffesoli destaca grande parte de seu legado na perspectiva do conjunto social, isto é, da sociabilidade como ferramenta de compreensão da estética atual, ou precisamente, da transição do século XX para XXI. Mas afinal, o que é pósmodernidade? “Mutação social que necessita de uma transmutação da linguagem. Assim é a pós-modernidade”, diz Maffesoli (2012, p. 2) em seu livro Le Temps Revient: formes élementaires de la postmodernité (O Tempo Retorna: formas elementares da pósmodernidade). Mais veloz e midiática, a sociedade pós-moderna oferece então diversas opções de cultura, lazer e entretenimento. É a era da cultura na palma da mão, da Netflix e outras diversas plataformas de streaming, da comunicação pelas nuvens, do consumo da cultura a partir do desejo do próprio consumidor, do telespectador e do espectador. Com o apoio da democratização do conteúdo promovido pelas redes sociais, a ideia de que tudo é de todos e para todos, promove então um novo desafio: a horizontalidade da comunicação que antes se encontrava centralizada nas mãos de profissionais da área. De acordo com Figueira (2015, p. 02), “o novo ambiente digital, o aumento da influência das redes sociais e a possibilidade de cada pessoa produzir e distribuir informação em larga escala constituem elementos que reenquadram o exercício do jornalismo”. Tal contexto histórico nos leva a pensar a comunicação de forma estratégica, levando em consideração a transformação midiática, ou seja, a forma como a informação é compartilhada e consumida.Para Kunsch (1999, p.72) “as tecnologias apontadas pela telemática estão definitivamente revolucionando as comunicações”. Nesse sentido, se faz necessário compreender o contexto atual e pensar novas estratégias de comunicação para acessar o consumidor. Kunsch (1999, p.73) lembra ainda que este cenário está provocando “novas formas de sociabilidade” e isso implica “novas posturas dos agentes comunicacionais, de segmentos da sociedade civil e com fortes consequências sobre todas as organizações complexas ou não”. No caso das artes cênicas, os produtores de espetáculos encontram um grande desafio: pensar novas formas de gestão para atrair o público espectador. Ora, “todo fenômeno cultural para se efetivar, na atual sociedade de massas, necessita ser divulgado, condição essencial à formação de público”, afirma a pesquisadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura Nadja Magalhães Miranda (in Rubim, 2005, p. 79). Formada em jornalismo, a autora procurou no campo das artes cênicas respostas para suas inquietações em torno da assessoria de comunicação da cultura, ou melhor, sobre o processo de divulgação dos espetáculos teatrais defendendo, assim, a articulação das A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 48áreas. Sua tese de doutorado1 diz que: “a divulgação teatral se efetiva de forma planejada e integrada”. Miranda (2007, p. 15) explica ainda que as áreas de comunicação (jornalismo, relações públicas e publicidade) “devem atuar de forma sinérgica para a eficácia dos resultados da divulgação”. A assessoria, solo fértil para a integração da comunicação, cumpre importante papel neste processo. Castanho (2001, p. 120) diz que a assessoria: “coordena (de forma integrada) a comunicação de uma instituição ou de um cliente com seus públicos interno e externo”. Logo, os profissionais dá área (relações públicas, jornalistas e publicitários) encontram no processo de produção e divulgação da cultura, uma grande oportunidade de trabalhar a comunicação e a inserção mercadológica.2 | GESTÃO INTEGRADA DA COMUNICAÇÃO NA PRODUÇÃO CULTURALEmbora seja considerada de extrema importância por muitos artistas, a gestão cultural ainda não é uma ação estruturada. A professora Villas-Boas (in Rubim, 2005, p. 100) diz que se “a cultura é para artista, parece não haver lugar, por exemplo, para empreendedores”. A autora complementa ainda que “lideranças falam de metas com medo de falar dos sonhos, ao passo que agentes do mercado cultural falam de sonhos com receio de falar em metas” (in Rubim, 2005, p. 100). Kunsch (1999) comenta que a gestão integrada da comunicação, em especial, a organizacional, “implica pensar em cenários no contexto das transformações mundiais” (1999, p. 71). No entanto, percebe-se a resistência do pensamento mercadológico da arte por parte de muitos artistas. Villas-Boas (ibid., p. 100) reflete: que “o Brasil pensa e age sobre cultura de modo ainda bastante restrito. Como se o habitante único e natural desse campo fossem os criadores”. Nesse sentido, refere-se à arte voltada aos próprios artistas.Os artistas e agentes culturais são excelentes mobilizadores, capazes de atrair com seus produtos grande número de pessoas e realizar muito, com poucos recursos, mas todavia, eles ainda estão distantes da capacidade de articular, formular ideias concretas, construir projetos viáveis (VILLAS-BOAS, 2005, p. 100).Se vivemos em uma sociedade midiática, tecnológica, tribal e mergulhada num imaginário pós-moderno, como atrair o espectador da cultura? Villas-Boas (in Rubim, 2005, p. 103) ressalta que “temos como primeiro ponto a pesquisa”, ou seja, “não cabe mais projetarmos ações sem antes fazermos um diagnóstico, definirmos o cenário que estamos vivendo, contextualizando as ações necessárias para o desenvolvimento cultural”. Cabe destacar, ainda, a presença do universo tecnológico no cotidiano social e seu impacto no modo de vida atual, como mencionado anteriormente. Villas-Boas (ibid., p. 103) comenta 1 Tese defendida em 2007 pela Universidade Federal da Bahia pela professora-doutora Nadja Magalhães Miranda. Material disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9659/1/NadjaSeg.pdf A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 49que “com a globalização, com a velocidade das novas sociedades, é necessário que o setor cultural busque novos princípios de gestão, atualize suas tecnologias e instrumentos de trabalho”. A autora destaca ainda a importância de compreender quem é o público foco de determinado produto cultural: “O que, como, quando, por quem, para quem, por que e onde devem ser realizados” (ibid., p. 103). Sabe-se que o público das artes plásticas é diferente do público da música, do teatro e da dança, possuindo características e peculiaridades diferentes. Nesse sentido, identificar o público espectador de teatro, ou seja, o consumidor de teatro, é, sem dúvida, uma das principais etapas que envolve a produção cultural. O gestor da cultura muitas vezes é visto como o próprio produtor cultural. A grande peculiaridade de ambas as atividades é que o gestor cultural foca no planejamento e dificilmente esse personagem estará diretamente ligado às funções artísticas. Nesse sentido, a autora sugere que o profissional encarregado da gestão da cultura seja da comunicação, para assim elaborar um planejamento “e não perder o foco dos objetivos propostos” (ibid., p. 103). O gestor cultural também propõe ações que envolvem a produção cultural, incluindo estratégias de divulgação, público, identidade visual e assessoria de imprensa. Essas interfaces se mostram como o centro norteador quando o objetivo é refletir sobre o papel do profissional da comunicação no processo da produção cultural. O planejamento, elemento necessário na competência do gestor, pode ser organizado pelas assessorias de comunicação. A professora Villas-Boas (in Rubim, 2005, p. 104) explica a construção de um bom e simples planejamento: descrever a missão da tarefa; apontar os objetivos; identificar o alvo, ou seja, o público que se quer atingir; desenvolver as estratégias para atingir o objetivo proposto; delimitar as ações e as tarefas;http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4203383D8http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4277797H6http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4462393U9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4273971U7http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4792160H3http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4758278P9http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4717019T5 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Diagramação: Correção: Indexação: Revisão: Organizador: Daphynny Pamplona Maiara Ferreira Amanda Kelly da Costa Veiga Os autores Marcelo Pereira da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P964 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação / Organizador Marcelo Pereira da Silva. – Ponta Grossa - PR: Atena, 2021. Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui bibliografia ISBN 978-65-5983-741-0 DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.410212012 1. Comunicação. I. Silva, Marcelo Pereira da (Organizador). II. Título. CDD 153.6 Elaborado por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166 Atena Editora Ponta Grossa – Paraná – Brasil Telefone: +55 (42) 3323-5493 www.atenaeditora.com.br contato@atenaeditora.com.br http://www.atenaeditora.com.br/ DECLARAÇÃO DOS AUTORES Os autores desta obra: 1. Atestam não possuir qualquer interesse comercial que constitua um conflito de interesses em relação ao artigo científico publicado; 2. Declaram que participaram ativamente da construção dos respectivos manuscritos, preferencialmente na: a) Concepção do estudo, e/ou aquisição de dados, e/ou análise e interpretação de dados; b) Elaboração do artigo ou revisão com vistas a tornar o material intelectualmente relevante; c) Aprovação final do manuscrito para submissão.; 3. Certificam que os artigos científicos publicados estão completamente isentos de dados e/ou resultados fraudulentos; 4. Confirmam a citação e a referência correta de todos os dados e de interpretações de dados de outras pesquisas; 5. Reconhecem terem informado todas as fontes de financiamento recebidas para a consecução da pesquisa; 6. Autorizam a edição da obra, que incluem os registros de ficha catalográfica, ISBN, DOI e demais indexadores, projeto visual e criação de capa, diagramação de miolo, assim como lançamento e divulgação da mesma conforme critérios da Atena Editora. DECLARAÇÃO DA EDITORA A Atena Editora declara, para os devidos fins de direito, que: 1. A presente publicação constitui apenas transferência temporária dos direitos autorais, direito sobre a publicação, inclusive não constitui responsabilidade solidária na criação dos manuscritos publicados, nos termos previstos na Lei sobre direitos autorais (Lei 9610/98), no art. 184 do Código penal e no art. 927 do Código Civil; 2. Autoriza e incentiva os autores a assinarem contratos com repositórios institucionais, com fins exclusivos de divulgação da obra, desde que com o devido reconhecimento de autoria e edição e sem qualquer finalidade comercial; 3. Todos os e-book são open access, desta forma não os comercializa em seu site, sites parceiros, plataformas de e-commerce, ou qualquer outro meio virtual ou físico, portanto, está isenta de repasses de direitos autorais aos autores; 4. Todos os membros do conselho editorial são doutores e vinculados a instituições de ensino superior públicas, conforme recomendação da CAPES para obtenção do Qualis livro; 5. Não cede, comercializa ou autoriza a utilização dos nomes e e-mails dos autores, bem como nenhum outro dado dos mesmos, para qualquer finalidade que não o escopo da divulgação desta obra. APRESENTAÇÃO O campo da comunicação tem se consolidado na produção de conhecimento por meio de monografias, dissertações e teses em cursos de graduação, especialização e programas de Mestrado e Doutorado, mas, também, da realização de relevantes eventos regionais, nacionais e internacionais, de publicações em revistas científicas qualificadas e debates acerca de temáticas transversais que se enleiam aos processos comunicacionais contemporâneos, evidenciando relações inerentes entre passado, presente e futuro.A Comunicação constitui-se de diversas áreas do saber que se entrecruzam e emolduram, por meio da especificidade de objetos empíricos e objetos teóricos, metodológicos e epistemológicos, produzindo investigações que tratam da sociedade, organizações, tecnologias, atores sociais etc. Pesquisas de importância internacional que devem atentar para a necessidade do impacto social, promovendo ações, propostas e produtos que interfiram na realidade de pessoas, comunidades, países, organizações e sociedades. O mundo atual caracteriza-se pela confusão social, colapso da ética e da integridade, busca frenética do poder e de se apoderar da consciência do Outro por meio de narrativas e práticas de desinformação assim como pelo erigir do “ministério da verdade” que condiciona a verdade a “quem fala” e “de onde fala”, da “novilingua”, “novafala” ou “novidioma” que oprime o pensar e falar livres, abertos e do “duplipensar”, a aceitação simultânea de duas crenças mutuamente contraditórias como corretas, tal como profetizou George Orwell, em 1949, pensar, problematizar e analisar o lugar da comunicação nesse ambiente torna-se fulcral para as democracias, haja vista que ela, a comunicação, só prospera em lugares com abertura para a circulação de informação e de irrestrita liberdade de expressão, conforme os ditames da Constituição. Nesse sentido, esta obra viceja, por meio da participação de pesquisadores do Brasil e de outras nações, múltiplas expectativas, desafios e oportunidades para a comunicação em um tempo de emergentes formas de ver, estar e sentir o mundo que ressignificam a existência, redefinem profissões e produzem emergentes modos de interação, troca e socialidade.Queremos que o conhecimento aqui materializado, não sirva, de acordo com Hayek (2019, p.49), para moldar resultados como um artífice faz com sua obra, mas, ao contrário, para “cultivar um crescimento ao oferecer um ambiente favorável, aos moldes do jardineiro com as plantas”.ORWELL, George. 1984. São Paulo: Cia das Letras, 2009.HAYEK, F. A. A pretensão do conhecimento. São Paulo: LVM Editora, 2019.Marcelo Pereira da SilvaSUMÁRIOSUMÁRIOCAPÍTULO 1 .................................................................................................................1A “ECONOMIA DA SAUDADE” E O ENCONTRO DE GERAÇÕES NA REDE DIGITAL FACEBOOK: ANÁLISE DA FANPAGE “CAMPINAS DE ANTIGAMENTE”Marcelo Toledo Andriotti Marcelo Pereira da Silva https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120121CAPÍTULO 2 ............................................................................................................... 11CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURAS NAS ORGANIZAÇÕES SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICAJuliane do Rocio Juski https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120122CAPÍTULO 3 ...............................................................................................................23COMUNICAÇÃO CONTRA-HEGEMÔNICA NAS PLATAFORMAS DIGITAIS: UMA PERSPECTIVA DAS TEORIAS DA AÇÃO POLÍTICA DO JORNALISMOClaudia Miranda RodriguesLeonel Azevedo de Aguiar https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120123CAPÍTULO 4 ...............................................................................................................35AS TEMPESTADES DO PASSADO, VIAGENS DO PRESENTEGeorgina Rodríguez Herrera https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120124CAPÍTULO 5 ...............................................................................................................46A COMUNICAÇÃO E O CONSUMO DAS ARTES CÊNICAS NA PÓS-MODERNIDADESuelen Gotardo https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120125apresentar métodos de controle, de modo a mensurar os avanços e fragilidades do planejamento e, por fim, tabular os resultados. Villas-Boas (in Rubim, 2005, p. 105) afirma ainda que “o que chamamos de produção é a execução continuada do planejamento”. Ainda sobre o planejamento, Rubim (2005, p. 15) salienta que há pelo menos três etapas no processo cultural: “a criação; a divulgação ou transmissão e a organização cultural”. Logo, os profissionais da comunicação se encaixam respectivamente na gestão da cultura, atuando diretamente na produção, na divulgação e na transmissão de bens culturais.3 | O PAPEL DOS COMUNICADORESNeste processo de difusão do bem cultural, a presença dos profissionais de comunicação se torna de extrema relevância. São estes atores que pensam as formas construtivas da imagem do espetáculo. Sem eles, a construção da narrativa da divulgação fica fragilizada.A organização da cultura não é exigida apenas em manifestações de dimensões espetaculares ou em ações eventuais, mas aparece como A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 50obrigatória em atividades permanentes e não tão grandiosas. Um programa televisivo de entrevistas não pode ser efetivado sem que a produção faça todo um trabalho de organização de agenda, considerando as datas significativas; escolha convite e contato com os convidados, bem como a preparação de roteiros básicos de questões e apresentação dos entrevistados (RUBIM, 2005, p. 20).Nessa perspectiva, pensar a identidade visual, a assessoria de comunicação, a narrativa da divulgação e a difusão cultural como instrumentos essenciais na hora de pensar o espetáculo é, portanto, pensar na produção cultural. Não basta, no entanto, que a aproximação dos agentes da cultura seja de forma risível. É preciso que esses profissionais tenham relação com o ambiente cultural e, acima de tudo, com a obra de arte em questão. Rubim (2005) relembra os clássicos da sociologia, Max Weber e Pierre Bourdieu, quando diz que “com a secularização da cultura e sua autonomização enquanto campo social específico [...] passou a solicitar profissionais diferenciados e claramente instalados na esfera cultural” (ibid., p. 20). Se todo evento cultural possui a necessidade de gestão, produção, divulgação e promoção, seja do campo das artes plásticas, da música ou das artes cênicas, por que o assunto ainda é tratado com tanta leviandade e informalidade? “É necessário assinalar que o marketing cultural só pode ser concebido como um momento contemporâneo da relação entre mercado e cultura”, explica o professor Albino Rubim (in Rubim, 2005, p. 61, grifo nosso). O professor destaca ainda (in Rubim, 2005, p. 63, grifo do autor) que “no Brasil a popularização da expressão marketing foi acompanhada por um deslocamento particular de sentido”, ou seja, na sua opinião, “marketing quase significa ‘aparecer’, no sentido de busca ou promoção de ‘visibilidade’”. Até pouco tempo, os recursos voltados para a área eram bastante escassos. Foi necessário, então, que a sociedade e os próprios artistas, identificassem a importância da comunicação social no campo da cultura.Diferente do que muitas vezes imagina o senso comum, a cultura é uma atividade, como toda prática social humana, que requer organização. Uma festa popular, como o carnaval, por exemplo, aparentemente apenas um lugar, por excelência, do lúdico e das manifestações espontâneas, não pode se realizar sem um grande esforço de organização (RUBIM, 2005, p. 19).Assim, o processo de construção cultural implica a criação artística, a construção da identidade visual da divulgação e a própria assessoria de comunicação. Essas demandas, no entanto, devem ser pensadas de forma organizada e planejada, conforme lembra Rubim (2005). A autora traz ainda uma sequência de práticas elaboradas pelo professor Albino Rubim2 sobre o processo da gestão cultural. São elas: “1. Criação, inovação e invenção; 2. Transmissão, difusão e divulgação; 3. Preservação e manutenção; 4. Administração e gestão; 5. Organização; 6. Crítica, reflexão, estudo, pesquisa e investigação e 7. Recepção 2 RUBIM, Antônio Albino Canelas. Exposição sobre produção cultural. I Seminário de Produção Cultural. Salvador: Faculdade de Comunicação da UFBA, 29 de março de 2004. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 51e consumo” (RUBIM, 2005, p. 16). Nesse sentido, grande parte do percurso cultural necessita de gestão e estratégias de comunicação para ter um bom rendimento. “Todos estes momentos do sistema cultural devem ser diferenciados, diagnosticados em políticas culturais que compreendam o sistema em sua totalidade articulada, desigual e combinada” e assim formular “propostas para cada um desses momentos e para o conjunto do sistema cultural”, destaca Rubim (ibid., p. 16). A autora comenta também que “este conjunto de atividades e ações, por sua vez, tem exigido da sociedade, através de um longo processo de divisão social do trabalho, a emergência de atores determinados e de profissionais especializados” (2005, p. 17).3.1 O Profissional de Relações Públicas na Produção CulturalA área de relações públicas vem ocupando cada vez mais espaço nas empresas, organizações, agências e assessorias de comunicação. Embora o leque de atuações da área seja bastante amplo, com o avanço dos meios tecnológicos, a área de relações públicas aumentou consideravelmente. As atividades que a profissão exerce são muitas, que vão muito além da organização de eventos, cerimonial e protocolo. Há nessa lista o endomarketing, assessoria de comunicação, consultoria, comunicação interna e mercadológica, planejamento, produção cultural, entre outros tantos campos em que o RP atua. Sim, “fazer festa dá trabalho”, suspira Rubim (2005, p. 19). Peruzzo (1986) lembra que a atividade de relações públicas nasce em um momento de crise com o intuito de promover a relação da marca, empresa ou produto com a sociedade e, consequentemente, com o público. Em Dornelles (2007) compreendemos que a atividade das relações públicas é fruto da expansão da economia industrial e do avanço da tecnologia que acentuou a necessidade de comunicação e compreensão entre os diferentes segmentos de público. Kunsch (2003) lembra também que a prática das relações públicas se organizou num processo estruturado em etapas que acontecem de forma contínua, no qual uma atividade vai subsidiando a outra. Cesca (2006, p. 22) aponta que “relações públicas é uma profissão que trabalha com comunicação, utilizando todos os seus instrumentos para administrar a relação empresa-públicos, visando ao bom relacionamento entre as partes”. Logo, o profissional de relações públicas atua no campo da organização, levando em consideração as estratégias comunicacionais e as ferramentas de gestão para atingir o objetivo proposto. Simões (2007, p. 45) explica queao falar-se em relações públicas, tende-se um conceito polissêmico, compreendendo uma disciplina, seu ensino, a profissão, sua teoria, a prática, os profissionais, os alunos, a comunidade, e todos os componentes deste guarda-chuva sociológico.Como apresentamos em outra oportunidade3, o universo da produção cultural, seja no 3 Trabalho de conclusão de curso apresentado pela autora no Centro Universitário Ritter dos Reis em 2018, intitulado A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 52âmbito das artes cênicas, artes plásticas, da música, entre outras manifestações artísticas, é um solo fértil às atividades do RP. Rubim (2005, p. 21) lembra que “dentre as nomeações mais recorrentes podem ser citadas: produtor cultural, promotor cultural e animador cultural”. Mas a autora destaca também que “nenhuma delas é aceita universalmente e mais grave: nenhuma delas está isenta de problemas de definição conceitual” (2005, p. 21). Isso porque não há, ainda, uma legitimidade em relação ao profissional que conduz a produção cultural, sendo estaexecutada muitas vezes por profissionais de outras áreas ou pelos próprios artistas. Mas o que faz um produtor cultural? Vende espetáculos? Consegue patrocínio financeiro para a peça? Escreve projetos culturais? Inscreve projetos em editais? Auxilia o cenotécnico na construção do cenário? Presta ajuda na concepção e desenvolvimentos dos objetos cênicos? Costura figurinos? Passa no supermercado antes do espetáculo para garantir um bom camarim? Cola cartazes? Distribui flyers e folders? É bilheteiro? Carrega e desmonta cenário? Varre o palco do teatro depois da apresentação? Atua como social media do espetáculo e/ou do grupo? O que mais cabe na lista das atribuições do produtor cultural? Segundo a produtora cultural gaúcha Dedé Ribeiro (2020), as atribuições do produtor cultural são diversas, dependendo da necessidade de cada espetáculo. As atividades vão desde o planejamento artístico à difusão econômica do espetáculo e captação de patrocínios. De acordo com Ribeiro (2020), a região também interfere nas atribuições do produtor cultural, uma vez que a própria função está diretamente ligada às necessidades das manifestações culturais locais. Ela lembra também que as funções do produtor variam de acordo com a área de atuação, ou seja, uma exposição, um concerto e um espetáculo de dança possuem necessidades diferentes de produção, explica Ribeiro (2020). Embora diversos artistas reconheçam as atividades e competências do produtor cultural, a função ainda carece de legitimação profissional. De acordo com Rubim (2005, p. 26), a criatividade do produtor situa-se, por conseguinte, em outro patamar: não se trata em criar uma obra cultural, mas de torná-la socialmente existente em uma sociedade contemporânea complexa. Para ter efetiva existência social e pública é imprescindível que ela passe a habitar a dimensão midiática e televivencial da sociedade. Cabe ao produtor cultural organizar de tal modo a cultura, que ela seja capaz de trafegar e se instalar nesta nova dimensão da sociabilidade contemporânea.Assim, a produção cultural apresenta-se como um espaço fértil ao profissional de relações públicas. No campo das artes cênicas, esse profissional pode atuar no protagonismo da construção de estratégias para uma boa divulgação e difusão do espetáculo teatral. Em outras palavras, serve como ponte entre os próprios artistas e demais profissionais de comunicação (o jornalista e o publicitário) que podem ser envolvidos na produção cultural. Bastidores da cena: produção cultural e as práticas de relações públicas. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 53Entre as atividades do profissional de RP no campo da produção cultural destaca-se a captação de recurso. Muitas vezes esse papel é desenvolvido pelo produtor executivo que, de acordo com Rubim (2005, p. 26), “busca recursos de modo a possibilitar a realização do evento ou produto”. A autora salienta também queem certos casos, a atividade de produção pode também abranger, a depender da complexidade do sistema cultural e da atividade específica a ser realizada, outras tarefas, como, por exemplo, acompanhar a distribuição dos produtos; divulgar ou organizar a difusão do evento ou produto cultural etc. Nestes casos, ou o produtor cultural tem que assumir a realização de tais tarefas ou, em situações de maior complexidade do sistema ou da atividade cultural, contratar pessoas especializadas para desempenhar tais funções, cabendo ao produtor supervisionar o funcionamento de tais ações (RUBIM, 2005, p. 27).Há uma nova relação entre o mercado e o consumo da cultura. Grande parte desse processo se dá em decorrência do digital e do avanço das tecnologias no cotidiano social, possibilitando novas estratégias de planejamento. Cabe ao profissional de relações públicas identificar essas relações e trabalhar a produção cultural.3.2 O Papel do Publicitário na Construção da Identidade Visual de Espetáculos Teatrais Todo espetáculo precisa de uma identidade visual para despertar o interesse de seus espectadores, especialmente no processo da divulgação. Diante da facilidade de propagação e divulgação dos produtos culturais na internet, a identidade de um espetáculo necessita destacarse entre as mais diversas expressões visuais. É aí que o papel do publicitário permeia a produção cultural, assumindo por exemplo, a criação da identidade do bem cultural, ou seja, da imagem do espetáculo. Sobre a definição do que se compreende por identidade visual, Strunck (1989, p. 14) nos explica que se “um nome ou ideia é representado visualmente sob determinada forma, podemos dizer que ela tem uma identidade visual”. Logo, é a partir da identidade visual que é possível visualizar as ideias e formas, antes idealizadas no campo empírico. Sobre o conceito de design, Mozota (2009, p. 15) explica queo design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida completos. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora das tecnologias e o fator crucial do intercâmbio cultural e econômico. O design procura descobrir e avaliar as relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas.Na perspectiva do autor, o design promove a humanização da marca, tornando-a acessível ao público consumidor. No caso das produções teatrais, é fundamental que a arte gráfica exista e aproxime o espectador da peça teatral, principalmente por meio do A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 54processo da divulgação.Figura 1: Cartaz do espetáculo ImobilhadosFonte: Captura de Tela no canal Máscara encena do Facebook4Mozota (2009, p. 16) refere-se também ao “serviço profissional de criar e desenvolver conceitos e especificações que aprimoram a função, o valor e a aparência de produtos e sistemas para o benefício mútuo do usuário e do fabricante”. Por isso a importância do profissional da publicidade na concepção da identidade do espetáculo.Strunck (1989, p. 09) lembra que “as imagens agem diretamente sobre a percepção do cérebro, impressionando primeiro para serem depois analisadas, ao contrário do que acontece com as palavras”. Nesse sentido, muitas vezes é a própria identidade visual dos espetáculos que desperta o interesse do espectador, seja panfleto, cartaz, banner ou até mesmo a mídia eletrônica.4 Captura de Tela no canal do Facebook do Máscara enCena. Disponível em: https://www.facebook.com/Mascaraen-Cena A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 55Figura 2: Propaganda do espetáculo TOC - Uma Comédia Obsessiva Compulsiva.Fonte: Captura de Tela no canal do Facebook5Assim, percebe-se que a identidade visual auxilia no processo de divulgação do espetáculo e pode ser vista também como a extensão da marca, ou seja, da peça teatral. “Numa sociedade como a nossa, aceleradamente competitiva, só conquistam posições de destaque as ideias que se tornam conhecidas”, comenta Strunck (1989, p. 11). Logo, destaca-se a necessidade de pensar a identidade de um espetáculo de forma estratégica. O autor comenta também que “para que esse conhecimento seja alcançado da forma mais rápida e eficaz, é da maior relevância a qualidade de suas manifestações visuais” (ibid., p. 11). Se a identidade visual assume um valor de discurso, é legitimada a sua importância enquanto papel na narrativa do processo de divulgação. Nessa perspectiva, a produção cultural necessita pensar a gestão cultural a partir da contribuição das assessorias de comunicação.3.3 O Papel do Jornalista na Assessoria de Comunicação de Espetáculos TeatraisO papel do jornalista é divulgar, assessorar, comunicar, desvelar, deixar vir à tona, agendar a sociedade. Pautar e ser pautado. No entanto, não vamos adentrar sobre a história do jornalismo, de modo a construir uma narrativa histórica sobre o assunto, mas focar no debate que nos importa:o jornalismo cultural e sua interlocução ao universo das artes cênicas.Miranda (in Rubim, 2005) comenta que o jornalismo cultural se refere à especialização 5 Captura de Tela no canal do Facebook do espetáculo TOC - Uma Comédia Obsessiva Compulsiva. Disponível em: https://www.facebook.com/comediatoc A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 56no ramo da cultura, seja no âmbito das artes plásticas, música, teatro, cinema, entre outras manifestações culturais. Miranda (in Rubim, 2005, p. 80) explica ainda que o jornalismo cultural “expressa tanto uma visão crítica, discutindo questões na atualidade, quanto opiniões ou conteúdos tradicionalmente identificados com o status quo das sociedades onde emerge”. Ou seja, diferente do jornalista que comunica os fatos em si, na área do jornalismo cultural há um vasto espaço para a criação de ideias e opiniões.O jornalista Daniel Piza (2003, p. 07) destaca a “riqueza de temas e implicações no jornalismo cultural, que também não combina com seu tratamento segmentado; afinal, a cultura está em tudo, é de sua essência misturar assuntos e atravessar linguagens”. Assim, o jornalista que atua no campo da cultura deve ter intimidade com a área, com o assunto e a obra relacionada. No caso das artes cênicas, seu papel não deve ser provisório, temporal ou desenvolvido por outro profissional que não o jornalista. Possuir relação com a mídia, criar e disparar releases, entre tantas outras funções cabíveis ao jornalista, devem ser pensadas de forma orgânica, utilizando as estratégias do jornalismo sem perder, no entanto, a estética da arte. Miranda (in Rubim, 2005, p. 93) comenta que a divulgação cultural e artística é também um campo de trabalho promissor para os jornalistas assessores, embora ainda seja exercida, muito frequentemente, sem as condições profissionais necessárias para a sua plena realização. A autora explica também que “a mídia impressa é um dos canais de difusão cultural e, em si mesmo, um claro expoente do processo de comunicação de massa, sendo o jornalista um mediador entre os criadores e os receptores” explica Miranda (in Rubim, 2005, p. 79). Nesse sentido, há visivelmente a compreensão de que a difusão de espetáculos culturais obtém melhor resultado se pensada a partir das atribuições das assessorias de comunicação, envolvendo as competências do jornalismo, da publicidade e das relações públicas. Miranda (in Rubim, 2005) explica que essa estratégia deve ser levada a sério quando pensada a produção cultural. A autora destaca ainda a importância dessa articulação quando o é acessar o público espectador: “Um dos elementos balizadores para a definição do projeto de comunicação a ser adotado na divulgação em pauta é o público a ser sensibilizado” (ibid., p. 94). Nesse sentido, conhecer o público consumidor e estruturar formas para conectá-lo, se mostra uma das etapas mais importante da produção cultural.CONCLUSÕES FINAISO cenário da pós-modernidade exige novas formas de pensar a produção cultural, em especial como foi trazido neste artigo, as artes cênicas. Nesse sentido, precisamos refletir sobre as novas formas de divulgação nesse contexto midiático e repensar a arte não só pela arte, mas de forma estratégica e mercadológica, ressignificando conceitos e A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 57principalmente, legitimando o papel do profissional de relações públicas, do publicitário e do jornalista no contexto cultural. A sociedade pós-moderna, mesmo tecnológica e instantânea, não exclui de fato as experiências, pelo contrário, conforme enunciado por Maffesoli (2014), ela propõe a aproximação por meio de nichos e interesses. Abre-se aí então uma lista de oportunidades ao teatro, das quais necessita-se primeiramente identificar o nicho, para então descobrir os eleitos que cultuam a experiência das artes cênicas. Logo, o consumo do teatro necessita ser repensado pela ótica da comunicação, de forma a definir estratégias para acessar o público espectador. Destarte, a presença da comunicação, por meio dos profissionais da área, no processo da produção cultural das artes cênicas, apresenta-se como um dos grandes diferenciais da gestão da cultura, envolvendo o planejamento e a promoção do produto cultural.REFERÊNCIAS CASTANHO, Valéria. Os jornalistas-assessores: encontros e desencontros - uma contribuição ao estudo das assessorias no Brasil. 2001. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 2001.CESCA, Cleuza G. Gimenes (Org.). Relações públicas e suas interfaces. São Paulo: Summus, 2006.DORNELLES, Souvenir Maria Graczyk (Org.). Relações públicas: Quem sabe, faz e explica. Porto Alegre: Edipucrs, 2007.FIGUEIRA, J. (2015). O triunfo do jornalismo de comunicação ou a erosão de uma profissão em mudança. In Estudos do século XX, nº15, pp. 57 – 75. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/46456/1/A%20erosao%20do%20Jornalismo.pdf. Acesso em: 21 jun. 2020.KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Gestão integrada da comunicação organizacional e os desafios da sociedade contemporânea. Revista Comunicação e Sociedade, São Paulo, n. 32, p.45-67, 1999, Editora Metodista.___. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. São Paulo, Summus, 2003.MAFFESOLI, Michel. O Tempo retorna: formas elementares da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.__. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. 5ªed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.MIRANDA, Nadja Magalhães. Divulgação e jornalismo cultural. In: RUBIM, Linda (Org.). Organização e produção da cultura. Salvador: Edufba, 2005. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 5 58___. Assessoria de comunicação e cultura: os espetáculos teatrais em Salvador (2003-2004). 2007. Tese (Doutorado em Artes Cênicas) - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/9659/1/NadjaSeg.pdf. Acesso em: 15 jun. 2020.MOZOTA, Brigitte Borja. Gestão do design: usando o design para construir valor de marca e inovação. Porto Alegre, Bookman, 2009.PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2003.PERUZZO, Cicilia Krohling. Relações públicas no modo de produção capitalista. 2. ed. São Paulo: Summus, 1986.RIBEIRO, Dedé. Especial produção cultural. Disponível em: http://artistasgauchos.com.br/portal/especiais/producao.php. Acesso em: 20 jul. 2020.RUBIM, Antônio Albino Canelas. Marketing Cultural. In: RUBIM, Linda (Org.). Organização e produção da cultura. Salvador: Edufba, 2005. RUBIM, Linda (Org.). Organização e produção da cultura. Salvador: Edufba, 2005.SIMÕES, Roberto José Porto (Org.). Relações públicas: ingênua e crítica. In: DORNELLES, Souvenir Maria Graczyk (Org.). Relações públicas: Quem sabe, faz e explica. Porto Alegre: Edipucrs, 2007.STRUNCK, Gilberto Luiz. Identidade visual: a direção do olhar. São Paulo, Europa, 1989.VILLAS-BOAS, Rosa. Gestão cultural. In: RUBIM, Linda (Org.). Organização e produção da cultura. Salvador: Edufba, 2005. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 59Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 6 APRENDIZAJE E INVESTIGACIÓN. LAS SINERGIAS DETRÁS DE LA PRIMERA PRODUCCIÓN DOCUMENTAL DE LA UNIVERSIDAD DE MURCIA PREMIADA EN HOLLYWOOD Data de submissão: 06/11/2021Alfonso Burgos RiscoUniversidad de Zaragoza, Unidad Predepartamental de Bellas ArtesTeruel, España https://orcid.org/0000-0002-2804-6567RESÚMEN: El presupuesto medio de producción de largometrajes en España en 2015 se sitúa en 1,2 millones de euros[1] según el propio presidente de FAPAE, Ramón Colom. Hablamos de un arco de producciones cuyo techo es apenas superior a los 5 millones de euros, proyectos que se ubican en el 3% de la producciónanual. ¿Es compatible este rango de inversión con respecto al presupuesto de una universidad pública? ¿Es posible concebir la coproducción cinematográfica con una universidad? La Universidad de Murcia estrena en 2015 su primer largometraje documental. El proyecto nace gracias a la unión de servicios y proyectos de investigación en lo que se puede denominar confluencia multidisciplinar de la investigación en pedagogía[2], en animación documental[3] y materializada a través de una unidad de producción audiovisual (tv.um.es). “La Memoria de las Manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia” es el primer largometraje documental que produce de forma íntegra la Universidad de Murcia y es el primer documental sobre la escuela pública desde la universidad pública. El impacto del proyecto ha llevado a la UMU a festivales internacionales de Los Ángeles, Brasil, Londres, Rumanía, Suiza o Israel y ha recibido, entre otros, el premio a Largometraje Documental en el Hollywood International Independent Documentary Awards (diciembre 2015).PALABRAS CLAVES: Cine, documental, diseño morfológico, animación documental, universidad pública.ABSTRACT: The average budget for the production of feature films in Spain in 2015 stood at 1.2 million euros according to Ramón Colom, the president of FAPAE. We are talking about an arc of productions whose ceiling is just above 5 million euros, projects that are located at 3% of annual production. Is this range of investment compatible with the budget of a public university? Is it possible to conceive a film co-production with a university? The University of Murcia premiered its first documentary feature film in 2015. The project was born thanks to the union of services and research projects in what can be called a multidisciplinary confluence of research in pedagogy, in documentary animation and materialized through an audiovisual production unit (tv.um.es). “The Memory of the Hands. Echoes of C. Freinet's pedagogical legacy in Murcia ”is the first full-length documentary film produced in its entirety by the University of Murcia and is the first documentary on public school from the public university. The impact of the project has led the UMU to international festivals in Los Angeles, Brazil, London, Romania, Switzerland and Israel and has received, among others, the award for Documentary Feature Film at the A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 60Hollywood International Independent Documentary Awards (December 2015).KEYWORDS: Film, documentary, morphological design, documentary animation, public university.INTRODUCCIÓNEn noviembre de 2014 se produce una reunión de seguimiento de un proyecto documental basado en las experiencias pedagógicas de una serie de maestros y maestras en la Región de Murcia. A modo de prueba, durante los dos últimos meses y medio se había estado trabajando la escena del ‘cálculo vivo’ generando animaciones para las complementar las intervenciones de Jesús Almagro y Antonio Galvañ. Tras poco más de diez minutos de proyección en el Centro de Estudios para la Memoria Educativa de la Universidad de Murcia, la escena terminaba de forma abrupta. Siguieron diez segundos de silencio absoluto. Cuando desconcertados por el silencio, íbamos a explicar que había sido una prueba, que había cosas que mejorar, el profesor y catedrático de Teoría e Historia de la Educación, Antonio Viñao, disipó toda duda sobre el proyecto pronunciando una sola frase: “Nunca había visto nada como esto”.“La Memoria de las Manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia” es una producción de la Universidad de Murcia finalizada el 15 de septiembre de 2015 bajo la numeración del Depósito Legal Mu 907-2015. La obra es un largometraje documental de 92 minutos de duración producido íntegramente por la Universidad de Murcia, esto es, sin financiación externa en concepto de coproducción o ayudas a la producción. Sus raíces se encuentran en el proyecto de investigación que se desarrolla entre 2010 a 2014 en el Centro de Estudios sobre la Memoria Educativa (CEME) bajo el título “El patrimonio histórico-educativo de la Región de Murcia. La memoria de los docentes”, financiado por la Fundación Séneca, Agencia de Ciencia y Tecnología de la Región de Murcia (11903/PHCS/09). Gracias al proyecto de investigación desarrollado por el CEME se pudieron recoger diferentes materiales escolares de diferentes colegios murcianos y se conectó con un grupo de profesores, en su mayor parte pertenecientes al grupo de jubilados de la Intersindical de la Enseñanza (STERM).Se plantea realizar un proyecto que unifique los trabajos de este grupo de maestros y presente sus metodologías para conservar y difundir parte del patrimonio educativo latente en los colegios de la Región de Murcia. De este modo y utilizando la pedagogía propuesta por el pedagogo francés Célestin Freinet como hilo conductor, se diseña la producción de un documental que aglutine los testimonios en colaboración con la elaboración de la tesis doctoral “Ficciones constructoras de realidad. El cine de animación documental” de Alfonso Burgos Risco bajo la dirección de José Mayor Iborra, en la que se analizan las características morfológicas de una serie de obras de animación de contenido documental, representando la subjetividad de los protagonistas mediante creaciones animadas. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 61De este modo confluyen la investigación en Historia de la Pedagogía acotada en la Región de Murcia entre la década de los setenta y principios de los noventa, en Patrimonio Cultural con la recopilación, archivado y conservación de los materiales escolares históricos, además del legado educativo del que pueden enriquecerse y aprovechar otros docentes. De forma complementaria la investigación en cine documental, en animación documental y sus conclusiones, que aproximarían la estructura y la gestión de recursos para generar las secuencias animadas, además de los documentos, diapositivas y fotografías conservadas por los protagonistas del documental. De este modo en la producción documental se aunaban las misiones fundamentales de la Universidad: docencia, investigación y transferencia de conocimiento, a través de la producción de patrimonio cultural.OBJETIVOSEl proyecto se asienta sobre dos objetivos principales. El primer objetivo es crear un documental científico comprendido como resultado de una investigación en historia de la pedagogía y como resultado de una investigación en animación documental, pretendiendo que el documental se circunscriba en el ámbito científico de las Humanidades.El segundo objetivo principal reside en recuperar, narrar y difundir el trabajo científico realizado por los investigadores del CEME sobre unas experiencias de renovación educativa llevada a cabo en la Región de Murcia. Objetivos secundarios del proyecto: a. Narrar las experiencias evitando mostrar una visión categórica de cómo interpretar, adaptar y aplicar la metodología de Célestin Freinet en el cincuenta aniversario de su fallecimiento. Se pretende compartir experiencias de un modo ameno evitando la mera exposición de datos.b. Relacionar la Escuela Pública, la Renovación Pedagógica y la formación universitaria.c. Proyectar las metodologías como herramientas de plena actualidad. La animación documental debía plasmar a través de los recuerdos y la experiencia vivencias y proyectos educativos con fidelidad, a la vez que debía presentarlas de forma visualmente atractiva y actual.d. Dignificar la profesión de maestro y maestra de escuela, poniendo en valor la Escuela Pública.METODOLOGÍALa metodología del proyecto gira en torno al diseño de un formato documental científico de contenidos pedagógicos que se apoya en mecanismos propios del cine de ficción para alcanzar un estándar de calidad que permita su visionado por un espectroamplio del público. Se busca dar difusión al proyecto y que éste sea lo suficientemente A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 62atractivo para el espectador a través de la incorporación de animaciones dinámicas que proyecten los objetivos pedagógicos de las experiencias recogidas en el documental.Para materializar este objetivo, el proceso de realización se estructura en cinco fases. 1. Investigación y documentación. En la fase inicial se realizó la investigación que sostiene el eje narrativo del documental. En paralelo a esta investigación, se lleva a cabo el análisis y estructuración de los rasgos del cine documental, principalmente extraídos del tratado de Michael Rabiger (2007), y de la animación documental, presentes en la tesis doctoral mencionada. 2. Preproducción del documental. Se diseña el proyecto atendiendo a los elementos fuentes de las dos investigaciones. Se define el hilo conductor del proyecto con la inclusión de una estudiante que realice la investigación y que servirá para estructurar las entrevistas y planteará el desarrollo de la investigación al propio espectador.De este modo se escribe un guion del documental en el que se establece la estructura y los bloques, desarrollando un guion con diálogos y storyboard para escenas puente dramatizadas y una escaleta de temas para el desarrollo de las entrevistas. 3. Producción del documental. En esta fase se realiza el rodaje de las entrevistas y de las escenas dramatizadas, además de la digitalización de cuadernos, monografías, dibujos, diapositivas y películas caseras. Con las entrevistas transcritas, que alcanzan las cuatro horas y media, se elabora un guion minutado para construir el eje narrativo del documental que facilita la labor de montaje. 4. Postproducción. Con el guion revisado y validado, se establecen las escenas y pasajes que se animarán. De este modo comienza la labor de dibujo, coloreado, diseño y animación digital. Una vez compuestas las escenas, se conforma el montaje definitivo y se construye la sonorización y postproducción tanto de audio como de imagen. Finalmente se realizan los subtítulos y la traducción de éstos a inglés y francés. El proyecto oficialmente se da por terminado en septiembre de 2015.5. Difusión y distribución. Esta fase comienza con la creación del perfil del documental en plataformas digitales de distribución en festivales. En este sentido hay que destacar que el estreno de “La Memoria de las Manos” se realiza en la Filmoteca Regional Francisco Rabal de Murcia el 29 de Noviembre de 2015, como último acto cultural de la X Semana de Educación: “Viajeros Educativos. La Dimensión Internacional de la Educación” de la Facultad de Educación de la Universidad de Murcia (2015).1 | PRODUCCIÓN AUDIOVISUAL, UNIVERSIDAD Y EDUCACIÓNEn junio de 2016 la confederación FAPAE, que agrupa a los productores audiovisuales españoles desde 1991, publica un comunicado en su web a propósito del informe ’25 años de Cine Español’. En el informe se destaca la evolución positiva que ha A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 63tenido el Cine Español con los espectadores, las ventas internacionales, el crecimiento exponencial de las producciones españolas premiadas internacionalmente y el crecimiento de las productoras activas.Sin duda el número de producciones tanto en largometraje como en cortometraje ha crecido mucho en los últimos años, en parte gracias a la bajada del coste de producción que supuso el salto digital. Gracias al auge y a la consiguiente demanda de formación en este campo, en paralelo a la oferta privada específica de las escuelas de Cine en las principales capitales del país, en las universidades españolas surgieron estudios realizados con el Cine y la Comunicación Audiovisual aprovechando la aparición del Espacio Europeo de Educación Superior y el crecimiento de la oferta educativa. Podría pensarse que la relación de la industria cinematográfica o de las productoras audiovisuales y la Universidad tienen tanto parecido como la práctica y la teoría, pero en realidad, la relación puede ir más allá. La Universidad Española tiene una antigüedad destacable, algunas han superado ya el centenar incluyendo a la propia Universidad de Murcia (1915-2015), y sus trayectorias están marcadas por la aplicación de sus misiones. De forma ambigua se han establecido varias funcionalidades distintas, pero atendiendo a tres ejes comunes basados en la formación, la enseñanza, la investigación y la transferencia del conocimiento con el objetivo de ayudar al desarrollo socioeconómico del contexto local: “a) la orientación a la profesión, que responde a la función de adaptación económica y al mercado laboral, y énfasis en la formación aplicada; b) la orientación a la ciencia (y, se sobreentiende, al contenido), que trata sobre la generación, reproducción y transmisión de conocimiento, y entiende como prioritaria la formación para la investigación y la racionalidad científica; y c) la orientación al estudiante, la cual, bajo el concepto amplio de educación, pretende la extensión cultural, se preocupa por cuestiones vinculadas a responsabilidad social y política, ciudadanía y, en definitiva, pretende una formación integral y desarrollo del self” (Bargel 2001, Barnett 2000, en Troiano, Elias y Amengual, 2006).En realidad, las universidades españolas se han concentrado en la creación y difusión de conocimiento, así como de la educación y la extensión cultural, y el cine no es ajeno a estos principios en tanto que un género como el documental pueda albergar objetivos como el desarrollo de contenidos científicos, históricos, éticos o filósofos. A destacar el potencial de cualquier obra cinematográfica como objetivo didáctico por las concepciones de sociedad o cultura que puede albergar más allá de su propia narrativa y contenido principal. Cabe citar la cita del filósofo Séneca a propósito del potencial de la imagen que recupera Morales (2010): “largo es el camino de la enseñanza por medio de teorías. Breve y eficaz por medio de ejemplos”.No debiera ser extraño, por tanto, que dentro del auge del cine español que FAPAE destaca, hubiera producciones relacionadas con el ámbito universitario, máxime teniendo en cuenta la sensibilidad de éste con la generación de cultura y la difusión de conocimiento. En este marco de actuación, puede destacarse el apoyo de convocatorias de fundaciones A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 64o entidades públicas, un ejemplo son las ayudas de la Fundación Española para la ciencia y la Tecnología (FECYT), y las convocatorias para el fomento de la Cultura Científica, Tecnológica y de la Innovación. Sin embargo, las producciones audiovisuales universitarias se encuentran a un nivel de bajo impacto económico de producción normalmente sustentadas por la infraestructura de un servicio o unidad dentro de la universidad. En este sentido pueden encontrarse un gran número de documentos visuales circunscritos a los repositorios virtuales con los que muchas universidades se han dotado en los últimos años. Podemos encontrar casos de este tipo como la mediateca de la Universidad de Vigo, el Área de Comunicación de la Universidad Politécnica de Valencia o el Portal de Vídeo de la Universidad de Barcelona.Cabe mencionar que este tipo de producciones quedan asociadas a proyectos de investigación y/o círculos limitados de espectadores que, si bien en muchos casos se publican o distribuyen, es difícil que llegan a tener un gran impacto a nivel nacional o internacional. 2 | REALIZACIÓN AUDIOVISUAL EN LA UNIVERSIDAD DE MURCIA.Desde 2010 la Unidad de Apoyo Multimedia TvUM ofrece servicios de grabación y streaming de los diferentes actos académicos y actividades docentes bajo demanda, además de otros servicios de producción audiovisual que abarca desde los Objetivos De Aprendizaje, vídeos de corta duración paracomunicar contenidos docentes, hasta la producción de contenidos digitales. La Unidad se encuentra localizada en el Área de las Tecnologías de la Información y las Comunicaciones Aplicadas (ATICA). Cabe destacar que de manera puntual y en determinados proyectos el equipo principal se refuerza con estudiantes en prácticas que además de complementar su formación en artes visuales y producción, se han enriquecido con experiencias en proyectos reales que les permiten crecer en el dominio de software específico, así como de composición de escenas, tanto a nivel de diseño como de ejecución. Entre las últimas producciones realizadas por el equipo cabe destacar en el ámbito documental las producciones Universidad de Murcia. Cien años de publicaciones (1915-2015) (2014), La biblioteca en palabras (2015), Se cumplen 100 años (2015), Pedro Cano – Cuadernos de Viaje (2016) o La Frontera que une. El origen de las tierras de Los Manuel (2019).3 | LA MEMORIA DE LAS MANOSLa memoria de las manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia es un film híbrido de cine documental y cine de animación documental. Su forma fílmica se compone de escenas dramatizadas, entrevistas documentales, material de archivo y animación documental. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 65Las escenas dramatizadas componen el inicio de la obra con las imágenes de los créditos de inicio, el planteamiento de la investigación pedagógica, el arranque de la escena en el colegio entre Enrique y Alba, y las escenas de investigación en el propio trabajo de Alba. Las escenas de introducción –créditos de inicio, clase de Pedro Luis y colegio– tienen una duración de 469 segundos, mientras que las escenas de investigación suman 133 segundos. Por otra parte, la suma entre la escena de proyección en el CEME –escena no guionizada– y los planos del final del trabajo alcanzan los 989 segundos. El material de archivo utilizado en el film suma 434 segundos. Las entrevistas en el documental tienen una presencia de 4028 segundos, repartidas en: asambleas y contrato de trabajo por Pedro Antonio Ríos y María Jesús Fernández con 557 segundos, cálculo vivo por Juan Almagro y Antonio Galvañ con 491 segundos, los talleres por Jesús Corbalán con 588 segundos, el estudio del medio por Paco Bastida con 611 segundos, las monografías por Aniceto López y Paco Bastida con 808 segundos y el texto libre por Juan Mompeán y Benigno Polo con 973 segundos. Figura 1. Gráfica de la composición de la Imagen fílmica en porcentajes en ‘La memoria de las manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia’. Destaca la proporción entre entrevistas y animación documental, con tiene una presencia de 1331’’, es decir, un 24.8% de las entrevistas está ilustrada mediante animación documental. Este porcentaje está repartido entre animación por rotoscopia con 70’’, animación CGI con 105’’, cut-out digital con 205’’, animación mediante motion graphics con 695’’ y animación CGI de apoyo en ilustración con 251’’. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 66Figura 2. Gráfica de la distribución de las técnicas de animación presentes en ‘La memoria de las manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia’. 3.1 Protagonistas y trasfondo“La memoria de las manos” es el relato desde la actualidad de aquellos maestros que llevaron a cabo los principios y técnicas de Freinet en la Región de Murcia. Se establecen tres tiempos en el documental: la revisión desde un tiempo contemporáneo, a través de la investigación de la alumna y el relato de los maestros; las experiencias docentes de entre finales de los setenta y ochenta, cuando los maestros llevan a cabo sus experiencias pedagógicas; y anecdóticamente, la representación de vivencias y motivación de Freinet a través de la rotoscopia de algunas secuencias de la obra de 1949 “L’école buissonnière” de Jean Paul Le Chanois. La obra se construye como homenaje y recuperación de la labor docente de unos docentes que llevaron a cabo la integración de la metodología pedagógica de Freinet en las aulas de algunos colegios públicos de la Región de Murcia. El contenido profílmico se construye a partir de los recuerdos, fotografías y documentos que los maestros comparten con la alumna. Estos relatos construyen de forma complementaria el legado pedagógico de Freinet a través de la presentación de temas y técnicas por los distintos docentes.Enrique Fuster Espinosa se acerca por primera vez a esta metodología en el curso 1979-80, cuando conoce a los maestros de las escuelas de verano a su llegada al Colegio de Vista Alegre a través de Jesús Corbalán. Enrique introduce su testimonio a partir de una aproximación histórica del movimiento con su experiencia docente en el C.E.I.P. Virgen de la Fuensanta de La Alberca donde continúa dando clases en la actualidad. Enrique plantea una bajada en el seguimiento del movimiento en tanto que muchos de los docentes que A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 67seguían esta pedagogía se han jubilado.Figura 3. Fotogramas sobre las fuentes de testimonio que componen la Voz del largometraje ‘La memoria de las manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia’.Pedro Antonio Ríos Martínez y María Jesús Fernández Navarro describen el funcionamiento general de la clase a través de las asambleas de alumnos. Pedro Antonio fue profesor en el colegio público de La Alberca, en el de Balsicas y el de Sangonera La Verde. A través de su relato plantean que, en las asambleas, los alumnos aprenden a colaborar y decidir democráticamente con un trabajo semanal del tutor. Además, Pedro Antonio introduce los contratos de trabajo, unos documentos a través de los que llevaba un seguimiento del trabajo de los alumnos a través de la autogestión y la autoevaluación.Juan Almagro Oruro y Antonio Galvañ Olivares relatan su experiencia en las aulas a través del desarrollo del cálculo vivo y de la aplicación de las matemáticas a la vida diaria. Antonio Galvañ centra su experiencia docente en Yecla, mientras que Juan Almagro adopta estas metodologías de forma más intensa durante experiencia docente en el Colegio Público de La Alberca entre 1970 y 1975. Juan Almagro plantea las ventajas de trabajar el cálculo a través de la pedagogía de Freinet en contraste con la visión de las matemáticas tradicionales, mientras que Antonio Galvañ relata su experiencia con grupos numerosos con niños de varios niveles diferentes y su solución adaptada; los ficheros de cálculo y los ficheros auto-correctivos. Antonio describe cómo a través de pequeñas fichas de dificultad progresiva, los alumnos pueden llevar a cabo un aprendizaje progresivo y auto gestionado con pequeñas direcciones del profesor.Jesús Martínez Corbalán describe el funcionamiento del taller a través de su experiencia en el aula, recuperando pasajes de la vida y principios pedagógicos de Freinet. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 68Jesús desarrolla su actividad docente en Los Garres y Algezares, haciendo un paréntesis en 1983 y 1988 para poner en marcha un programa de compensatoria. Después de 1988 su trayectoria profesional está unida al Colegio de Vista Alegre, al Aula Taller de Los Mateos (Cartagena) y al Colegio Público Narciso Yepes en los últimos años de su actividad docente. Jesús describe el trabajo en taller apoyándose en la expresión libre del niño, en la aplicación multidisciplinar de conocimientos y en la asimilación de la geometría como un proceso natural de representación a través del modelado.Francisco Bastida Martínez entra en contacto con el movimiento Freinet a partir del curso 1972-73, cuando trabaja en el Colegio Público de Palomeras. Francisco describe la investigación del medio con anécdotas de experimentos del estudio de fenómenos naturales y meteorológicos, señalando la importancia del estudio de la vida enel aula y de las salidas al entorno social y ambiental. Destaca la creación de un bosque jardín mediterráneo durante su experiencia docente en el colegio público de Alcantarilla, experiencia de la cual derivaron actividades relacionadas con la observación sistemática, escritura y representación en azulejos de cerámica, el cuidado de plantas, etc.Aniceto López Serrano y Francisco Bastida Martínez plantean sus experiencias en el estudio del medio social e histórico a través de las monografías y de actividades relacionadas como salidas a las instituciones o entrevistas. Este formato de trabajo inicia a los alumnos en el proceso de investigación científica y seguimiento de bibliográficas, aproximándoles a la historia y al legado cultural del entorno en el que viven para después comunicarlo a través de puestas en común, ya fueran por escrito, orales o a través de la tecnología disponible. Destacan la aplicación de ejes cronológicos, mapas conceptuales, y la creación del friso de la historia en el proceso de aprendizaje de la pedagogía sensitiva del aprendizaje de la Historia. Juan Mompeán Pérez y Benigno Polo Costa describen el uso del texto libre y las aplicaciones que llevaron a cabo en sus experiencias docentes. Benigno comienza su carrera docente en Cataluña en 1973 para después establecerse en el Colegio Público de Sangonera La Verde. Juan Mompeán comienza a trabajar en el curso 1972-73 y durante su carrera imparte clase en el colegio La Purísima de Espinardo, en el del Llano del Beal (Cartagena), en el Colegio Público de Corvera y en Los Geraneos de Lanzarote.3.2 El factor de innovación del formato. Diseño de la obraLa necesidad de retratar un hecho que no fue registrado por medios fotográficos o fílmicos estuvo detrás de la creación de The Sinking of Lusitania, realizado por Winsor McCay en 1918. En la obra no hay tanto una búsqueda de objetividad como si de representación de los hechos a través de la construcción dramática del evento. La combinación de hechos históricos y la representación del drama humano crea una representación entre lo objetivo y lo subjetivo, un nexo entre dos géneros aparentemente opuestos; el cine documental y el A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 69cine de animación. La representación creativa de la realidad mediante animación traería como Trade Tattoo de Len Lye (1937), Of Stars and men de John y Faith Hubley (1964), Victory Through Air Power de Walt Disney Studios (1943) o War Story de Peter Lord (1989), A Conversation with Haris de Sheila M. Sofian (2002), Ryan de Chris Landreth (2004), Chicago 10 de Brett Morgen (2007), Waltz with Bashir de Ari Folman (2008), Tussilago de Jonas Odell (2010), The Green wave de Ali Samadi Ahadi (2011), 30 años de oscuridad de Manuel H. Martín (2011), Camp 14: Total Zone Control de Marc Wiesse (2012), L’image manquante de Rithy Panh o Blue Pelikan de László Csáki (2014). A través de la cuota de creatividad inherente en el retrato de la realidad en toda obra documental, tal y como defendía John Grierson, este tipo de cine animado se presenta como documental y es recibido por crítica y público como tal, teniendo en cuenta que obras como Conversation with Haris o Pequeñas Voces llegan a ser premiadas incluso como mejores documentales –Mención de honor al mejor cortometraje documental en el Cleveland International Film Festival en 2003 y Mejor película documental en el Festival Internacional de Cine de Cartagena de Indias FICCI en 2011 respectivamente-, aunque tal y como defiende Honess Roe resulta fundamental que traten sobre acontecimientos reales, históricos o contemporáneos, que puedan constatarse. “[…] es sobre el mundo más que sobre un mundo completamente imaginado por su creador, […] se ha presentado como documental por sus productores y/o recibido como un documental por las audiencias, festivales o los críticos” (Honess Roe, 2013).A partir del análisis comparativo de los elementos profílmicos de 52 obras entre cortometrajes y largometrajes de los últimos veinte años de producción cinematográfica, se extrajeron las siguientes características que conformaron la construcción de “La Memoria de las manos” junto a algunos de los ingredientes de imagen y sonido establecidos por Rabiger (2010) para la construcción del cine documental tales como acciones secuenciadas, diálogo natural, entrevistas o materiales de apoyo entre otros ingredientes. Las características que definen la construcción de “La Memoria de las manos” radica en la aplicación de los grados de representación fílmica presente en el análisis comparativo de la tesis y que se derivan de las clasificaciones del cineasta Carl Platinga sobre la finalidad del relato documental. De este modo en la narración encontramos: la Voz de Primer Grado con el testimonio directo del protagonista del relato, Voz de Segundo Grado con el testimonio a partir de un documento fuente o testimonios directos de personas conocedoras o informadas sobre el relato, mientras que la Voz de Tercer Grado se compondría del relato guionizado a partir de memorias, entrevistas a conocidos o investigaciones históricas o antropológica. En paralelo, la narración visual puede construirse mediante Imagen de Primer Grado con el testimonio gráfico producido por el referente o protagonista, Imagen de Segundo Grado con animación creada a partir del testimonio oral y/o escrito y de los elementos A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 70pro fílmicos documentados o mediante Imagen de Tercer Grado con representaciones inspiradas con libertad creativa en los referentes profílmicos y testimoniales.En “La Memoria de las manos” se encuentran los siguientes grados de representación fílmica:I. Voz Primer Grado. Con los testimonios directos de los maestros Enrique Fuster Espinosa, Pedro Antonio Ríos Martínez, María Jesús Fernández Navarro, Juan Almagro Ortuño, Antonio Galvañ Olivares, Jesús Martínez Corbalán, Francisco Bastida Martínez, Aniceto López Serrano, Juan Mompeán Pérez y Benigno Polo Costa.II. Voz Segundo Grado. En la escena de Jesús Martínez Corbalán cuando relata el descubrimiento de la imprenta y de cómo Célestin Freinet encauzaba la nueva metodología sus clases.III. Voz Tercer Grado. Textos sobre Freinet que aparecen incorporados en el guión que Alba lee como voz en off entre las escenas.En la narración visual de “La Memoria de las manos” aparecen cinco técnicas de animación presentes también en las obras que se analizan en la investigación previa a la producción del documental, como rotoscopia (Grasshopper de Bob Sabiston, McLaren’s Negative de Marie Joseé Saint Pierre, Never Like The First Time! de Jonas Odell), animación CGI 3D (Ryan de Chris Landreth, Chicago 10 de Brett Morgen y Pequeñas voces de O. Andrade y J. E. Carillo), cut-out digital (The Green Wave de Ali Samadi Ahadi, 30 años de oscuridad de Manuel H. Martin, Crulic: The Path to Beyond de Anca Damian), motion graphics (Tussilago de Jonas Odell, Los hijos del Ayllu de Natalia Pérez y Mario Torrecillas, María y yo de Félix Fernández de Castro,) y CGI básico de desplazamiento y/o zoom (The Kid Stays in the Picture de Nanette Burstein y Brett Morgen, Proteus: A Nineteenth Century Vision de David Lebrun, In the Realms of the Unreal de Jessica Yu).Imagen Primer Grado. Se presentan los documentos de forma directa, con pequeñas animaciones de construcción o en un contexto de animación que complementa el documento.Imagen Segundo Grado. La secuencia del Friso de la Historia está diseñada y animada mediante animación CGI 3D a partir de las referencias documentales, fotográficas - diapositivas, que aporta Paco Bastida sobre su experiencia. Otros ejemplos son las secuencias del “Visita a la fábrica Hero” u “Observación nocturna con alumnos”.Imagen Tercer Grado. “Aproximación al mural” es una animación CGI 3D que parte del relato del mural de yo propongo, yo critico y yofelicito. En este caso se interpreta la representación a partir de las posibilidades de la narración. Otros ejemplos son “clase en ‘U’”, “Rincón de la Naturaleza” o “Madre e hijo caminando”.El valor añadido de lo simbólico en la animación permite conectar de una forma especial con el espectador en tanto que facilita establecer la identificación con protagonistas animados que personas reales, alejando a éste de ideas preconcebidas y prejuicios y A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 71aprovechando al máximo el potencial de la imagen como símbolo o metáfora. De este modo los grados en narración o imagen tienen un potencial mayor en dos sentidos; tanto en cercanía con la fuente narrativa como en intensidad en el relato. A propósito del potencial de la representación animada de los hechos reales, Sheila Sofian defiende su uso por el potencial de las metáforas visuales y la capacidad de atracción de la propia animación sobre la imagen real.“[Los espectadores] juzgan la acción en vivo en función de cómo perciben a las personas que ven en la pantalla; mientras que admiten que pueden empatizar más con voces en una pieza de animación. Así que eso es muy poderoso. Como artista, la animación también me da la posibilidad de tener metáforas visuales y una serie de herramientas que lo hacen más irresistible” (Sofian, 2015)Figura 4. Fotogramas representativos de los tres tiempos fílmicos que componen el largometraje ‘La memoria de las manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia’. 3.3 Trayectoria: estreno, proyecciones y premiosEl ‘teaser’ de La Memoria de las Manos tiene una duración de 4’ 54’’ segundos. Este tráiler extendido fue estrenado en La Noche Europea de l@s investigador@s, en el stand de la Facultad de Bellas Artes el 25 de septiembre de 2015.El estreno público de La memoria de las manos se celebra en la Filmoteca Regional Francisco Rabal de Murcia el 29 de noviembre de 2015, como último acto cultural de la X Semana de Educación: “Viajeros Educativos. La Dimensión Internacional de la Educación” de la Facultad de Educación de la Universidad de Murcia, que se celebra del 23 al 29 de noviembre de 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 72De entre las noticias en los medios de comunicación destacan especialmente; la aparición en la base de datos de cine Internet Movie Data Base (IMDb), las noticias sobre el estreno llegan a periódicos con La Información, El Economista, 20minutos, ABC, La Verdad o La Opinión. Del mismo destacan los reportajes publicados en La Opinión “Los Ecos del legado de Freinet en un Film”, el reportaje de la Revista Campus Digital “La Memoria de las Manos, el documental de la UMU que triunfa en Hollywood”, así como las entrevistas a al director en El diario o La Verdad.Entre las actuaciones y proyecciones de La Memoria de las manos, destaca su participación en las Jornadas “Una Educación para el Siglo XXI. Miradas desde las Ciencias y las Artes” con las proyecciones en el Auditorio Municipal de Yecla, en el Teatro-Cine Capítol de Cieza, en la Filmoteca Regional Francisco Rabal de Murcia, en la Facultad de Educación de la Universidad de Murcia y en el Centro Cultural Ramón Alonso Luzzy de Cartagena. Cabe destacar la proyección del documental en el IV Seminario Pedagógico “El legado pedagógico de Célestin Freinet. Pasado y actualidad” que se celebra en la Sala de Conferencias de la Facultad de Educación de la Universidad Complutense de Madrid y la proyección en el marco del 43º Congreso del Movimiento Cooperativo de Escuela Popular (MCEP) con el lema “Cuando tomamos la palabra, cambiamos el mundo”, en el salón de actos del Albergue Inturjoven de Almería. Del mismo modo se proyecta el documental en el ciclo “El Cine como Herramienta de Aprendizaje y Reflexión” en ISEN Centro Universitario de Cartagena.Puede consultar la ficha técnica en los portales de bases de cine de Filmaffinity (2016) e Internet Movie Data Base (IMDb, 2016). El proyecto consigue llegar a selecciones oficiales de festivales internacionales como Mica Film Festival (Brasil), TMFF – The Monthly Film Festival y London International World Film Festival (Reino Unido), Miami Independent Film Festival (EEUU), Largo Film Awards (Suiza), Near Nazaret Festival (Israel) o FanBoy Film Festival (EEUU). El documental ha obtenido hasta la fecha seis premios internacionales: I. 2º Mejor Documental del Mes, 12 Months Film Festival. Rumanía. (Noviembre, 2015).II. Mejor Largometraje documental, Hollywood International Independent Documentary Awards. EEUU (Diciembre, 2015).III. Largometraje Extranjero (Mención de Honor). Hollywood International Moving Pictures Film Festival, EEUU (Enero, 2016).IV. Mejor Largometraje Documental Extranjero. Los Angeles Independent Film Festival Awards, EEUU (Enero, 2016)V. Premio al mérito. The IndieFEST Film Awards, EEUU (Mayo, 2016).VI. Mejor Película Educativa. Hollywood Boulevard Film Festival, EEUU (Julio, 2016).VII. Premio Manuel Bartolomé Cossío 2016. Sociedad Española para el Estudio del A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 73Patrimonio Histórico Educativo (S.E.P.H.E.).VIII. Premio de plata. Competición Cine Documental. California Film Awards (Enero, 2017).IX. Best Educational Film. MovieScreenPro Film Festival (Marzo, 2017).CONCLUSIONES La Memoria de las Manos cumple sus objetivos principales al constituirse como un documental científico fruto de la colaboración interdisciplinar entre el CEME, en Historia de la Pedagogía, y la tesis doctoral en animación documental (Burgos, 2015) comprendida en Bellas Artes, ambas en el ámbito científico de las Humanidades. A su vez registra, conserva y difunde las experiencias docentes que dan forma al documental, logrando un impacto a nivel internacional a través de las diversas selecciones y premios. La obra es un documento inspirador para docentes, pero también para los alumnos de hoy que mañana serán los futuros maestros y maestras de los centros educativos, como ha demostrado su inclusión en tres jornadas pedagógicas en menos de un año y sin que la obra se hubiese publicado o distribuido.La representación profílmica en La Memoria de las Manos se ha diseñado como experimento de construcción y ejemplo de los seis grados característicos de la animación documental (3 grados de Voz, 3 grados de Imagen) por lo que presenta una meticulosa construcción del discurso fílmico a través de la síntesis y el respeto a las fuentes pro fílmicas con el objetivo de presentar una forma alternativa de enseñanza en las aulas que se llevó a cabo desde finales de los 70 hasta comienzos de los 90 en la Región de Murcia. El documental plasma las diferentes categorías de subjetividad representada que se han propuesto en el desarrollo de la investigación sobre la forma fílmica que define La Memoria de las manos, planteando los recuerdos personales en la escena de proyección de materiales de archivo en el CEME, el pensamiento y obra conjuntamente con las experiencias en su contexto como características del cuerpo central de este proyecto. El potencial de la hibridación de los géneros documental y animación documental es producto de un nuevo cine más humanista y personal, que se focaliza en el potencial poético de la forma fílmica del relato documental para dinamizarlo. En este sentido resulta fundamental su unión con la animación documental, la forma de cine de animación de no ficción que ofrece la representación del relato vivencial.Por estas razones La Memoria de las Manos es un ejemplo de consecución de conocimiento e interpretación histórica, porque no sólo recupera y conserva, sino que construye un relato de validez en el marco de una educación contemporánea a través de la investigación de una estudiante universitaria. La Memoria de las manos es una aportación al patrimonio educativo y cultural que ofrece conocimiento y pone envalor tanto unas experiencias pedagógicas por recuperar A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 6 74como un género por explotar, que se entiende como evolución natural del cine como arte, negocio y espectáculo. La construcción del documental y las investigaciones que lo sustentan no pueden entenderse como una propuesta categórica y definitiva, ni en el fondo ni en la forma. Es una aproximación desde la observación y la experimentación para la conservación de unas experiencias y conocimientos que corren el riesgo de olvidarse y por tanto perderse, logrando un relato que pone de manifiesto el valor y proyección de la profesión del maestro y la maestra de escuela.La producción del documental ha alcanzado los objetivos marcados constituyendo un balance muy positivo para la propia institución. Para la historia queda la presencia de la Universidad de Murcia en la Gala de Premios del Hollywood International Independent Documentary Awards (2015), siendo una de las tres universidades con un proyecto premiado junto a la Universidad de Montreal y la Universidad del Sur de California.REFERENCIASBargel, L. (2001) Concepts theóriques pour le développement d’un instrument d’enquête d’étudiants. Groupe de travail chargé de recherches sur les universités. Université de Constance.Barnett, Ronald. (2000) Supercomplexity and the Curriculum. Studies in Higher Education, 25 (3), pp. 255-265. DOI: 10.1080/713696156.Burgos Risco, Alfonso. (2015) Ficciones constructoras de realidad. El cine de animación documental (Tesis doctoral, Universidad de Murcia). Recuperado de http://hdl.handle.net/10803/336682.CEME. (2016). Largometraje de cine documental: La Memoria de las Manos. Ecos del legado pedagógico de C. Freinet en Murcia. Recuperado de: http://www.um.es/web/ceme/-/trailer-de-la-pelicula-la-memoria-de-las-manos-ecos-del-legado-pedagogico-de-c-freinet-en-murcia.Filmaffinity. (2016) La Memoria de las Manos. Ecos del legado de C. Freinet en Murcia. Recuperado de: http://www.filmaffinity.com/es/film898964.html.Honess Roe, A. (2013). Animated Documentary. Londres: Palgrave Macmillan.IMDb. (2016). The Memory of the Hands. Echoes of C. Freinet’s pedagogic legacy in Murcia. Recuperado de: http://www.imdb.com/title/tt5205324/?ref_=rvi_tt.Morales Gómez, Ana. (2010) Educar a través del cine. Innovación y experiencias educativas, 28. Recuperado de http://www.csi-csif.es/andalucia/modules/mod_ense/revista/pdf/Numero_28/ANA_MORALES_GOMEZ_01.pdf.Rabiger, Michael. (2007). Tratado de Dirección de Documentales. Madrid: Omega.Sofian, Sheila M. (2015, Julio 13). The Animation Documentarist: Q&A with Sheila Sofian, Women in Animation, Multimedia & Gaming. Animation Career Review. Recuperado de http://www.animationcareerreview.com/articles/animation-documentarist-qa-sheila-sofian-women-animation-multimedia-gamingTroiano, H., Elias, M., & Amengual, A. (2006) Las misiones de la Universidad y su influencia en las prácticas docentes. Revista de Investigación Educativa, 24 (2), pp. 595-613. Recuperado de http://revistas.um.es/rie/article/view/97211/93341 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 75Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 7 AS CONTRIBUIÇÕES DE GERD BAUMANN (2010) PARA O DEBATE MULTICULTURALISTAData da submissão: 20/10/2021João Renato de Souza Coelho BenazziUniversidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Relações Públicas, Faculdade Comunicação SocialPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de AdministraçãoRio de Janeiro, RJhttp://lattes.cnpq.br/7122230765885769RESUMO: Baumann (2010) se preocupa principalmente com o debate e a articulação da identidade cultural e as dimensões do poder político do estado nacional, da religião e da etnicidade na produção de discursos de identidade “para fora” do eu, no campo social, portanto. Esse ensaio teórico condensa suas principais contribuições e os diálogos que sua perspectiva estabelece com outros autores, em especial Gutierrez (2009) e a linha de debates dos estudos culturais. PALAVRAS-CHAVE: Identidade cultural; Multiculturalismo; Religião; Etnicidade; Comunicação.GERD BAUMANN’S (2010) CONTRIBUTIONS TO THE MULTICULTURALIST DEBATEABSTRACT: Baumann (2010) is mainly concerned with the debate and articulation of cultural identity and the dimensions of political power of the national state, religion and ethnicity in the production of identity discourses “outside” of the self, in the social field, therefore. This theoretical essay condenses his main contributions and the dialogues his perspective establishes with other authors, in particular Gutierrez (2009) and the debates in cultural studies.KEYWORDS: Cultural identity; Muticulturalism; Religion; Etnicity; Communication.1 | INTRODUÇÃOO objetivo de Gerd Baumann (2010) é debater a questão do multiculturalismo a partir de três pontos distintos que geram as diferenças nas sociedades multiculturais ocidentais: direitos (e identidades) nacionais, étnicos e religiosos. Estes três pontos de apoio são três componentes das identidades que convergem e ao mesmo tempo se originam para e de um ponto central, a cultura, dimensão que os articula e dá sentido. As dimensões nacional, étnica e religiosa são os polos que produzem diferença. Mas em sua análise os direitos humanos não se traduzem nos três direitos citados acima, pois um é baseado nos direitos civis, individualistas, mas legais, o segundo trata da identidade étnico-cultural e o terceiro trata da igualdade religiosa. Sendo assim, temos três conceitos diferentes de tipos de igualdade (p. 20).Para Baumann, os multiculturalistas podem lutar por estes três tipos de direitos, mas alerta que tais direitos possuem peculiaridades A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 76quanto ao que é efetivamente reclamado e a como a igualdade é entendida e buscada. Os movimentos de direitos civis – que derivam da identidade nacional – excluem estrangeiros, movimentos de direitos étnicos excluem os não idealmente alinhados a uma etnia determinada e movimentos de direitos religiosos excluem os que não professam aquela religião específica ou os não crentes. Assim, a opção pela preponderância de um dos três parece obrigatória, posto que sua coexistência não parece possível sem conflito. A opção seriam os chamados direitos humanos, mas esta vertente se mostrou infrutífera, já que no multiculturalismo “as diferenças são cruciais e combiná-las não ajuda em nada” (p. 28). Os direitos efetivos são os que são os mesmos para todos, que qualquer um pode reclamar. Ele propõe o triângulo multicultural, em que a cultura serve tanto de ponto de confluência como ponto de diferenciação dos três tipos de direitos e identidades a civil, a étnica e a religiosa. Para construir o triângulo multicultural Baumann aponta a reificação das identidades, ou seja, sua retirada de seu contexto complexo e sua simplificação para dar-lhes caráter essencializado. Para ele no primeiro vértice repousa o Estado-nação, e “o estado nação é um amálgama peculiar de filosofias aparentemente irreconciliáveis: o racionalismo – a busca de um propósito e uma eficácia – e o romanticismo – a busca de sentimentos como base para toda ação” (p. 32). A primeira, com sua visão de propósito e eficácia, contrapõe-se à busca de uma explicação no sentimentalismo para todas as ações. Partindo da premissa de que a etnicidade significa a identidade cultural de um indivíduo, a identidade étnica, segundo vértice do triângulo multicultural, constitui uma vantagem na criação de um Estado, pois não se faz necessário um “pensamento abstrato” para saber qual é sua identidade cultural. Os valores étnicos representam um conjunto de características comuns a um grupo de pessoas: “de onde eu venho, o que me faz ser o que eu sou”, o meu papel dentro da sociedade em que vivo, “em uma palavra, a identidade natural” deum ser humano (p. 33). Este conceito simples representa um desafio ao sonho multicultural. A ideia de etnicidade remete à ascendência de sangue, de base biológica. De acordo com Baumann, essa racionalidade é passível de aplicação para a criação de animais, mas não para seres humanos (p. 34). Pode-se analisar que a etnicidade engloba o modelo de comportamento do indivíduo diante de sua própria cultura. Baumann traz o exemplo de dois gêmeos que possuem a mesma ascendência de sangue, mas são as decisões e as experiências individuais que os farão identificar-se com sua cultura ou culturas. Levanta-se um questionamento importante para esta análise: a percepção e a vontade são limitadas pela cultura ou, inversamente, é a cultura limitada pelas decisões e afiliações? Os valores étnicos não constituem uma identidade determinada pela natureza, pela biologia ou pelos laços hereditários, mas sim uma identificação criada pelo e no engajamento cultural e simbólico (p. 35-36). O terceiro elemento na tríade multicultural é a religião. Esta pode ser entendida como absoluta, como se houvesse definido objetivos e diferenças imutáveis entre as pessoas ao longo do tempo. A religião pode ser entendida como estanque e imutável, como um universo A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 77apartado da vontade e da história humanas, fundamentada unicamente pela mesma fé (p. 36). Como a religião tem caráter absoluto, ela acaba se transformando em outros tipos de conflitos. A religião traduz-se e confunde-se com valores étnicos, nacionais e migratórios (p. 38), principalmente porque a ruptura entre o Estado e a Igreja é uma herança histórica ocidental moderna proveniente da Reforma. Para Baumann a religião opera como cultura. Pode-se dizer que uma pessoa é culturalmente católica mesmo quando ela não acredita em nenhum deus, mas teve uma origem familiar católica. No triângulo multicultural pode-se observar no centro o poder aglutinador da cultura. No debate sobre a fundação de uma nação, o que está em jogo é a etnicidade e as divergências religiosas que remetem à ideia de cultura e indicam os oponentes/participantes presentes no debate multicultural. Esses oponentes são os “defensores da construção de culturas nacionais, os protagonistas das culturas étnicas e os que consideram a religião como um tipo de cultura” (p. 39).Baumann expõe dois conceitos de cultura inseridos nas ciências sociais com o objetivo de simplificar o debate multicultural. O primeiro é um conceito essencialista, idealizado por Herder e aperfeiçoado por Boas (apud BAUMANN, 2010), no qual a cultura é vista como herança coletiva de um grupo, ou seja, um álbum de fotografia de ideias e experiências que compõem a vida e as perspectivas tanto particulares ou próprias quanto grupais ou globais. Isso reduz a cultura a uma influência que conforma e permeia diferentes modos de vida. Apesar de grande importância para a atualidade, esse conceito essencialista é aceitável em alguns pontos, mas insensato em outros. A visão essencialista concebe a cultura como um conjunto de regras e normas hereditárias e estanques que estabelece a diferença entre o bem e o mal de modo análogo a que estabelece a diferença entre o Nós e o Eles (outros). Nesta perspectiva, não se pode refutar que cada grupo cultural apresenta uma falta de flexibilidade quanto às características e preferências, “estilos e hábitos que seus membros aprenderam a cultivar” (p. 40). A cultura é o berço do homem, no sentido de que há um contexto cultural prévio ao nascimento de cada um e no qual somos educados, mas, por outro lado, são os homens e mulheres que criam e recriam a cultura. A cultura transforma antigos hábitos em novos contextos e, assim, redefine seus significados. As pessoas modificam, se adaptam e recriam seus costumes em suas vidas cotidianas. Cada geração recria sua cultura mesmo que a mantenha, já que não mudar é também uma decisão que demanda engajamento e ação. Sendo assim, Baumann afirma que “se a cultura não é o mesmo que a troca cultural, então não é nada em absoluto” (p. 41). O segundo conceito de cultura prioriza uma abordagem processual, em que a cultura não é vista como um molde, mas como mais semelhante a uma peça de improviso. A cultura não permanece inerte e não pode ser copiada sem alterar sua importância, ela está presente “enquanto dura a atuação. Contudo, não se apresenta como verdade, mas como uma das coisas que nossos informantes, ou as pessoas que representamos, creem ou encarnam.” (p. 41). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 782 | IDENTIDADE NACIONAL, RELIGIOSA E ÉTNICAOs Estados-nação modernos surgiram no Ocidente no século XVI e a etnicidade representou um desafio para sua unificação, somente superado pela conversão do Estado “em uma superetnia já que representa uma nova e superior forma de etnia” (p. 45). Ao mesmo tempo, pode-se considerar o Estado-nação como “pós-étnico” pela abstenção do significado das antigas etnias, que são tratadas como superficiais e existentes em um passado distante. “O Estado-nação e a etnicidade possuem uma relação peculiar entre si, devido à herança romântica do conceito de nação.” (p. 41). Esse fenômeno constitui um ponto crítico no debate entre Estado-nação e projeto multicultural. Os alemães, os norte-americanos, os franceses são exemplos de superetnias, que estão presentes em cada Estado-nação. É por isso que, para Baumann, o Estado-nação multicultural como projeto de nação representa uma contradição em seus próprios termos e quando confrontada com seus objetivos de origem. As duas bases conceituais formadoras do Estado-nação ocidental seriam a racionalista e a romântica, sendo a primeira mais presente nos Estados Unidos e a segunda na Europa. Em uma análise histórica da Europa encontra-se, de forma evidente, uma herança romântica tecida em torno de laços sanguíneos, enquanto nos Estados Unidos faz-se presente a ideologia racionalista que nega tais tipos de laços de base hereditária, já que todos os cidadãos seriam culturalmente mestiços. Se considerarmos esta linha de pensamento, “a identidade atual de todos seria a mesma: superetnicamente norte-americanos” (p. 52). Para Baumann isso se deve a dois princípios sucessivos, mas irracionais: a legitimidade do poder e o poder da Igreja. Junto com a nacionalidade surge a cidadania e seus deveres morais para com a comunidade nacional, que passou a ser mais forte do que a fé e tornou-se uma nova forma de religião. Baumann destaca que a nacionalidade é característica que não se pode escolher, salvo por algumas minorias. Assim, ela é atributo que representa a identidade nacional de um individuo e deriva diretamente do nascimento. Assim, a consciência nacional pode ser considerada uma criação artificial que não mantém a suposta relação com determinação identitária que adviria de laços hereditários românticos ou racionalizados, “uma vez que representa um artifício engenhoso da imaginação humana e social” (p.57). A versão romântica do Estado-nação “seria uma comunidade com fundamentos étnicos em sua história, postétnica em seus direitos civis e em seus níveis de direitos materiais e superétnica como meio de justificar sua existência como nação” (p. 57). O conceito de nação superétnica pretende tornar transparentes características místicas e religiosas, além de enredar questões de discriminação.Para detalhar o debate sobre o vértice religioso dentro do multiculturalismo, Baumann destaca que as elites do Estado-nação utilizam-se do discurso racionalista para conter os cidadãos, mas quando esse artifício não funciona, elas recorrem a algo supostamente mais nobre como a religião, já que os Estados-nação em sua existência secular não deixam de A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 79incluir o sentimento comunitário religioso.Anderson e Bellah (apud BAUMANN, 2010, p. 63) veem o Estado como um projeto secularCAPÍTULO 6 ...............................................................................................................59APRENDIZAJE E INVESTIGACIÓN. LAS SINERGIAS DETRÁS DE LA PRIMERA PRODUCCIÓN DOCUMENTAL DE LA UNIVERSIDAD DE MURCIA PREMIADA EN HOLLYWOOD Alfonso Burgos Risco https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120126CAPÍTULO 7 ...............................................................................................................75AS CONTRIBUIÇÕES DE GERD BAUMANN (2010) PARA O DEBATE MULTICULTURALISTA João Renato de Souza Coelho Benazzi https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120127SUMÁRIOCAPÍTULO 8 ...............................................................................................................89LITERACIA EM SAÚDE E LITERACIA DE MÍDIA: UM OLHAR SOBRE OS CONCEITOS E AS PRÁTICASAdinan Nogueira Letícia Magalhães Pereira Maria Izabel Ferezin Sares https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120128CAPÍTULO 9 ...............................................................................................................95MANIFESTACIÓN EN REDES SOCIALES DE JÓVENES COSPLAYERS EN EL JUEGO DE “SER OTRA”, EL CROSSPLAY MASCULINO (M&F)María de la Luz Nalleli Martínez HernándezSandra Flores Guevara https://doi.org/10.22533/at.ed.4102120129CAPÍTULO 10 ...........................................................................................................106MODELO DE NEGÓCIO E GESTÃO PARA UM AMBIENTE VIRTUAL DE NOTÍCIAS COLABORATIVO (AVNC)Daniele Fernandes Rodrigues Luiz Renato de Souza JustinianoCarlos Henrique Medeiros de Souza https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201210CAPÍTULO 11 ...........................................................................................................122ACESSO E CONSUMO DE NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS EM REDES SOCIAIS: NOTAS METODOLÓGICAS PARA A PROBLEMATIZAÇÃO DA NOÇÃO DE “PARTICIPAÇÃO”Telma Sueli Pinto JohnsonPedro Augusto Farnese de Lima https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201211CAPÍTULO 12 ...........................................................................................................135IMPLEMENTAÇÃO DE SEIS SIGMA EM UMA PADARIA NO MÉXICOBrenda Carolina Pérez MillánErasto Vergara Hernández https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201212CAPÍTULO 13 ...........................................................................................................143A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO JORNAL CEARENSE O POVOFrancielle Souza NonatoIsabella Vieira SantosPedro Gabriel Barreto Ramos https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201213CAPÍTULO 14 ...........................................................................................................155MULHERES: ALVOS DA SOCIEDADECaio Vitor Silva da Costa SUMÁRIONathalia Rank de FreitasAmarinildo Osório de SouzaMaria Lúcia Tinoco Pacheco https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201214CAPÍTULO 15 ...........................................................................................................163JOGO DE CHANTAGENS: REFLEXÃO SOBRE O CAMPO POLÍTICO BRASILEIRO E AS NOVAS FORMAS DE DISSUASÃO POLÍTICA A PARTIR DA CIBERCULTURADeusiney Robson de Araújo Farias https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201215CAPÍTULO 16 ...........................................................................................................173ZYL – 3 RÁDIO CLUBE DE GARÇALuciana AntunesAndréa Pereira https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201216CAPÍTULO 17 ...........................................................................................................183DIREITO À INFORMAÇÃO OU À INTIMIDADE: A PALAVRA FINAL COM A JUSTIÇASílvio Henrique Vieira Barbosa https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201217CAPÍTULO 18 ...........................................................................................................193WEBDOC: A NARRATIVA INTERATIVA DO DOCUMENTÁRIO Sílvio Henrique Vieira Barbosa https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201218CAPÍTULO 19 ...........................................................................................................205DOCUGAME: A GAMIFICAÇÃO DO WEBDOC VALE DO RIO DE LAMASílvio Henrique Vieira BarbosaJoão Carlos Massarolo https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201219CAPÍTULO 20 ...........................................................................................................216MDOOH E O IMPACTO NO PÚBLICO NAS RELAÇÕES DE INTERAÇÃO, CONTEÚDO E AUDIÊNCIALeandro RolimFélix Ortega https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201220CAPÍTULO 21 ...........................................................................................................227ANÁLISE DE COMENTÁRIOS DAS PLATAFORMAS ONLINE DE RESTAURANTES MICHELIN NO BRASILTiago Eugenio de Melo https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201221SUMÁRIOCAPÍTULO 22 ...........................................................................................................239UMA HISTÓRIA CULTURAL DA PUBLICIDADE: PRIMEIROS MOVIMENTOS DO CAMPO NO BRASILBruna AucarEverardo Rocha https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201222CAPÍTULO 23 ...........................................................................................................252GRAVIDEZ FITNESS E DISCURSOS CONTEMPORÂNEOS SOBRE A BOA FORMAFabíola CalazansAngélica Fonsêca de Freitas https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201223CAPÍTULO 24 ...........................................................................................................270PRÉ-HISTÓRIA DO CD E DA DIGITALIZAÇÃO E DESMATERIALIZAÇÃO DO ÁUDIO NAS PÁGINAS DA REVISTA SOMTRÊSLuis Fernando Rabello Borges https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201224CAPÍTULO 25 ...........................................................................................................283HUMANO OU INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL? AUTORIA DE NOTÍCIAS SÃO QUESTIONADAS EM QUIZZES RELACIONADOS AOS CONCEITOS DE AGÊNCIA PESSOAL E INTERAÇÃOLuciane Maria FadelMaria José BaldessarRegina Zandomênico https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201225CAPÍTULO 26 ...........................................................................................................295REALIDADE VIRTUAL E REALIDADE AUMENTADA: INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NO CAMPO DA MÚSICADenise Mendes de Souza GonçalvesMarco José de Souza Almeida Ezidras Farinazzo Lacerda Filho https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201226CAPÍTULO 27 ...........................................................................................................306STORYTELLING HIPERCONECTADO: INTERNET DAS COISAS E NARRATIVA TRANSMÍDIAAdinan Nogueira Letícia Magalhães Pereira Maria Izabel Ferezin Sares https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201227SUMÁRIOCAPÍTULO 28 ...........................................................................................................315A LITERATURA EM CAMPANHA PELA PUBLICIDADE Marina Aparecida Espinosa Negri https://doi.org/10.22533/at.ed.41021201228SOBRE O ORGANIZADOR .....................................................................................328ÍNDICE REMISSIVO .................................................................................................329 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 1Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 1 A “ECONOMIA DA SAUDADE” E O ENCONTRO DE GERAÇÕES NA REDE DIGITAL FACEBOOK: ANÁLISE DA FANPAGE “CAMPINAS DE ANTIGAMENTE”Marcelo Toledo Andriotti Jornalista. Mestrando em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC-CampinasMarcelo Pereira da SilvaPós-Doutor em Comunicação, docente permanente do Mestrado em Linguagens, Mídia e Arte e do curso de Relações Públicas da PUC-CampinasRESUMO: Este artigo analisa comentários de internautas na Fan-page “Campinas de Antigamente”, na rede digital Facebook, no contexto em que as redes ampliaram a atração de um público adulto e da chamada terceira idade, alavancando a audiência de Fanpages que se propõem a reunir fotografias e vídeos de diferentes épocas de Campinas,com o propósito de suprir as necessidades materiais e nada mais. A nação de cada Estado é construída como uma comunidade imaginária, como se fosse uma enorme superetnia supremamente moral, e o Estado-nação depende de uma rede de valores, lugares e épocas simbólicas que não passam de uma espécie de religião.Assim, faz-se necessário enxergar o Estado como um solo neutro para que se tenha um projeto multicultural futuro, uma vez que o Estado apresenta diferentes etnias e religiões. Esta realidade transcende a noção de religião civil que representa os sentimentos de fundo quase religioso que permeiam a noção de pertencimento nacional. Esse conceito surge para justificar a união das diferenças étnicas e religiosas existentes dentro do Estado-nação, com o intuito de formar um povo. Assim, “os Estados-nação criaram suas próprias culturas civis e religiões civis que delineiam uma linha de pensamento, a qual deve ser seguida” (p. 64). Por este prisma de análise, os Estados Unidos, onde Bellah concentrou seus estudos, cultivam a liberdade de seus cidadãos para perseguir o sucesso como cultura e religião civis. A herança romântica do Estado traz o conflito entre as ideologias do Estado-Nação e a etnicidade, enquanto a herança racionalista opõe o Estado-Nação à religião. O efeito disso é que quanto mais se tenha que justificar a concentração de poder e riqueza sem precedentes do Estado moderno, mais se tem que separar a religião do Estado, num processo de secularização em que se separa a religião da esfera pública, colocando-a como pertencendo unicamente à esfera privada de cada cidadão. Contrapondo com a realidade, os [...] Estados modernos podem ser considerados secularistas, mas estão longe de serem chamados de seculares. Eles são seculares porque fizeram a separação entre igreja e o Estado, mas se apressaram para tentar preencher o vazio com suas próprias ideias religiosas sobre nação e o indivíduo (BAUMANN, 2010, p. 73). Ao fazer isso, colocaram, de certa maneira, a religião de volta ao contexto político. Cabe ao Estado-nação criar uma rede de valores que serão compartilhados pelos cidadãos que tomarão esses valores como seus, formando uma identidade moral nacional. Se, por exemplo, mobilizando essa identidade moral, os cidadãos optam por colocar suas vidas em risco pelo bem do Estado, constata-se que a substituição da religião pelo nacionalismo se completou. Na sequência, Baumann centra o detalhamento de sua análise na etnicidade, dentro do esforço de exame do triângulo multicultural. O esforço de classificação e conceituação do que é etnicidade se estendeu lentamente pelos conhecimentos do campo das ciências sociais e hoje predomina o conceito de etnicidade como uma característica pessoal adquirida por nascimento. A problemática da etnicidade traz complicações em locais que A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 80não apresentam uma maleabilidade social. “Vivemos em um apartheid de etnicidade como se, no dia da Criação, algum deus criou cada indivíduo com a sua própria cultura.” (p. 82). Supostamente, o Estado-nação deveria lidar com a questão étnica por meio da formação de um sentimento de cidadania igualitária, mas, na realidade, o que se encontra dentro dos Estados-nação é uma divisão étnica alimentando a discriminação e o preconceito. Sendo assim, “a desigualdade e o comportamento formam as particularidades étnicas, pondo a cultura como uma variável independente dentro do triangulo multicultural” (p 82). Na tentativa de se conter a discriminação étnica deve-se ponderar as possíveis ações aplicadas. Por um lado, pode-se fazer uma mobilização étnica, mas isso pode ser interpretado como um ato de discriminação frente a outras etnias e, ao invés de se lutar contra a discriminação, acaba-se por alimentá-la. Por outro lado, apenas o debate acerca dos critérios e conceitos sobre etnia não é suficiente para justificar uma suposta igualdade entre as etnias. Assim, a questão que se destaca, nas palavras do próprio Baumann, seria: “O multiculturalismo significa a liberdade das culturas, ou significa a liberdade de ter uma cultura?” (p. 84).O erro de reificação, neste contexto, assombra tanto os racistas quanto os multiculturalistas, quando assume uma pessoa como um objeto científico social. “A reificação é a compreensão dos produtos da atividade humana como se fossem algo mais que produtos humanos, tais como produtos da natureza.” (BERGER; LUCKMANN, 1967, p. 106 apud BAUMANN, 2010 p. 84). Aqui os agentes da transformação etnopolítica pretendem que a biologia e a herança genética sejam os determinantes de construções sociais tais como língua, identidade, cultura e defendem um discurso de sua purificação em que esta etnicidade se afirma por diferenças culturais a partir das diferenças biológicas (p. 88). Vale ressaltar, ainda, que esta construção de unidade etnopolítica não é mais natural, biológica ou tolerante do que a unidade nacional. O caráter essencial atribuído à etnicidade também se aplica à religião. Na etnicidade há foco no debate sobre hereditariedade em vez de flexibilidade social, enquanto na religião há o privilégio de uma questão de fé em textos sagrados imutáveis que tomam lugar de crenças, que se transformam porque são próprias de pessoas vivas e mutáveis, demonstrando assim o caráter essencialista do Estado, etnia e religião. Assim como o essencialismo está presente na etnicidade e na religião, o mesmo processo de reificação também afeta a religião, para criar a noção de que esta é a única coisa imutável dentre os componentes no debate multicultural. Tal visão reificada da religião favorece os interesses dos dirigentes religiosos que exercem controle sobre seu rebanho de fiéis e podem, por exemplo, realizar manobras para conter as mudanças sociais indesejáveis ou ampliar seu poder político e eleitoral. A religião essencializada pela visão reificada alega ser um porto seguro imutável e firme em meio à conturbada vida urbana (p. 93). Baumann (2010) toma como exemplo a religião muçulmana, em que há visão coincidente tanto de críticos quanto de representantes da comunidade de que toda comunidade muçulmana, não importando o país em que vive, é perigosa. Esse discurso A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 81trata toda uma ampla gama de variações culturais como tábula rasa e unifica artificialmente a percepção de que todos os muçulmanos pensam e se comportam do mesmo jeito. Essa postura retroalimenta a visão dos críticos. Essa miopia gera [...] uma visão cultural da religião misturada com uma visão tribal da cultura, formando um Islã imaginário que recai sobre os muçulmanos, especialmente sobre aqueles que não estão envolvidos no conflito. Trata-se de uma caricatura essencialista em que os valores hindus e muçulmanos foram caricaturados como sistemas reificados, fora do contexto em que estão inseridos (p. 95-96). Dois contextos religiosos bastante distintos podem ser analisados: um de comunidade homogênea e outro de metrópole contemporânea. A primeira se refere à natureza do Islã em seus locais de origem como uma comunidade que compartilha as mesmas crenças e costumes. Já a segunda destaca a migração dos muçulmanos para o Ocidente, onde eles seguem estas mesmas crenças, mas inseridos em uma comunidade de acolhida diversificada por processo de urbanização. A partir desta migração é que nos deparamos com um conflito com característica inovadora e que tangencia uma variedade de outros conflitos religiosos distintos: a lógica da diferença entre a dinâmica característica de um Estado-nação tipicamente ocidental contemporâneo e a chamada utopia religiosa, da religião vista como algo fixo para todos. Os três processos em sequência ‒ registro, congregacionalização e devolução funcional ‒ acabam trazendo uma nova perspectiva, alterando a visão que os membros têm não apenas sobre sua própria religião como também sobre a dos outros.Assim, fica claro que a perspectiva relacional existente na etnicidade está igualmente presente na religião (p. 104). 3 | A CULTURA COMO PONTO CENTRAL DA IDENTIFICAÇÃOApós abordar de forma mais específica cada um dos vértices do triângulo multicultural, Baumann passa a analisar a cultura como o ponto central – e de diálogo – entre os vértices. Os conflitos do triângulo multicultural discorrem sobre a nacionalidade como cultura, a etnicidade como cultura e a religião como cultura. No entanto, a visão dos três vértices sobre cultura converge para uma dicotomia: se a cultura é entendida como algo que se possui, que é dado a partir de um evento ou determinismo (genes, fé ou local de nascimento compartilhados), ou se é um processo que se molda, se transforma, se constrói à medida que se vive. Bauman destaca que a busca de raízes culturais é um fenômeno eminentemente urbano, já que não traz o “conceito de cultura reativado nesta ultramoderma visão de raízes” e que “a transformação do folclore cultural de um plano rural à nostalgia urbana é um fenômeno próprio da cultura urbana” (p. 107). Entre as duas teorias apresentadas até aqui acerca da identidade e da cultura num contexto multicultural a de base essencialista parece ser a mais promissora como forma de explicar sua gênese. Ela trata as três formas de cultura (nacional, étnica e religiosa) como objetos finais. Esse caráter essencialista apresenta apenas um problema: como predizemos, qualificamos ou A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 82classificamos a opinião daqueles que têm identidade mista ou multidimensional, ou seja, que não se encaixam em uma identidade típica? A visão essencialista da cultura talvez não seja suficiente para explicar ou analisar o futuro multicultural. Nele estaríamos fadados a ser produtos diretos da cultura e a continuamente gerar crianças tais como cópias culturais de nós mesmos. Mas cabe destacar que ambos as teorias recaem no mesmo erro, ao não considerar o fato de que podemos pertencer a mais de uma cultura concomitantemente. Estamos envolvidos em uma cultura nacional, étnica, religiosa e ainda em uma cultura de uma região ou cidade, de uma língua em particular ou associada a uma categoria social e a um estilo de vida ou de pensar como estudantes ou trabalhadores, surfistas ou punks. Nos países ocidentais essas diferenciações culturais não são paralelas e sim entrecruzadas, formando uma rede cultural em que as possibilidades são infinitas. Assim, é importante ter em foco que “o multiculturalismo não consiste em diferenças culturais absolutas porque as identidades cruzadas são onipresentes, inclusive para os essencialistas” (p. 110). Essa flexibilidade em analisar a cultura e a identidade é importante para avaliá-las adequadamente. Na verdade, a concepção essencializada da cultura é útil para torná-la moeda de troca na política multicultural e faz todo o sentido na demanda competitiva entre outras identidades concorrentes. Desse modo, pode-se afirmar que os Estados-nação criaram tribos superiores e desenvolveram religiões civis e culturas cívicas quase religiosas. De forma diversa do discurso e pano inicial em sua criação, os Estados-nação produziram consequências étnicas e religiosas bastante específicas e marcantes. Dentre os possíveis significados para o termo étnico, temos visto a etnicidade como uma construção social que interpreta inadequadamente a diferença relacional e a converte em diferença absoluta e natural. Adicionalmente, já não se pode crer que a religião seja uma bagagem cultural de verdades imutáveis, mas, sim, identificada como uma série de sistemas de guia e navegação que dependem da posição do usuário em seu contexto cultural, em seu tempo histórico e em seu espaço político. Então, pode-se observar a desconstrução das três dimensões essencializadas e fixas da identidade, em especial no contexto multicultural. Mas as duas teorias sobre a cultura e a identidade possuem relação de mútua influência. A essencialista é a mais difundida nos meios de comunicação e nos grupos dedicados à construção da retórica política das minorias, enquanto a processual, embora muito menos popular, é a que pode ser útil para analistas sociais e multiculturalistas engajados. Mas a teoria essencialista aborda o objeto que os cientistas sociais se dedicam a analisar e que os multiculturalistas precisam reconhecer como realidade operante, como fato social. Não se pode nomear uma ideia de falsa ideologia ou falsa consciência apenas porque se identificou, na análise teórico-conceitual, que ela não se sustenta. Cabe reconhecer que tais ideias constituem parte das diversas realidades socialmente construídas “que estudamos e devemos entender como funcionam, o porquê as pessoas as usam e o que se pretende alcançar com elas” (p. 115). É por essa razão que Baumann afirma que a tarefa do analista social não é rebater os objetivos políticos traçados pelas A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 83minorias que professam o discurso essencialista, mas entender as razões pelas quais o fazem e os contextos em que as pessoas usam a teoria essencialista para conseguir suas metas. Deste ponto de vista, a teoria essencialista da cultura é parte do próprio objeto de pesquisa na medida em que caracteriza as realidades construídas que são investigadas e se tenta compreender.Em sua análise subsequente, Baumann destaca a aparente contradição dos que defendem a teoria essencialista da cultura, mas, em suas ações, utilizam a teoria processual. Ele atesta que, a partir da constatação de prática processual, a retórica essencialista é, na verdade, um ato criativo. Quando o líder afirma que a cultura está enraizada em um passado imutável, ele aposta na flexibilidade da cultura para criar a mudança, para sedimentar tal imagem. Ao mesmo tempo que prega uma identidade fundamentada na teoria essencialista, este líder na verdade opera e pratica a teoria processual. As chamadas diferenças culturais ditas ancestrais são, na realidade, ações deliberadas de diferenciação identitária. Assim, as identidades essenciais são identificações processuais, porque criadas em si mesmas. “Toda a posse de cultura é uma criação de cultura, mas toda criação de cultura se expressará como um ato de confirmação de um potencial já existente.” (p. 116). As duas teorias sobre a cultura são, portanto, dois discursos que tratam de e sobre a cultura. Pode-se compreender aqui o termo discurso de dois modos distintos, dentre outros sentidos do termo. O primeiro se atém à análise da linguagem e da consequente ação prática, à compreensão do que se diz e do que se faz a partir das intenções práticas, enquanto o outro sentido se liga à sua conexão com as estruturas de poder em grande escala com que nos deparamos (LUTZ; ABU-LUGHODE, 1990, p. 118). O discurso essencialista sobre a cultura se aplica tanto à construção das identidades das minorias quanto na diferenciação entre minorias, e se aproxima do discurso como análise da linguagem e de suas intenções de ação. Há também o discurso metódico e processual igualmente utilizado pelos líderes da maioria dos grupos minoritários e que é especialmente útil na pesquisa social, cada um com objetivos e utilidades específicos bem delimitados. O essencialista serve à perfeição para a mobilização de afeições e sentimentos de afiliação e a reificação da cultura, objetivo tradicional de líderes e grupos minoritários, meios de comunicação e políticos, dentre outros. O processual cabe para a análise e crítica da cultura como processo dinâmico e contemporâneo e que deseja se afastar dos estereótipos e das abordagens simplistas, descontextualizadas, reificadas e instrumentalizadas do discurso e que dele se aproximam enquanto conectado a estruturas de poder. A cultura, portanto, incorpora os dois tipos de discurso concomitantemente e se configura como uma construção discursiva dupla, que não pode sercompreendida nem pelas metáforas de bagagem imutável nem como resultado de uma mera improvisação sem raízes, códigos ou regras. O discurso sobre a cultura dominante como uma herança imutável só é um subcomponente conservador da verdade processual: toda a cultura que se possui é uma cultura em criação, todas as diferenças culturais são atos A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 84de diferenciação e todas as identidades culturais são atos de identificação cultural”. (p. 120). Embora não pareça adequado ver a cultura como uma entidade ou uma identidade fixada, pode ser útil ao analista considerar essa verdade parcial. Para Baumann, incluir essa natureza duplamente discursiva da cultura pode ser um avanço importante na análise conceitual do enigma multicultural.4 | O MULTICULTURALISMOBaumann se dedica então a analisar de forma mais detalhada o conceito de multiculturalismo para questionar até que ponto as principais teorias sobre o multiculturalismo apenas extraem uma suposta essência dos conceitos de Estado-nação, a identidade étnica, a religião ou a cultura em geral, ou se avançam para além de tais reificações. A questão é entender se tais contribuições teóricas seriam realmente pluralistas sem cair no problema da imprecisão conceitual. Usando o Islã e seu contexto como exemplo, se a única diferença que importa é o fato de se ser mulçumano, independentemente de outras características que se possa ter, parece claro que a racionalização derivada de tal argumento é bastante direta: “o próprio Islã é que necessita uma consciência multicultural” (p. 128). E questiona se um mulçumano não poderia ver e respeitar a si próprio e a outros mulçumanos a partir de pluralismo e diversidade de outras categorias de descrição e análise. Uma teoria de multiculturalismo baseada em perspectiva normativa tão estrita e focada na religião teria grandes dificuldades em debater a respeito dos direitos dos mulçumanos que não praticam a sua religião. Por outro lado, nas abordagens multiculturalistas que destacam o Estado-nação como o centro da análise, encontra-se ou uma visão de pouco sentido crítico ou outra que simplifica a cultura popular à de religião de nascimento, porque vista como consequência automática do lugar de nascimento. É necessário considerar ainda uma terceira reificação de tal grupo de teorias do multiculturalismo, a redução da cultura popular à sua identidade étnica, em que a cultura é entendida como “uma relíquia familiar étnica, ou uma camisa de força com a qual as pessoas nascem” (p. 130).Em comum, estas posturas teóricas mantêm ênfase absolutista e incorrem num grupo de consequências sociais bastante próximas: passa-se a avaliar se os que se denominam muçulmanos estão adequadamente controlados do ponto de vista cultural, ou seja, se são ou estão suficientemente muçulmanos para serem dignos de desfrutar de tal condição. É o controle por dentro do próprio grupo minoritário. A este se acresce o que Baumann nomeia de absolutismo cultural, condensado na pergunta: “és o bastante mulçumano para desfrutar dos direitos dos mulçumanos?” (p. 131). Outra consequência diz respeito ao olhar dos de fora, que também esperam que o bom membro se submeta às regras de sua própria comunidade. Tais demandas de autenticidade e identidade mutuamente exclusivas, especialmente quando estas implicam uma política de diferenciação acentuada, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 85são necessárias para exigir o reconhecimento, mas rejeitam a existência de valor cultural universal. Baumann então busca o auxílio da análise de Taylor (1994), que identificou este dilema de reconhecimento do multiculturalismo, mas sem uma resposta adequada a ele, como assevera o próprio Taylor:[...] deve haver algo intermediário entre a artificial e homogeneizada demanda de um reconhecimento de igualdade de valor para todas as culturas. Existem outras culturas e cada vez mais temos que vivê-las todas juntas, a escala mundial, e unidas em cada sociedade individual (TAYLOR, 1994 apud BAUMANN, 2010, p.136). Assim, volta-se, novamente, ao questionamento central de sustentação da abordagem multiculturalista: o que é a cultura no multiculturalismo? Propõe reconhecer a diversidade cultural, ou seja, o reconhecimento da natureza dialogante de todas as suas identidades, pois reconhecer uma cultura é reconhecê-la como “processo de diálogo com sentido para todos os demais” (p. 146). De acordo com Baumann, Taylor crê que o desejo de alguns quebequenses de exigir pessoas que sejam etnicamente francófonas para ensinar seus filhos ultrapassa os limites do reconhecimento e do diálogo. Tal postura equivale à de todos os que exigem que se organize sua vida ao redor de sua raça ou sexualidade. Conclui que não há uma diferença clara entre política de reconhecimento e a política de coerção. O processo de vigilância que reifica a cultura e de negação ao diálogo e reconhecimento mútuos leva à degeneração e ameaça coagir as culturas de afiliações diferentes. O perigo do multiculturalismo residiria na possibilidade de gerar uma constelação de culturas reificadas que se negam mutuamente o reconhecimento, reforçando em curto-circuito seu isolamento. Baumann afirma, a partir do texto de Taylor, que uma abordagem multiculturalista considera duas respostas que se complementam: a primeira seria a natureza dialogante de todas as identidades, ou talvez fosse melhor falar, como Mafesoli (1984), em identificações, grupos, coletividades, em estruturas coletivas de pertencimento e não identidades fixas. A sociedade multicultural é uma rede elástica de identificações entrecruzadas e sempre mutuamente dependentes de uma situação determinada. A segunda seria pensar a cultura como um processo discursivo, e não como um elenco de regras. Neste sentido, uma cultura reificada não se oporia a outra, tendo o idealismo como base para isso. Mas Baumann, indo a Durkeim, também alerta que a sociedade não é um construto que se reduza ao empírico, claramente definido e observável, já que é simplesmente uma ideia, uma noção, uma abstração. Essa abstração é uma maneira de aplicar-se uma qualidade completamente abstrata ao que chamamos de sociedade, algo que na atualidade chamamos de sociabilidade. Na consideração sobre o papel da religião, ao negar-se seu caráter imutável, abre-se a possibilidade de usar metáfora analítica que a considera um arcabouço cultural de orientação em situações de incerteza e como forma de posicionar o grupo no tempo e espaço histórico. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 865 | CONCLUSÕES Em ambiente multicultural as pessoas necessitam usufruir de ambos os discursos ‒ o reificador e o processual ‒ para alcançar seus objetivos pessoais, familiares ou sociais, dando sentido às suas próprias vidas. É por isso que desenvolvem essa dupla competência discursiva, assim como uma série de processos de convergência multicultural: para reorientar simultaneamente tradições a partir de um novo ponto de encontro intercultural. A oportunidade que se abre ao analista é, neste caso, estudar a dinâmica que se instala, ou seja, identificar e entender como e quando estes grupos selecionam suas reificações da cultura e como e quando se alternam entre sua manifestação e sua omissão. É a partir da consciência multirrelacional, que considera uma rede de relações com várias identificações, que se pode localizar uma identidade e destacar que as diferenças observadas são sempre relativas e contextualizadas. É em tal contexto que operam tanto os discursos reificadores essencialistas quanto os processuais/metódicos de diferenças relativas. Em ambiente multicultural os discursos são moldados a partir dos objetivos de identificação. Assim, um operador identitário competente não é nem anjo nem vítima multicultural, embora mobilize também estas representações em seus discursos. Não é um clone, merareprodução em série de uma identidade cultural. Ele mobiliza ativamente a estratégia discursiva que mais lhe convém, seja a reificadora, seja a relativizadora de diferenças. Portanto, entender esta prática multicultural é investigar exatamente quando, onde, por quais razões e em quais contextos as pessoas alternam tais estratégias discursivas. “A vida social pode ser vista como uma rede elástica e entrelaçada de múltiplas identificações. As pessoas elegem com quem se identificam, quando e onde e incluso elegem quando optam pelo discurso reificador da cultura, ou pelo discurso processual.” (BAUMANN, 2010, p. 167).O uso do conceito de identificação – em vez de identidade – promove, nos termos de Baumann (2010), um passo libertador na própria forma de compreender o conceito de cultura a partir do multiculturalismo. Prioriza a visão da cultura como algo “que temos e somos”, ao mesmo tempo que é também “algo que criamos e de que somos moldadores” ( p.160). Isso permite a conversão do aspecto essencialista e estático da cultura em uma compreensão processual e discursiva dela, dentro de seu jogo dinâmico. Afinal, a cultura não é uma fotocopiadora gigante que produz clones mas é a capacidade mais sensível de alguns indivíduos capazes de provocar mudanças mesmo (e em especial) que estas signifiquem produzir estabilidade, já que “afirmar o mesmo em uma nova situação quer dizer outra coisa” (p. 166). Para Bauman, se nos engajarmos no trajeto analítico de compreender uma identidade, nunca aprenderemos o que é uma cultura, a não ser se estivermos tentando interpretá-la em termos de identificações dependentes de uma situação. É necessário que a entendamos como um processo dinâmico em que a identidade é transformada continua e reflexivamente, ou seja, de duplo discurso: as pessoas a reificam e, ao mesmo tempo, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 87desconstroem suas reificações, relativizando-as e adaptando-as aos seus contextos, objetivos políticos e situações do cotidiano. É neste uso peculiar que se consegue manter a sensação de estabilidade da identidade em meio a tantas negociações e mudanças. Por fim, Baumann (2010) faz uma crítica aos estudos dedicados aos processos de identificação: Ao mesmo tempo que colegas teóricos inventam novas palavras a partir de uma realidade que não existe, os estudantes empíricos descrevem as mesmas velhas realidades, uma e outra vez com as mesmas palavras. Os primeiros não observam nada e questionam tudo, os últimos, observam tudo e questionam nada (p. 173). No entanto, a proposta para sair do tal círculo vicioso, deve considerar a crítica de que os trabalhos focam três grandes temáticas que já se exauriram: a) as relações entre as distintas culturas do Estado-nação e suas minorias; b) as relações entre as minorias e os processos que se estendem ao largo dos limites do Estado-nação; e c) as relações complexas entre as culturas do Estado-nação e as chamadas minorias que “se criam por si mesmas” (p. 174). Ele preconiza que há outras vias inovadoras pelas quais a pesquisa pode avançar no entendimento dos vínculos entre a cultura de um Estado-nação e suas minorias, o que ele nomeia de três M’s: o mercado, os meios de comunicação e “la madrassa” (a educação). No que tange ao mercado, cita especificamente o estudo de Ayse Caglar, que, enquanto cursava seu mestrado em Letras em Berlim (CAGLAR, 1995), analisou o döner kebab, tido pelos alemães como tradicional alimento étnico dos turcos. O döner kebab se converteu em uma comida rápida, muito popular em quase todas as cidades alemãs. Caglar (1995) aponta que esta comida rápida étnica é qualquer coisa, menos um prato tradicional turco; ao contrário, o döner é um híbrido, um produto novo, ainda que seja elaborado e vendido principalmente pelos turcos e na Alemanha seja conhecido como comida turca. Como essa forma alemã de döner kebab não se encontra na Turquia, tem-se que é produto do multiculturalismo, um produto usado como parte de uma narrativa construída de identidade e etnicidade. Baumann (2010) acrescenta ainda que o estudo de Caglar (1995) fornece perspectiva de análise interessante e se baseia fortemente em observação empírica. O trabalho parte de um objeto material que parece perfeitamente uma realidade que excede os seus próprios limites, já que o que seria apenas uma comida rápida turca se revela um amplo ciclo transnacional e pluricultural de significados, representações simbólicas e renegociação dos chamados limites culturais. REFERÊNCIASBAUMANN, G. El enigma Multicultural. Um replanteamiento de las identidades nacionales, étnicas y religiosas. Madrid: Paidós, 2010.BERGER, P. ; LUCKMANN, T. Modernidade, pluralismo e crise de sentido: a orientação do homem A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 7 88moderno. Petrópolis: Vozes, 2004.CAGLAR, Ayse. McDoner: Doner Kebap and the Social Positioning Struggle of German Turks. In COSTA , Arnold ; JANEEN, Gary J. Bamoss (org.) Marketing in a Multicultural World: Ethnicity, Nationalism and Cultural Identity. London and New Delhi: Sage Publications, 1995.GUTIEREZ, A. G. La identidade excesiva. Madrid: Biblioteca Nueva, 2009.MAFESOLI, M. A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco, 1984.TAYLOR, C. The politics of recognition. In GUTMANN, A. (org) Multiculturalism. Examining the politics of recognition. New Jersey: Princeton University Press, 1994 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 89Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 8 LITERACIA EM SAÚDE E LITERACIA DE MÍDIA:UM OLHAR SOBRE OS CONCEITOS E AS PRÁTICASData de submissão: 07/10/2021Adinan Nogueira PUC MINAS / UNIFAE Poços de Caldas - Minas Geraishttp://lattes.cnpq.br/2555954530146792Letícia Magalhães Pereira PUC MINASPoços de Caldas - Minas Geraishttp://lattes.cnpq.br/0859053859857408Maria Izabel Ferezin Sares PUC MINASPoços de Caldas - Minas Geraishttp://lattes.cnpq.br/7811305511235499RESUMO: Literacia em saúde é definida pela World Health Organization como a habilidade cognitiva e social que determina a motivação e capacidade do indivíduo para ter acesso, para entender e utilizar informações de maneira a promover e manter uma boa saúde. Este trabalho visa investigar conceitos acerca de literacia em saúde e literacia de mídia, ambos conceitos ainda pouco explorados na literatura científica no Brasil, a partir de estudos realizados no exterior. Hoje literacia em saúde e literacia de mídia convergem nos modelos de eHealth e mHealth, isto é, em iniciativas na área da saúde mediadas pela tecnologia, tais como aplicativos.PALAVRAS-CHAVE: literacia; literacia de mídia; literacia em saúde; saúde; novas tecnologias.HEALTH LITERACY AND MEDIA LITERACY: A LOOK AT THE CONCEPTS AND THE PRACTICESABSTRACT: Health literacy is defined by the World Health Organization as the cognitive and social skill that determines an individual’s motivation and ability to have access, to understand and to use information in order to keep good health. This research aims to investigate concepts about health literacy and media literacy, both concepts still rarely explored in the Brazilian scientific literature, from the starting point of studies made abroad. Today health literacy and media literacy go together in models of eHealth and mHealth, that is, in initiatives in the health realm mediated by technology, such as apps.KEYWORDS: literacy; media literacy; health literacy; health; new technologies.“Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno” (Soares, 2003).No segmento da saúde a literacia e a comunicação têm estudos modestos quando se pensa no Brasil. Passamai et al. (2012), registram que a literacia em saúde é assunto interdisciplinar ainda em investigação e desenvolvimento. Foi criado devido à necessidadede se relacionar o nível de alfabetização e o nível de saúde de uma população, com a possibilidade de melhorias nas mensagens de saúde, assim como nos planejamentos de comunicação e saúde. Mas A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 90existem no exterior estudos em literacia e saúde que mostram que é possível melhorar a qualidade de vida do paciente por meio da comunicação adequada aos diversos contextos. Assim, como a literacia em saúde pode colaborar na qualidade de vida do paciente? Como melhorar a comunicação em saúde para colaborar na qualidade de vida do paciente? E como usar a tecnologia, e a literacia de mídia por conseguinte, para melhores práticas na área de saúde?O que se propõe é investigar publicações sobre o assunto que comprovem a necessidade de se analisar as lacunas existentes que podem ser preenchidas com olhares interdisciplinares, sendo uma pesquisa classificada como descritiva, qualitativa, que vai utilizar fontes secundárias como publicações e dados de instituições oficiais.Maragno (2009) cita Soares (2001) que o letramento ou literacia surgiu da palavra em língua inglesa literacy e são palavras menos utilizadas que o alfabetismo. No Brasil a área da educação utiliza letramento e alfabetismo, porém o primeiro tornou-se mais popular, simbolizando a “capacidade de utilizar a linguagem escrita em diversas práticas sociais” (INAF, 2007, p. 5).Literacia em saúde é definida pela World Health Organization como a “habilidade cognitiva e social que determinam a motivação e capacidade do indivíduo para ter acesso, para entender e utilizar informações de maneira a promover e manter uma boa saúde” (WHO, 1998). A sétima Conferência Global sobre Promoção da Saúde (OMS / OPAS, 2009) definiu a literacia em saúde como as habilidades cognitivas e sociais que determinam a motivação e a capacidade dos indivíduos para que possam ter acesso, entender e usar as informações como forma de promover e manter uma boa saúde. Ampliou-se o conceito ao colocar que a literacia em saúde é mais que apenas ter acesso a panfletos com informações sobre saúde, é também como utilizar essas informações de maneira eficaz, sendo muito importante a capacitação da população para se obter uma saúde melhor (WHO, 2009).Diferenciando alfabetização e literacia em saúde Freebody e Luke (1990) comentam que não basta que a pessoa leia e escreva, mas sim o que ela consegue fazer com isso. Classificam em três estágios: Literacia básica e funcional: ter conhecimentos básicos suficientes em leitura e escrita para lidar efetivamente com as situações do dia a dia; Literacia comunicativa e interativa: trata-se de habilidades cognitivas e de alfabetização avançadas que, paralelamente às habilidades sociais, ajudam o indivíduo a participar das atividades em sociedade, de maneira que ele possa extrair ou coletar informações e aplicá-las em novas circunstâncias e Literacia crítica: habilidade cognitiva mais avançada que, ao lado das habilidades sociais, ajude o indivíduo a analisar de maneira crítica as informações obtidas para depois poder utilizá-las em sua vida. Nutbeam (1998) neste mesmo sentido afirma que a literacia em saúde é muito mais que apenas saber ler um rótulo ou uma bula: é necessário que exista a pretensão de se esclarecer o leitor para que este possa entender e agir de forma a colaborar com seu A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 91tratamento. A literacia em saúde é um ponto crítico para a capacitação do indivíduo e consequentemente a ponte entre emissor e receptor num processo de comunicação. Isso se reflete em dois outros tipos de alfabetização: a interatividade e o letramento crítico. A partir do momento em que as pessoas consigam ampliar o seu alcance em educação em saúde por meio da comunicação de informações, haverá implicações profundas e modificadoras para a educação e para os métodos de comunicação. Segundo o Censo de 2010 do IBGE, 49,25% da população acima de 25 anos estavam classificados na categoria sem instrução ou com fundamental incompleto, o que significa que temos um escolaridade baixa na população adulta.Maragno (2009) cita Davis et al. (1994) que relatam um estudo realizado nos Estados Unidos com pais em cinco clínicas pediátricas e os resultados revelaram que a escolaridade não indicava verdadeiramente as suas habilidades de leitura, embora existam estudos que mostram que as pessoas com baixo letramento em saúde possuem problemas para compreenderem instruções sobre o uso de medicamentos e que o uso de linguagem mais explícita sobre dosagem, frequência e períodos melhora o entendimento por parte dos pacientes (Maragno, 2009). Para Williams (2002), citado por Maragno (2009), o número de pacientes que não segue um tratamento simplesmente por não conseguir ler adequadamente é muito grande. Outros estudos corroboram com entendimentos de que a combinações da adequação da comunicação com o letramento do paciente é o caminho para a efetividade do tratamento. Dentre os autores, alguns têm pesquisas mostrando os custos associados ao baixo letramento como Howard et al. (2005) e Safeer e Keenan (2005), mas existem outras consequências, como apresenta Baker et al. (2002) relacionando o letramento inadequado e maior risco de hospitalização e Sudore et al. (2006) relacionando letramento inadequado e aumento do risco de mortalidade.Kucinski (2000) explica que a junção da saúde com a comunicação aconteceu como uma ferramenta na promoção da cidadania, mesmo assim Araújo (2015) cita cinco grupos de pesquisa que trabalham com comunicação em saúde, quatro deles brasileiros e outro de países lusófonos. Numa análise da produção mais atual deste grupo, a autora detectou a predominância de pesquisas sobre assuntos de saúde nos meios de comunicação, e, em menor escala, a relação entre comunicação, saúde e cidadania. Porém, mais que propor um modelo comunicativo e novos parâmetros na abordagem da comunicação para saúde, é preciso compreender que a comunicação integra um contexto sociopolítico. No Brasil, de acordo com Aoki (2012), a desigualdade e a ausência de pluralidade acabam por limitar a atuação do comunicador que aborda o tema saúde. Dentre os obstáculos que surgem para o comunicador em saúde, pode-se citar o embate entre grupos com interesses antagônicos e a própria ingenuidade do comunicador. Assim, a literacia em saúde se funde à literacia de mídia quando observamos o uso crescente das novas tecnologias, como aplicativos, sites e mesmo a TV digital, na A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 92área da saúde. Estas novas práticas dão origem a novas esperanças, mas também novas necessidades, como a de suprir, ao mesmo tempo, níveis deficientes de literacia em saúde e em mídia que o usuário de um site ou aplicativo pode ter, e que pode prejudicar ou até mesmo inviabilizar a utilização desta nova e moderna ferramenta. Os dispositivos móveis estão se tornando cada vez mais acessíveis e graças ao Global Positioning System (GPS), uma rede de navegação por satélite, pode ser acessada por qualquer dispositivo que tenha este programa. Assim, os pesquisadores estão aproveitando essas inovações tecnológicas para poderem garantir uma infraestrutura que permita estudar, avaliar e tratar populações por meio de um sistema chamado saúde móvel (mHealth). O mHealth é uma abreviação de saúde móvel e é um termo utilizado para a prática da medicina e da saúde publicada apoiada por dispositivos móveis, tais como telefones celulares, computadores, tablets, PDAs, entre outros. O eHealth é um termo muito recente e que se direciona aos cuidados de saúde apoiados por processos de comunicação eletrônicos utilizando a internet, telefones celulares, entre outros. (Ho, 2010). O eHealth é o uso de tecnologias de informação voltadas para a saúde as quais incluem tratamento, pesquisas, educação de profissionais de saúde, acompanhamentoe monitoramento de doenças. De acordo com pesquisas realizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é preciso elaborar um plano estratégico de desenvolvimento e implementação de serviços de saúde nos mais diferentes setores com o uso de tecnologia de informação e comunicação de forma a promover serviços públicos de saúde, aproximando cada vez mais a administração de saúde e as comunidades consideradas vulneráveis. Ressalta-se que é importante adequar os serviços de saúde às necessidades dessas comunidades (WHO, 2016).Atualmente há milhares de aplicativos para smartphones, porém o acesso a conteúdos com valor científico é raro ou difícil. A qualidade e o conteúdo da comunicação, portanto, são essenciais para a modificação do comportamento a longo prazo neste contexto. Estes esforços precisam ter em mente quatro fatores detectados por Squiers et al. (2012): a) aqueles que influenciam o desenvolvimento e a utilização de competências de literacia; b) estímulo relacionado à saúde; c) as competências de literacia em saúde necessárias para compreender os estímulos e executar as tarefas; d) quais os mediadores entre a literacia em saúde e os resultados disso na saúde. Ainda há argumentos de outros autores que afirmam que se a literacia em saúde é a capacidade de funcionar ou de executar tarefas em um ambiente de cuidados de saúde, isso deve depender de características tanto do sistema de saúde quanto dos aspectos individuais do paciente. Assim, a literacia em saúde dependeria tanto do problema médico a ser tratado, do prestador dos cuidados de saúde e de como o sistema está proporcionando esse atendimento. Esse relacionamento pode ser visto na Figura 1 (Baker, 2006, p. 879). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 93Figura 1 – Modelo conceitual da relação entre as capacidades individuais, de impressão relacionados com a saúde e alfabetização oral e os resultados disso na saúdeFonte: Baker, 2006, p. 879Baker (2006) atenta que são vários os fatores que influenciam na compreensão da mensagem a ser transmitida como a complexidade, dificuldade, vocabulário, quantidade de informações, cultura e que também são vários os atores: pacientes, médicos, profissionais de saúde e um contexto particular em cada situação, enfim fatores que precisam ser considerados, alinhados e adaptados para que a ciência médica e a ciências da comunicação sejam suficientemente compreendidas pelos diversos atores e, desta forma, se obtenha maior efetividade. REFERÊNCIASAOKI, T. Comunicação em saúde: o que estamos discutindo? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 35., 2012. Fortaleza, Ceará, Anais... Fortaleza, Ceará: UNIFOR, 2012. Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2015.BAKER, D. W. The meaning and the measure of health literacy. In: Journal of General Internal Medicine, Alexandria, VA, v. 21, p. 878-83, ago. 2006.BAKER, D. W. et al. Development of a brief test to measure functional health literacy. In: Patient Education and Counseling.v. 38, p. 33-42, set. 1999. Disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14528569. Acesso em: 10 set 2015FREEBODY, P.; LUKE, A. “Literacies” programs: debates and demands in cultural context. In: Prospect: Australian Journal of E.S.L., Sydney, v. 5, p. 7-16, 1990. Indicador de Alfabetismo Nacional (INAF). Indicador de Alfabetismo Funcional Inaf / Brasil – 2007. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 8 94Ho, K. eHealth & mHealth: achieving UN MDGs & Medical Device Access Equity. WHO Medical Devices Kobe, 2010.KUCINSKI, B. Jornalismo, saúde e cidadania. In: Interface: comunicação, saúde, educação, Botucatu, v. 4, n. 6, p. 181-86, fev. 2000.MARAGNO, C. A. D. Associação entre letramento em saúde e adesão ao tratamento medicamentoso. 2009. p. 41. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas). Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2009.NUTBEAM, D. Health promotion glossary. In: Health Promotion International, Oxford, v. 13, p. 349-364, 1998.PASSAMAI, M. P. B. et al. Letramento funcional em saúde: reflexões e conceitos. In: Interface: Comunicação, saúde, educação, Botucatu, v. 16, n. 4, p. 301-14, abr./jun. 2012.SOARES,Magda Becker. O que é letramento. DIÁRIO DO GRANDE ABC: Sexta-feira, 29 de agosto de 2003. SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. SQUIERS, L. et al. The health literacy skills framework. In: Journal of Health Communication: International Perspectives, v. 17, suppl. 3, p. 30-54, Publicação online: 03 out. 2012. SUDORE, R. L. et al. Limited literacy and mortality in the elderly: the health, aging and body composition study. In: Journal of General Internal Medicine, Alexandria, VA, v. 21, p. 806-12, jul. 2006. https://educacao.uol.com.br/noticias/2012/12/19/ibge-quase-metade-da-populacao-com-25-anos-ou-mais-nao-tem-o-fundamental-completo.htmlWorld Health Organization (WHO). From innovation to implementation: eHealth in the WHO European Region. 2016. Report of the analysis of the 2015 WHO global survey on eHealth data for the European Region. World Health Organization (WHO). Track 2: health literacy and health behavior. 7th Global Conference on health promotion: track themes. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 95Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 9 MANIFESTACIÓN EN REDES SOCIALES DE JÓVENES COSPLAYERS EN EL JUEGO DE “SER OTRA”, EL CROSSPLAY MASCULINO (M&F)María de la Luz Nalleli Martínez HernándezLicenciada en Ciencias de la Comunicación por la Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, Maestra en Ciencias Sociales Dra. Sandra Flores GuevaraProfesora investigadora de la Universidad Autónoma del Estado de Hidalgo, perteneciente al Cuerpo Académico de Escenarios de la Comunicación.RESUMEN: El desarrollo de diversas tecnologías ha fomentado el incremento de mejorías a favor de la población, entre las que se encuentran las TIC´s, las cuales producen grandes cambios en los procesos de comunicación, aunado a las nuevas competencias se convierten en el reflejo de la tecnología y la cultura digital, contribuyendo a una mejor comprensión de diversas transformaciones entrelazadas con elementos culturales que comienzan a fortalecer vínculos con las tecnologías digitales, como las redes sociales, consideradas una alternativa de difusión y/o comunicación que contribuye a la creación de comunidades virtuales, mediante las cuales existe una mayor interacción entre los participantes de los denominados cosplayers, en el caso de esta investigación, del crossplayer masculino (M&F), que buscan una interactividad entre sus participantes más allá de los centros de reunión y convenciones. Formando la materialización de un grupo que ve en las redes sociales un elemento esencial para el proceso de su identidad.PALABRAS CLAVE: Redes sociales, cosplay, crossplay, identidad DEMONSTRAÇÃO NAS REDES SOCIAIS DE JOVENS COSPLAYERS DO JOGO DE "SER OTRA", O MASCULINO CROSSPLAY (M&F)RESUMO: O desenvolvimento de diversas tecnologias tem promovido o aumento de melhorias a favor da população, entre as quais estão as TICs, que produzem grandes mudanças nos processos de comunicação, aliadas a novas competências passam a ser um reflexo da tecnologia e da cultura digital, contribuindo para uma melhor compreensão da diversas transformações se entrelaçam a elementos culturais que passam a estreitar vínculos com as tecnologias digitais, como as redes sociais, consideradas uma alternativa de divulgação e / ou comunicação que contribui para a formação de comunidades virtuais, por meio das quais há uma maior interação entreos participantes do os chamados cosplayers, no caso desta pesquisa, o crossplayer masculino (M&F), que buscam a interatividade entre seus participantes para além dos centros de reuniões e convenções. Formando a materialização de um grupo que vê nas redes sociais um elemento essencial para o processo de sua identidade.PALAVRAS-CHAVE: Mídia social, cosplay, jogo cruzado, identidade. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 96DEMONSTRATION ON SOCIAL NETWORKS OF YOUNG COSPLAYERS IN THE GAME OF “SER OTRA”, THE MALE CROSSPLAY (M&F)ABSTRACT: The development of various technologies has fostered the increase of improvements in favor of the population, among which are ICTs, which produce great changes in communication processes, coupled with new skills become a reflection of the technology and digital culture, contributing to a better understanding of various transformations intertwined with cultural elements that begin to strengthen links with digital technologies, such as social networks, considered an alternative of dissemination and / or communication that contributes to the creation of virtual communities , through which there is a greater interaction between the participants of the so-called cosplayers, in the case of this research, the male crossplayer (M&F), who seek interactivity among their participants beyond meeting centers and conventions. Forming the materialization of a group that sees in social networks an essential element for the process of its identity. KEYWORDS: social media, cosplay, crossplay, identityINTRODUCCIÓNEn 1974 llega a México el mundo de la animación japonesa (anime) con Astroboy, pero, es hasta los 90´s que inicia el auge del anime y el manga1 en todo el país. Gracias a ellos, crece el número de seguidores, denominados “otakus”, logrando el aumento de personas que realizan la interpretación de personajes de ficción denominados cosplayers, este movimiento ha logrado mantenerse un largo tiempo en la cultura mexicana, en especial con el anime y el manga, el cual inició con representaciones físicas de los personajes del mundo de la fantasía en Japón, pero, ya se incluyen personajes no provenientes del país nipón.Tras la llegada de las nuevas tecnologías, además de la significación y proyección de la imagen ha logrado una ampliación en su forma de expresión y, en el caso del anime, su transmisión llega a tal grado que los personajes se conciben más reales. Como afirma Darley (2002), el creciente bombardeo de imágenes mediáticas crea una saturación de ideales con la consecuencia de que el consumidor se alejará del contenido, y traslada su atención a la fascinación que genera este espectáculo de superficie y movimiento; llevando al público de la fascinación de personajes de ficción. La actividad del cosplay, es llevada a cabo en su mayoría por jóvenes, pero, sin descartar la intervención de personas adultas, quienes establecen un vínculo afectivo con el personaje que interpretan, formando parte de su identidad y vida cotidiana, esta se considera como una forma de construcción identitaria, tanto a nivel individual como social, afirmado por Balderrama y Pérez, mencionados por Laura Quiroz (2015), autora que ve el juego del cosplay como una construcción sociocultural. Los jóvenes participantes, el crecimiento de las reuniones o convenciones de anime y manga, sumando el mundo de cómics y la llegada de sus personajes de ficción a las pantallas grandes, se convierten en 1 Con las denominaciones genéricas de manga y anime se reconoce al primero como historieta gráfica o cómic y al segundo como dibujo de animación, aplicado en películas, series televisivas… (Poliniato, 2011). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 97testimonio e indicadores de cambios sociales y culturales, los cuales abren su panorama con la llegada de las redes sociales, logrando que, más cosplayers, crossplayers, etc., puedan interactuar de manera más amena, además de fomentar la actividad.Es gracias a estas convenciones que se ha identificado el incremento de participantes en relación a jóvenes varones crossplayers que gustan del disfraz de hombre a mujer (M&F); cabe destacar que, en su mayoría son ellos mismos quienes elaboran gran parte o en su totalidad de su vestuario y accesorios, convirtiéndolos en cosmakers2, lo cual, proporciona un status dentro del grupo, esto se considerada de mucha importancia dentro del ámbito del mundo del crossplay masculino, al representar un espacio de recreación de nuevas masculinidades (Acosta Fandiño, 2018). Además de hacer de las redes sociales parte esencial en época de contingencia de hoy en día, este acontecimiento ha provocado que las convenciones sean canceladas o se vean en la necesidad de modificar fechas buscando llevarlas a cabo cuando el país se encuentre en condiciones propicias para continuar con reuniones al aire libre o en sitios cerrados con un gran número de personas. Debido a esto, se ven en la necesidad de utilizar con más frecuencia las redes sociales, videos en vivo en diversas plataformas, entre otras. Algunas investigaciones en el tema está “Movimiento cosplay en la Ciudad de León, Guanajuato” por la Lic. en Antropología Social Jennifer Mariana Acosta Morales de la Universidad de Guanajuato, quien refiere que: “Las acciones de los mayoritariamente jóvenes que constituyen el movimiento otaku en la Ciudad de León, refuerzan una identidad colectiva y un imaginario sobre la cultura japonesa, a través de la reinterpretación de la animación, esta práctica cosplay se constituye como una práctica de desterritorialización en el marco de la globalización cultural que impera en la actualidad como afirma Acosta (2016), de igual manera, es una forma de compartir su entorno, así como, la adquisición de nuevos conocimientos y creencias sobre “el mundo de la vida” que se dan como ciertas por individuos agrupados que constituyen una sociedad (Taguenca Belmonte, 2016), como es el caso del cosplayer. En el caso de esta investigación el movimiento inicia desde el uso de distintas redes sociales: la magnitud que está cobrando esta práctica que se difunde por medio de las redes sociales y el internet. Esto se afirma con el surgimiento de un movimiento cosplay en la ciudad de León, al existir un grupo central que organiza actividades referentes a esta práctica, como Un día de Cosplay, creando eventos y coordinándose por las redes sociales con otros grupos organizadores que promueven la práctica del cosplay en otras ciudades (Acosta Morales, 2016, pág. 4).DESCRIPCIÓN DEL MÉTODOLa metodología empleada en la presente aportación y para el análisis de información es llevada a cabo mediante dos tipos de técnicas, en donde se tomaran en cuenta la 2 Personas que realizan la vestimenta y accesorios que caracterizan a los cosplayer. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 98recolección de datos y análisis de los mismos, realizando una inspección para precisar conceptos que nos lleven a identificar elementos necesarios (dentro del grupo de cosplayers, en específicos los crossplayers masculinos), acercándose al material desde diferentes ángulos (Álvarez-Gayou Jurgensen, 2003), aunado a la utilización de las redes sociales como medio de comunicación y expresión lejos de las convenciones donde tradicionalmente se desarrolla la actividad. La investigación hará uso de la metodología cualitativa, tomando como eje central la identificación del significado que para el grupo juvenil denominado crossplayer son las posibles transformaciones que sufren en la identidad masculinidad, así como su desarrollo dentro de las redes sociales donde dan a conocer su trabajo. Se busca realizar el análisis desde lo social al colectivo, mediante la triangulación de datos, estos métodos utilizados durante la observación o interpretación del fenómeno sean de corte cualitativo para que estos sean equiparables (…)lo que consiste en la verificación y comparación de la información obtenida en diferentes momentos, mediante diversos métodos (Okuda Benavides & Carlos, 2005); donde se incluya a la performatividad, entendiendo a esta con su interacción con los procesos culturales, en este caso, a partir de dos culturas (principalmente), ya que el crossplay masculino o M2F3 puede identificarse como una reminiscencia de los actores onnagata4 del Teatro Kabuki5, donde los hombres eran quienes interpretaban los personajes femeninos; para Ho (1996) los onnagata, los roles (imitaciones femeninas), son altamente considerados como una forma de arte sofisticada y uno de los logros más significativos del Kabuki, que no tiene paralelo en ninguna otra parte del mundo (Leng, 2013). Por lo tanto, los crossplyers M&F mediante el contacto e influencia de la cultura japonesa, podrían realizar esta actividad como forma de manifestar su identidad, que tiene elementos culturales semejantes en México a los muxes y chuntaes. Por lo tanto, se estudia las experiencias en sus representaciones performativas, los espectáculos de la cultura (K. Denzin, 2016), que el crossplayer puede realizar mediante la exteriorización de esta actividad, aunado a la interacción que logran mediante las redes sociales, al no contar con una convención donde el tema central sea el crossplay en todas sus versiones. El tema acerca del cosplay en México desde diversas perspectivas, análisis y estudios, nos permite indagar entre el surgimiento de nuevas identidades sociales y culturales que se muestran mediante la exteriorización de características que unen dos culturas con matices diversos, las cuales logran manifestarse mediante las redes sociales tanto colectivas como personales, como el es el caso de los crossplayers Dorian Lullaby y Erus Noctem, quienes están de manera activa para dar a conocer su trabajo mediante fotografías y en el caso de Erus Noctem con la creación de un grupo en redes sociales para 3 Termino creado por Rachel Leng es su trabajo Gender, Sexuality, and Cosplay: A Case Study of Male-to-Female crossplay; en referencia al juego de masculino a femenino, en específico a la actividad del cosplay. 4 Actores masculinos especializados en papeles femeninos. https://ich.unesco.org/es/RL/el-teatro-kabuki-001635 Es una forma de teatro tradicional del Japón que surgió en la época Edo, al principio del siglo XVII, y que era particu-larmente popular entre los habitantes de las ciudades. Originalmente, en las obras de teatro Kabuki actuaban hombres y mujeres, pero más tarde quedó limitado a los actores masculinos, una tradición que ha perdurado hasta hoy. Ibídem A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 99fomentar y dar apoyo a sus miembros.Los avances tecnológicos han logrado el auge del internet y otros medios de comunicación, llegando a más público para dar a conocer la cultura popular de Japón, como consecuencia de ello, inicia la actividad del cosplay dentro de las convenciones. Hablar de estos jóvenes y las actividades que realizan dentro de las convenciones u otros eventos afines, es analizar la identidad de sus integrantes, los cuales se organizan, perfeccionan y crean elementos esenciales para la caracterización de un personaje con el cual se sientan identificados o que los convierte en “otra persona”, estos comportamientos, actividades o prácticas a través de los cuales los miembros se convierten en quienes externan y concretan los símbolos propios de esta comunidad (Quiroz Castillo, 2015), además de la interpretación y creación de elementos acorde al personaje, logrando así establecer un vínculo afectivo, convirtiéndolo en parte de su identidad y vida cotidiana; mediante procesos de interacción tanto de manera personal, como en recientes fechas en las redes sociales.El primer registro que se tiene de los cosplayers en México, es en la CONQUE (1994), pero aún no eran denominados de esta manera; para Serrano Pérez (2017), es en 1999 durante la Mole Comic Con, surge el primer evento dedicado a los disfrazados, fue denominado “el bailongo”, celebrado para finalizar dicho evento. Posterior a ello, el número de cosplayer creció, al punto que, llegaron a participar en diversos certámenes a nivel mundial, tal es el caso de Worl Cosplay Summit, llevado a cabo cada año en Japón, siendo México el ganador en dos ocasiones: México se lleva el primer lugar, en esta ocasión por el equipo llamado Banana Cospboys (Luis Gamboa y Eduardo Peralta), quienes interpretaron a Chun- Li y Dhalsim de Strett Fighter (Cruz, 2018), donde uno de los miembros realizaba crossplayer (con el personaje de Chun Li); en el 2015 dicho certamen fue ganado por primera vez para México con Twin Cosplay (Shema Arroyo y Juan Carlos Tolento). En el caso del crossplay masculino uno de los posibles motivos de su auge es, aunado a los concursos ganados en 2015 y 2018, la popularidad en redes sociales del jugador de videojuegos Sneaky6, (quien realiza streaming de diversos videojuegos) y el cantante Lady Beard7 quien de igual manera hace uso de las redes sociales para dar a conocer su trabajo fotográfico en el aspecto del crossplay.Con los avances tecnológicos, las reuniones y convenciones tienen otro aliado que les ayuda a darse a conocer a un público más amplio, tanto las actividades realizadas como grupos dentro de las redes sociales donde se pueden dar conocer cada uno de los trabajos que se realizan entorno al cosplay; un ejemplo es, el trabajo fotográfico que representa a cada uno de los personajes, los cuales en algunos casos necesitan de retoques digitales 6 Zachary “Sneaky” Scuderi, jugador profesional de videojuegos (League of Legends) Campeón de LCS NA en 2014 con Cloud9; quien el 27 de febrero de 2018 reveló que al llegar a 5000 subscritores en Twich, haría el cosplay (cross-play) de Lux Elementalist, revelando que ha llevado aún más lejos su seguridad en sí mismo demostrando que, no tiene nada malo el hacer cosplay del sexo opuesto (Matteucci, 2018).7 Idol japonés, cantante de pop y Heavy Metal australiano de nombre Richard Magarey, se caracteriza por usar vestidos o realizar cosplay de personajes femeninos, pero, sin dejar a un lado su peculiar barba e imagen física varonil (Lokkie, 2016). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 100para una mayor similitud con el personaje, además de la realización de tutoriales para la creación de props (accesorios) y venta de artículos necesarios para lograr el cometido de un cosplay. Es importante tener en cuenta los conceptos base y ámbito histórico dentro del mundo de las redes sociales. La esencia de la tecnología va más allá de las posibles experiencias y alternativas que día a día van evolucionando, para llegar a realizar modificaciones que faciliten cada una de las herramientas fortaleciendo tanto experiencias como alternativas creadas en pro de las necesidades surgidas a lo largo de la evolución del ser humano. Para Mier (2006), es importante tomar en cuenta, el panorama que emerge con los objetos tecnológicos es también una figuración del tiempo; sobresaltos, derrotas y metamorfosis de la memoria, creación de zonas difusas del conocimiento, mutación y multiplicación de las identidades y los saberes (pág. 15). Enfatizando en ver a la tecnología como un método de identidad, formando parte en cada uno de los aspectos de la vida y la experiencia, considerando a este punto como una manifestación tecnologizada de la vida, elemento importante en la construcción del despertar de la fantasía. Lo que se busca es materializar los símbolos que van surgiendo a través de los avances tecnológicos, creando un universo tecnológico cada vez más allegado a los diversos ámbitos de la vida, para lograr que, desde otro ámbito se pudiera dar una interacción en busca de establecer nuevos vínculos dentro de las relaciones, así lograr nuevos modos de convivencia y comunicación que nos lleven a una nuevaforma de involucramiento social dentro de mecanismos para la realización de uniones entre grupos de personas. De tal forma, con el apoyo de la tecnología se pueda interactuar dentro de un mundo virtual para una comunicación menos tradicional en los espacios virtuales, dejando a un lado la barrera de la distancia y en algunos casos incluso la barrera del idioma. En ese sentido, es como podemos reconocer que, gracias al desarrollo de la tecnología se consuman a las redes sociales, pero, antes de hablar de ellas lo importante es adentrarnos en el concepto de cibercultura, identificada como: al conjunto de los sistemas culturales surgidos en conjunción con dichas tecnologías digitales (TIC) (Lévy, 2007). Los avances en la tecnología llevaron al surgimiento de dichos elementos para una transformación en las técnicas de desarrollo y de comunicación; esta creciente comunidad ve en el internet y en las redes sociales parte de nuevas formas de comunicación, potencializando sus recursos por medio de esta interacción entre tecnología y sociedad, las cuales forman nuevos grupos de “amigos” que están en constante movimiento dentro de las redes sociales, fomentando a su vez, encuentros o reuniones fotográficas, así como, sitios que den herramientas, manuales e ideas para la creación de utilería y accesorios, capacitando a comunidades virtuales; tal como Frugone (2018) lo refiere: no solo por la visualización globalizada, sino porque el concepto identitario del cosplayer depende pura y exclusivamente de su carácter virtual. Y a todo ello, ¿qué entendemos por comunidad virtual? Para Rheingold (2000), A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 101mencionado por Lami, Rodriguez del Rey y Pérez (2016), una comunidad virtual es considerada como “agregaciones sociales que emergen de la red cuando un número suficiente personas entablan discusiones públicas durante un tiempo lo suficientemente largo, con suficiente sentimiento humano, este grupo de personas hacen el uso de las tecnologías como medio de comunicación, brindando a nuevos y posibles miembros la interacción con cada uno de ellos, creando fuertes lazos para fortalecer y hacer crecer la comunidad en la que interactúan. Para tales supuestos, es importante definir a la comunidad virtual desde tres puntos importantes: 1. Debe existir un lugar: en el que los individuos pueden mantener relaciones de carácter social o económico.2. Símbolo: posee una dimensión simbólica, donde los individuos tienden a sentirse simbólicamente unidos al contexto, a su vez, se crea un espacio provocado por la sensación de pertenencia.3. Virtual: poseen rasgos comunes a las comunidades físicas; el rasgo diferenciador es que se desarrolla, al menos parcialmente, en un lugar virtual, o en un lugar construido a partir de conexiones telemáticas (pág. 96).Uno de los ejemplos más representativos de esta comunidad es la denominada “Cure”; su página web8 es probablemente el centro virtual más grande de atracción para este tipo de personas. Cuenta con más de 1.2 millones de usuarios, según comenta el responsable, Inui Tatsumi, al portal Nippon.com (Fujiwara, y otros, 2017), en esta página existe otra pantalla de expresión y de identificación entre los integrantes no solo de la comunidad cosplay; reconociendo las representaciones generadas de este proceso de relaciones, donde se logra mostrar el nacimiento de nuevas tribus o grupos sociales que reconocen y adoptan valores de las culturas emergentes a través de sus representaciones, además de visualizar elementos para la construcción de identidades que favorecen el crecimiento económico, cultural y social. Los autores, también hacen mención de las redes sociales, las cuales son consideradas como un escaparate para el cosplay, como afirman los autores, se pueden encontrar páginas oficiales o de amplia popularidad como “World Cosplay”, que se puede consultar en 12 idiomas y cuyos usuarios son mayormente extranjeros.En el caso de México esto se puede visualizar en “Colectivo crossplay, trans y trapitos”, siendo los fundadores Erus Noctem y Karen Marymar (crossplayers) quienes realizaron diversos encuentros para fomentar esta actividad, el cual ve, en las redes sociales el medio para realizarla; desde su página oficial de Facebook Erus Noctem hace las invitaciones a estas reuniones, y quien ve en la idea de este grupo específico en esta red social, una forma de apoyo a la comunidad no solo de crossplayers masculinos, sino también, a los denominados trapitos y trans, para encontrar en estas reuniones, un lugar de cooperación entre integrantes, que busca dar clases de maquillaje, compartir anécdotas 8 https://worldcosplay.net/es/ A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 102relacionadas con la actividad, así como, un centro de reunión para platicar acerca de las problemáticas que enfrentan al realizar estas actividades. Estas reuniones eran llevadas de manera presencial una vez al mes, desde agosto de 2019, hasta febrero del 2020, cuando tuvieron que suspender reuniones debido a la prohibición de actividades con gran número de personas, esto debido a las medidas tomadas a nivel nacional a causa del Covid19. El colectivo nace con la idea de utilizar las redes sociales como medio para que, interesados en el tema formen parte del grupo y no se encuentran en el centro de reunión principal de las actividades el cual se ubica en Parque Hundido en la Ciudad de México, sitio en el cual se han llevado a cabo las reuniones, pero no considerado como lugar permanente de la reunión bajo la coordinación de Erus Noctem o Male Female feminae (otro de los nombres con los que hace llamar), se crearon una serie de estatus para llevar a cabo el grupo oficial del Colectivo en la búsqueda de un de realizar de nueva cuenta. Pero, con la misma idea de crear el colectivo, que, mediante las redes sociales busca abrir las puertas a todo aquel participante que esté interesado, a pesar de los posibles contratiempos a los que se puedan enfrentar, pero, tomando en cuenta las herramientas necesarias durante el proceso de esta modalidad que son parte importante en la construcción de una plataforma de identidad dentro de la comunidad cosplayer/crossplayer. Como uno de sus fundadores lo refiere: se busca ser un grupo consolidado, dedicado a formar un colectivo que contribuya al desarrollo social de las comunidades crossplayers y traps, a través de programas, talleres y actividades recreativas que fomenten confianza entre los miembros (ErusNoctem, 2020).De igual manera, busca abrir las puertas a todo aquel participante de estas actividades, no exclusivamente al crossplay, utilizando una serie de herramientas para el proceso de la utilización de esta modalidad para constituir una plataforma de identidad de la comunidad. Hay que aclarar las diferencias entre una comunidad digital y las redes sociales, para no hacer un incorrecto uso de los términos dentro del colectivo. Gallego (2013) hace referencia de sus diferencias: las redes sociales son el vehículo, el lugar de encuentro, el entorno donde la gente se reúne (…) son las que cambien el mundo, quienes crean valor; la comunidad virtual el lugar físico donde interactúan los integrantes de la comunidad. Por lo tanto, entre las herramientas a utilizar están las mencionadas por Ferri (2006, pág. 3) en su Manual de Introducción de Comunidades virtuales: A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 103Algunas de las actividades a realizar el Colectivo se encuentran: el brindar espacios de aprendizaje, confianza y empoderamiento en beneficio de su identidad, para contribuir de manera positiva a cada uno de sus miembros; la manifestación de la actividad crossplay masculina y el trap ha tenido poca aceptación, por lo que, se busca hacer compañía en el proceso.COMENTARIOS FINALESEl colectivo, se vio suspendido debido a la contingencia del Covid19, poresta razón, se dejó de hacer la actividad de manera presencial, enfocándose en su mayoría en las redes sociales, principalmente de uno de los fundadores (Erus Noctem), posterior a esto se decidió cerrar la página de Facebook (Colectivo crossplay, traps y trapitos) debido a diferencias entre los administradores, pero, en el mes de septiembre 2020 iniciaron las nuevas interacciones entre los miembros, desde la página oficial de Erus Noctem, en la búsqueda de realizar de nuevo el grupo. Pero, con la misma idea de crear el colectivo, que, mediante las redes sociales busca abrir las puertas a todo aquel participante que así lo desea, a pesar de los posibles contratiempos a los que se puedan enfrentar, pero, tomando en cuenta las herramientas necesarias durante el proceso de esta modalidad que son parte importante en la construcción de una plataforma de identidad dentro de la comunidad cosplayer/crossplayer. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 104Figura 1. Segunda reunión del Colectivo crossplayCONCLUSIONESEl cosplay en el ámbito de las redes sociales y el internet existían sin la fuerte interacción con la que hoy se cuenta, sin embargo, gracias a ellas se ha logrado abrir un mayor campo para un desarrollo de esta actividad, a pesar de tener ciertas dificultades tanto en la utilización de las redes sociales como en el desarrollo de técnicas de edición que van mejorando con la creación de nuevas tecnologías en apoyo a la edición de fotografías dentro del mundo del cosplay, provocando el crecimiento de nuevos cosmodels alejados de la esencia del cosplay tradicional, quienes solo se dedican a mostrar al público imágenes de personajes más reales en conjunto con los trajes y maquillajes propios del cosplay.De igual manera, tanto los cosplayers como crossplayers (ya sea masculinos o femenino), tienen a la mano más herramientas y elementos que contribuyen para lograr un proceso de creación de accesorios con mayor rapidez con ayuda de videos o venta de patrones realizados con diferentes técnicas de cosplayers profesionales. Contribuyendo a la comercialización de productos hechos por cosplayers o cosmakers profesionales; sin olvidar al fortalecimiento de la comunidad cosplayer/crossplay digital, por medio de la cual se lleva a cabo una construcción de identidad “virtual” a través de diversos medios de difusión. De esta manera, hacer de las redes sociales un elemento esencial del Colectivo, para fortalecer los vínculos entre los miembros y la validación de la identidad del crossplay M&F.El cuerpo de crossplay masculino se convierte en un medio lúdico al jugar y experimentar con la idea de un cuerpo ajeno al suyo, representando retos al estar frente a A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 105un cuerpo con características tradicionalmente masculinas, y biológicamente ajenas hacía un cuerpo con características femeninas, logrando trasgredir las normas establecidas dentro de una presentación cotidiana-tradicional, independiente a su identidad de género. Para cada uno de ellos es una experiencia estética mediante la interacción de sus rasgos personales con el juego del cosplay, entre la cotidianidad y el mundo de fantasía. La realización del crossplay masculino en redes sociales aborda una conexión fuerte entre la identidad y la performatividad, al incorporarse en facetas virtuales donde la interpretación de personajes se manifiesta en gran medida en las fotografías. En el caso del crossplay M2Fse convierte en un juego de interpretación lejos de la estigmatización de los atributos del género para la construcción de relaciones y reproducción de un espacio donde se logra transgredir las normas de vestimenta. Existe una identificación mayor a lo que podemos llamar “cross-sexual”, al ser consumidores de diversos productos, accesorios, props, al conllevar un esfuerzo en la búsqueda del reconocimiento de una representación perfecta. REFERENCIASAcosta Fandiño, J. J. (2018). Escenas de la masculinidad cosplay y exploraciones del cuerpo deseado y la extimidad. Lúdica Pedagógica. Educación Física, recreación y deporte. Acosta Morales, J. (2016). Movimiento Cosplay en la Ciudad de León Guanajuato. Léon: Universidad de Guanajuato.Álvarez-Gayou Jurgensen, J. L. (2003). Cómo hacer investigación cualitativa. Fundamentos y metodología. México: Paídos Educador.Cruz, A. (07 de agosto de 2018). México gana campeonato mundial de cosplay en Japón.Darley, A. (2002). Cultua Visual digital. Espectáculo y nuevos géneros en los medios de comunicación. . Paídos.ErusNoctem. (14 de abril de 2020). Colectivo crossplay, trans y trapitos . (M. H. Luz, Entrevistador)Ferri Aracil, P. (2006). Manual de Introducción a las Comunidades virtuales. Mosaic. Tecnologías y comunicación multimdia.Fujiwara, K., Tsunemi, R., Katayama, S., Arata, R., Shinya, M., Hatano, Y., . . . González, S. L. (2017). Cosplay ¿Buscando otra identidad? COMUNICKANDA/TOKIO, https://comunickanda.files.wordpress.com/2017/01/cosplay-otra-identidad.pdf.Gallego Vázquez, J. A. (2013). Comunidades virtuales y Redes Sociales. Wolters Kluwer.K. Denzin, N. (2016). Re-leyendo performance, praxis y política. Grupo de Interés especial en Investigación cualitativa en español y Portugués. Internacional Association of Qualitative Inquiry. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 9 106Lami, R. d., Rodriguez del Rey, R. M., & Pérez, F. M. (2016). Las Comunidades virtuales de aprendizaje: sus orígenes. Univeridad y Sociedad. Revista Científica Multidisciplinaria de la Universidad de Cienfuegos. Septiembre- diciembre, volúmen 8, 93-101.Leng, R. (2013). Gender, Sexuality, and Cosplay: A Case Study of Male-to-Female crossplay. The Phoenix Papers First Edicion, 89-110.Lévy, P. (2007). Cibercultua. Informe al Consejo de Europa. España: Anthropos editorial & Univerisad Autónoma Metropolitana.Lokkie. (2016). pandacurioso. Obtenido de pandacurioso: https://esports.as.com/league-of-legends/cloud9/sneaky/Matteucci, C. (18 de marzo de 2018). Tarreo. Obtenido de Tarreo: https://www.tarreo.com/noticias/467914/Jugador-profesional-de-Cloud9-Sneaky-sorprende-a-sus-fanaticos-con-transmision-en-cosplay-de-LuxMier, R. (2006). Vértigos de la opacidad: tiempos y experiencia en el régimen tecnológico. TRAMAS 25. UAM-X , 13-39.Okuda Benavides, M., & Carlos, G.-R. (2005). Métodos en investigación cualitativa, triangulación. Colombiana de Psiquiatría. Volumen XXXIV, número 1, 118-124.Poliniato, A. A. (2011). Mangas y animación japonesa: epítomes de cultura y estética posmodernas. En J. Vilasr, & R. Alvarado, Comunicación, lenguajes y cultura. Intersecciones con la estética (págs. 91-154). México: Univerisidad Autónoma Metropolitana .Quiroz Castillo, L. I. (2015). Cosplay, Jugando a ser otro. El uso del disfraz en la construcción sociocultural de las comunidades otaku en México. México: Escuela Nacional de Antropología e Historia.Serrano Pérez, J. F. (2017). Carnaval Cosplay. El disfraz como campo de negociación de alterridades en el CArnaval de Tlaxcala y en el cosplay del Distrito Federal. México : Universidad Nacional Autónoma de México.Taguenca Belmonte, J. A. (2016). La identidad de los jóvenes en los tiempo de la globalización. Revista Mexicana de Sociología, 633-654.Torti Frugone, Y. d. (2018). Cosplay: Origen y Comunidades virtuales . Revista Luciérnaga , 4-13. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 107Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 10 MODELO DE NEGÓCIO E GESTÃO PARA UM AMBIENTE VIRTUAL DE NOTÍCIAS COLABORATIVO (AVNC)Data de submissão: 14/10/2021Daniele Fernandes Rodrigues UFF – Universidade Federal Fluminense / Departamento de AdministraçãoMacaé – Rio de Janeirohttp://lattes.cnpq.br/4090157516142340Luiz Renato de Souza JustinianoUENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense - RJ / PGCL - Programa de Cognição e LinguagemCampos dosSão Paulo, desde o século XIX. Para fazer a análise de comentários, foram delimitadas as postagens no tópico “Bares e Restaurantes de Campinas”, em especial às do Centro de Convivência Cultural e seu entorno, conhecido como Setor, nos anos 80 e 90. Foi possível perceber que esse tipo de conteúdo atrai todo o tipo de público, inclusive os mais jovens. Os significados das imagens, entretanto, são diferenciados entre quem viveu a época e quem não viveu. Para o primeiro grupo, remetem a experiências vividas. Para o segundo, são curiosidades de um tempo em que ainda eram crianças ou sequer haviam nascido. Inferimos que as trocas no ecossistema on-line são relevantes para os estudos da comunicação, haja vista produzirem diálogos e interatividades entre diferentes gerações, ativando memórias e simbologias.PALAVRAS-CHAVE: Facebook; Campinas de Antigamente; Fanpage; Centro de Convivência.INTRODUÇÃO TEÓRICANo início de sua criação e popularização, as redes sociais on-line atraíram principalmente o público mais jovem. Mais aberto a novidades e às inovações tecnológicas, era natural que a geração que nasceu ou cresceu digital fosse a primeira a aderir à onda das redes. Com o passar do tempo, entretanto, o público adulto e idoso começou a se integrar mais e aumentar a sua participação nesse universo, tendência que acelerou com a pandemia de Covid-19 e o distanciamento social.Essa variedade de gerações que hoje habitam o mundo virtual acabou gerando um interessante fenômeno de significações diferentes das imagens postadas em fotos e vídeos que podem ser identificadas em comentários, mesmo que não seja divulgada a idade dos internautas. Para as redes sociais virtuais era fulcral conquistar esse público, tanto pela sua importância social e política quanto econômica. Na chamada “economia da atenção”, é essencial atrair cada vez mais pessoas e por mais tempo possível para que forneçam o maior número de A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 2dados possíveis. Williams (2018) descreve como a nossa atenção, nos dias atuais, se transformou em uma enorme fonte de geração de recursos. Quanto mais tempo nos mantemos conectados a um site ou rede on-line, mais tempo estamos gerando recursos, fornecendo dados pessoais e coletivos que atraem anunciantes e produtos que atendam às nossas necessidades e desejos.Mas como conseguir seduzir o público adulto e até o da chamada terceira idade para essas redes? A barreira tecnológica desse público foi superada rapidamente pelo interesse em aprender a lidar com emergentes tecnologias, por necessidades profissionais ou pelo próprio desenvolvimento de formas mais simples, amigáveis e intuitivas de utilização do mundo virtual.Não bastava quebrar a resistência às novas tecnologias para atrair essa audiência. O Google, entre as gigantes tecnológicas, talvez seja a que tenha tido menos dificuldade em conseguir a aproximação com adultos e idosos por conta de sua ferramenta de buscas. Para ter informações rápidas que auxiliassem em suas atividades pessoais ou profissionais, uma das primeiras lições ensinadas nas aulas de informática das faculdades de terceira idade ou pelos mais jovens ao ensinar seus pais e avós a lidar com a Internet foi o processo de “dar um Google” para encontrar o que se precisa.A Amazon também conseguiu aumentar essa proximidade tão logo começou a diminuir a desconfiança para as compras on-line. O consumismo não tem barreira de idade e as facilidades de compra, de recebimento de produtos, os preços convidativos e a conquista dos aficionados por literatura por meio do Kindle ajudaram nessa aproximação.As redes e mídias sociais digitais, como Facebook, Twitter, WhatsApp e Youtube, precisaram recorrer a outras estratégias, uma delas bem delineada e que podemos chamar de “economia da saudade”. No WhatsApp, os grupos de famílias ou de amigos e ex-colegas de escolas e universidades que estavam separados fisicamente e em busca de reencontros acabaram se tornando um relevante ponto de atração dessa audiência adulta.No Twitter, Youtube e Facebook, a “economia da saudade” também encontrou um filão. São vídeos, fotos, áudios, páginas e postagens sobre épocas passadas que produzem interesse, publicidade e geração de dados. Podem ser focados em períodos e temas específicos, como músicas e bandas dos anos 80, seriados e desenhos animados antigos, objetos, comidas, roupas, brinquedos e qualquer coisa que tenha marcado uma geração. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 3OBJETO EMPÍRICO E ANÁLISE: FAN-PAGE CAMPINAS DE ANTIGAMENTE NO FACEBOOKEntre as diversas páginas do gênero, analisamos uma no Facebook que alcançou considerável visibilidade e estudamos algumas de suas características. A página é chamada “Campinas de Antigamente” e tinha no dia 13 de novembro de 2020, 46.391 seguidores. Criada em 2012, ela se apresenta da seguinte forma:Um povo só preserva aquilo que ama! Um povo só ama aquilo que conhece! Em 2012, foi criada a Primeira Fan-page do facebook destinada a todos os amantes de Campinas, nascidos aqui ou não, assim como eu, meu nome é Renata Bianca, Membro do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas, sou pesquisadora da história, origem e tudo que envolva Campinas e os seus habitantes. (FACEBOOK, 2021, ON-LINE).Imagem 1: Campinas e seus habitantes.Fonte: Facebook, 2021.A Fanpage pedia a seus seguidores que colaborassem com fotos, vídeos e outras informações sobre épocas, eventos, pessoas e locais marcantes da cidade. Reuniu centenas de imagens que foram separadas por temas ou anos específicos. Em 2016, a criadora parou de abastecer a página alegando “motivos pessoais”. O sucesso, todavia, continuou, assim como a atração de seguidores. Uma atenção que culminou até em um plágio e tentativa de ganhar dinheiro com a marca. Uma mensagem publicada em 17 de julho de 2020 alertou:ATENÇÃO, LEIAM POR FAVOR!!!!Boa tarde amigos, fãs e seguidores da pagina Campinas de Antigamente, peço encarecidamente que vocês denunciem esta pagina mentirosahttps://www.facebook.com/Campinas-de-Antigamente.../... A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 4pois trata-se de uma pagina FAKE, usando a logomarca, as fotos e a propriedade intelectual da página. NÃO autorizei usar a minha marca nem o conteúdo da página, também não autorizei mensagens em meu nome.Quem me conhece, sabe a seriedade do meu trabalho, e sabe também que essa página é o fruto de uma vida toda!Recebi varias mensagens informando que essa pagina FAKE, tem entrado em contato pedindo dinheiro as pessoas.NUNCA, EM TEMPO ALGUM A PAGINA CAMPINAS DE ANTIGAMENTE PRATICOU ESSES ATOS, O INTUITO DA PÁGINA ERA LEVAR ENTRETENIMENTO E CULTURA AOS SEUS 50 MIL SEGUIDORES! PAREI DE PUBLICAR NA PAGINA POR MOTIVOS PARTICULARES, MAS ELA NÃO ESTÁ ABANDONADA, POR FAVOR, DENUNCIEM, JÁ FIZ UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA E ACIONEI A JUSTIÇA! MUITO OBRIGADA PELA ATENÇÃO!Renata Bianca (Criadora e idealizadora da pagina oficial Campinas de Antigamente). (FACEBOOK, 2021, ON-LINE).Nos anos em que a página foi abastecida com frequência, as fotos e os vídeos foram divididos em 73 tópicos, desde o século XIX, passando por décadas específicas no século XX e por temas específicos, como Comércio de Campinas – 161 itens; Monumentos de Campinas – 48 itens; Trens, Ferrovias e Estações – 41 itens; Futebol em Campinas – 74 itens; Parque Taquaral – 54 itens; Quem Foi? – 103 itens; Bares, Restaurantes e Casas Noturnas – 162 itens; Trajetória da educação em Campinas – 324 itens; Curiosidades – 197 itens; Famílias Tradicionais de Campinas - 91 itens; Clubes de Campinas – 104 itens; Teatro Municipal Carlos Gomes – 6 itens; Bandas e Artistas de Campinas – 35 itens; Fábricas, Indústrias e Companhias de Campinas – 78 itens; Templos e Igrejas de Campinas - 65 itens; Documentos Pessoais Antigos – 48 itens; Fazendas de CampinasGoytacazes – Rio de Janeirohttp://lattes.cnpq.br/7075623095606785Carlos Henrique Medeiros de SouzaUENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense - RJ / PGCL - Programa de Cognição e LinguagemCampos dos Goytacazes – Rio de Janeirohttp://lattes.cnpq.br/5410403216989073RESUMO: A dificuldade do negócio jornalístico em sobreviver, tendo em vista as mudanças tecnológicas, o crescimento do meio digital, predominância da riqueza intangível, valorização do capital intelectual, dentre outras variáveis, tem levantado a questão da real possibilidade de uma organização jornalística sobreviver neste cenário. Este artigo tem por objetivo demonstrar um modelo de negócio e gestão para um ambiente virtual de notícias colaborativo – AVNC. De cunho interdisciplinar este ambiente envolve pesquisas da área de comunicação, sistema de informação, administração e contabilidade e busca atender as demandas de geração, armazenamento, recuperação, processamento e transmissão de informações nesta era digital. Um ambiente cada vez mais inteligente, colaborativo, com a participação ativa de todos os agentes envolvidos, ou seja, com a interência total do leitor-usuário de internet. Um modelo de negócio e gestão que tem como principal diferencial o reconhecimento da riqueza intangível, além dos tradicionais ganhos tangíveis, numa era de nova economia, onde prevalece o negócio digital e a primazia da riqueza intangível, reconhecida na expectativa de ganhos futuros destas empresas. Regido pela inteligência lógica de um sistema de controle que tem como propósito a congruência de objetivos dos agentes formadores do negócio, capaz de mensurar a contribuição de cada agente, gerando seus respectivos reconhecimentos monetários. Através de um processo cíclico de criação, entrega e captura de valor por parte de todos os agentes envolvidos que possibilite o planejamento, controle, feedback e replanejamento, o modelo proposto está apoiado em um sistema de controle de congruência de metas que irá possibilitar o gerenciamento deste ambiente, assegurando sua continuidade e expansão de abrangência.PALAVRAS-CHAVE: Indústria Jornalística, Modelo de negócio, modelo de gestão, Riqueza Intangível A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 108BUSINESS AND MANAGEMENT MODEL FOR A COLLABORATIVE VIRTUAL NEWS ENVIRONMENT (CVNE)ABSTRACT: The difficulty of the journalistic business in surviving, in view of technological changes, the growth of the digital environment, the predominance of intangible wealth, the valorization of intellectual capital, among Other variables, has raised the question of the real possibility of a journalistic organization surviving in this scenario. This paper aims to demonstrate a business model and management for a virtual collaborative News environment (VNCE. Interdisciplinary environment involves research in the area of communication, information system, administration and accounting and seeks to meet the demands of generation, storage, retrieval, processing and transmission of information in this digital era. Na increasingly intelligent, collaborative environment with the active participation of all the agents involved, that is, with the total interaction of the reader-user of the internet. A business and management model that has as main differential the recognition of the intangible wealth, besides the traditional tangible gains, in an era of new economy, where the digital business prevails and the primacy of the intangible wealth, recognized in the expectation of future gains of these companies. Governed by the logical intelligence of a control system whose purpose is the congruence of objectives of the agents that form the business, able to measure the contribution of each agent, generating their respective monetary recognition. Through a cyclical process of creation, delivery and capture of value by all the agents involved that allows planning, control, feedback and replanning, the proposed model is supported by a goal congruence control system that will enable management of this environment, ensuring its continuity and expansion of scope.KEYWORDS: Industry Journalism, Business Model, Management Model, Intangible Wealth.CONSIDERAÇÕES INICIAISA ebulição de transformações tecnológicas, especialmente influenciadas pelas mídias digitais, acarretou mudanças de paradigmas na maneira como as informações eram e/ou são tratadas, gerando um grande impacto no mundo dos negócios e, de maneira ainda mais incisiva e direta, nos negócios relacionados à informação, como as organizações jornalísticas.Com este cenário de influência digital, as organizações jornalísticas vêm se adaptando e se reinventando, especialmente depois da transformação sofrida em seus meios de distribuição e circulação pós-popularização da internet e surgimento do ciberespaço, onde passaram a apresentar as seguintes características:• migração do meio de transmissão impresso para o digital;• dificuldades em manter receitas no meio impresso e necessidade de mudar a forma de captação de receitas no meio digital; • interatividade, na qual os antigos consumidores dos meios de comunicação tornaram-se produtores e consumidores ao mesmo tempo;• a necessidade de domínio de diversas mídias; A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 109• predominância da geração de valor em intangíveis, gerando a necessidade de priorização de investimentos em capital intelectual;• uma grande diferença entre o valor patrimonial e o valor de mercado das empresas;Este cenário tem exigido o desenvolvimento de novos modelos de negócio e gestão para o jornalismo digital (COSTA, 2014), visto que o ambiente virtual nos leva a olhar os negócios de mídia de uma nova forma, o que exige negócios inovadores que ajudem a navegar melhor neste mundo convergente (OSTERWALDER, 2011; JENKINS, 2009).O Núcleo de Pesquisa em Comunicação, Administração e Tecnologia da Informação (CATI), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual do Norte Fluminense - UENF, que faz parte do Grupo de Estudos da Educação, Tecnologia da Comunicação e Informação - GETIC, cadastrado no CNPQ, tem como proposta de pesquisa o desenvolvimento de ambientes e ferramentas que busquem atender às demandas de geração, armazenamento, recuperação, processamento e transmissão de informação (notícias) nesta era digital. De cunho interdisciplinar, por envolver conceitos das áreas de comunicação, sistema de informação, administração e contabilidade, esta pesquisa teve por objetivo demonstrar um modelo de negócio e gestão para um ambiente virtual de notícias colaborativo (AVNC), já que a forma de produzir informação mudou, e a monopolização da distribuição que antes pertencia à indústria jornalística já não pertence mais e, praticamente, qualquer indivíduo pode produzir e distribuir informação (COSTA, 2014).Desta forma, nesta nova era, a riqueza não está mais centrada apenas em benefícios físicos; mas, principalmente, no capital intelectual e em ativos intangíveis o que gera a necessidade de um modelo de negócio e gestão que considere essa riqueza intangível na geração de valor das organizações jornalísticas desta era digital.DISRUPÇÃO NA INDÚSTRIA JORNALÍSTICA EM TEMPOS DE CIBERESPAÇO E CIBERCULTURA Foi por volta de 1990 com popularização da internet, o que possibilitou a interligação dos computadores em rede, que o termo Ciberespaço se tornou mais conhecido, tendo sido definido por Lévy (1999, p. 94) como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores”, o que já o fazia prever a revolução que causaria:“Esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaçoo principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século” (LEVY, 1999, p. 95).Este novo espaço, chamado ciberespaço, possibilitou uma maior interação entre as A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 110pessoas, aprofundando as relações sociais e possibilitando a formação de comunidades, ao que Levy (1999, p. 17) vem chamar de Cibercultura, ou seja, “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Para Santaella (2013, p. 136) o Ciberespaço é um espaço com existência própria, de natureza móvel, fluido e líquido, onde “a informação circula num piscar de olhos” e “tudo se move em conexão”, o que acabou por dar origem a uma nova forma de cultura, chamada cibercultura. Com o ciberespaço, toda a dinâmica de funcionamento da indústria jornalística foi alterado, mudando principalmente todo o seu processo de impressão e distribuição da notícia. Os gastos com impressão, circulação e distribuição da notícia praticamente desapareceram e isso gerou a necessidade de um novo desenho de modelo de negócio na indústria jornalística, como esclarece Costa (2014): A forma antiga de produzir informação mudou, a monopolização da distribuição, que pertencia a uma indústria chamada jornalística, não pertence mais. Qualquer um agora pode produzir e distribuir esta informação. O que está acontecendo é uma combinação entre meio e comunicação, nascendo assim a superdistribuição (COSTA, 2014, p.54).Em tempos de constantes mudanças tecnológicas, é provável a interrupção do trajeto normal de algum processo, são os chamados momentos disruptivos. Na indústria jornalística não foi diferente, é possível perceber através da figura 01 uma aceleração de eventos disruptivos, que não vieram para otimizar a atividade produtiva jornalística, mas alteraram, e estão alterando, a essência do que fazer, transformando totalmente esta indústria. Figura 01 - Linha do tempo de eventos disruptivos para indústria jornalísticaFonte: Rodrigues (2017) A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 111Todas estas mudanças têm gerado um ambiente dinâmico e competitivo, onde a riqueza não está mais centrada apenas em benefícios físicos e sim no capital intelectual e em ativos intangíveis, o que tem feito com que gestores precisem gerar resultados cada vez melhores (IUDICIBUS, 2010). Ou seja, no âmbito empresarial, a fusão entre conhecimento e tecnologias disponíveis gera benefícios intangíveis, também conhecidos por Capital Intelectual. As organizações que deixaram de agir isoladamente para atuar em “sinergia, parceria, com capacidade de juntar empresas de diversos setores para gerar um negócio independente” (NASSIF, 2000, p. 11) são consideradas da “nova economia”. Segundo Siqueira e Crispim (2012, pág. 11) o termo “nova economia” pode também ser chamado de economia digital, economia da internet ou economia da web, onde “as redes digitais e as infraestruturas de comunicação proporcionam uma plataforma global a partir da qual indivíduos e organizações interagem, comunicam-se, colaboram e garimpam informação”.“Nova economia” é o novo conceito de fazer negócios na era digital, onde a moeda corrente é a informação e o grande beneficiário é o cliente. Baseada no conceito de tempo real da internet, em que distâncias não existem e quase tudo está a um clique, foi preciso rever as políticas de relacionamento entre empresa e cliente.São em ambientes dessa ordem aberta e porosa que a existência viva das comunidades virtuais pode germinar, assim como as visões mais recentes do significado de organizações, que vem a ser definido como “processos orgânicos e dinâmicos em que novos elementos entram constantemente em cena” (SANTAELLA, 2010, p. 278).AS DIFERENTES RIQUEZAS NAS ORGANIZAÇÕES DA “NOVA ECONOMIA”Em tempos de organizações da “nova economia” como mensurar a riqueza das empresas, já que uma parcela da riqueza é tangível com seus ativos quantificáveis e uma outra grande parte é intangível como suas marcas, prestígio, confiabilidade e conhecimento. Considera-se aqui importante analisar a riqueza sob dois aspectos: Tangível e Intangível.A Riqueza Tangível é representada pela tradicional confrontação de receitas, custos e despesas de um determinado período, onde se obtém o resultado de um determinado período que de forma direta altera a riqueza do negócio. Já a Riqueza Intangível é o valor agregado ao conhecimento da empresa sobre um produto ou processo, e nessa concepção de negócio, conhecimento tem maior valor que patrimônio físico. Com o advento da era digital, o intangível passa a representar a parte de maior valor de uma empresa (KAYO, 2002).Nesse contexto, em que as empresas precisam buscar novas formas de geração de valor, o que irá definir o efetivo valor da empresa, é a melhor interação entre ativos tangíveis e intangíveis, já que é difícil dissociar um do outro. (PEREZ e FAMÁ, 2006).Autores como Kayo (2002), Lev (2001), Stewart (1998) e outros têm afirmado que a A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 112geração de riqueza nas empresas estaria diretamente relacionada com os ativos intangíveis, pois esses ativos seriam responsáveis por desempenhos econômicos superiores e pela geração de valor aos acionistas e, ainda, que uma maior presença de ativos intangíveis não contabilizados poderia explicar as lacunas entre o valor de mercado das empresas e o valor refletido pela contabilidade tradicional, termo conhecido como goodwill. Quantificar esse valor intangível, que é a lacuna existente entre o balanço patrimonial de uma empresa e o seu valor de mercado, goodwill, é um dos grandes desafios da atualidade, especialmente para as empresas que detêm elevado conhecimento técnico, como esclarece Catelli (2001):É o goodwill que constitui, principalmente, a capacidade de a empresa, como subsistema, interagir eficazmente como o macrossistema ambiente. É essa capacidade que a conduz às decisões acertadas, pelas quais a empresa, já no presente, antecipa de algum modo a criação futura de valor, aumentando o valor do seu patrimônio. (CATELLI, 2001, p.31).Apesar destes “gurus” da década de 1990 e da primeira década do século XXI, já terem revelado a necessidade de considerar outros valores além do “núcleo duro” da mensuração de resultados, como por exemplo os fluxos de caixa, custos históricos, desgastes de ativos etc.; ainda não foi possível perceber nos modelos de negócio e gestão sua capacidade de captar toda a magnitude da importância da riqueza intangível na geração de valor das organizações da “nova economia”. No cenário do mundo digital, não faltam exemplos de empresas com esse perfil para serem citados: o Instagram foi adquirido pelo Facebook por um bilhão de dólares em 2012, tendo apenas 13 funcionários (Fernández, 2017); o Snapchat recusou uma oferta de US$ 3 bilhões; e o Facebook, comprou o Whatsapp por US$ 19 bilhões (COSTA, 2014).Outro exemplo é o AirBnB, um mercado comunitário online para pessoas anunciarem, descobrirem e reservarem acomodações ao redor do mundo. Fundada em 2008, a AirBnB foi muito rejeitada no início, mas em 2017 se tornou uma gigante, tendo em alguns momentos na sua trajetória, como em junho de 2016, apresentado valor de mercado maior do que empresas brasileiras tradicionais como Petrobras e Vale. Segundo informações do Wall Street Journal, a empresa gerou receita de US$ 340 milhões e caixa de US$ 2,2 bilhões no terceiro trimestre de 2015 (BORNELI, 2015).Somente em 2019, a Airbnb movimentou R$ 10,5 bilhões no Brasil, considerando não apenas a hospedagem, mas toda a cadeia que envolve esse tipo de turismo, como comércio e restaurantes locais (SALOMÃO, 2020). Em 2020, de acordo com o site cbinsights, as startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares,chamadas “unicórnios”, foram classificadas em termos de valor conforme tabela 01, estando a Airbnb em 6ª colocação: A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 113Referenciamento Company Valuation ($BCountry Category1 App - TikTok Toutiao (Bytedance) $75,00 China Artificial intelligence2 Uber China Didi Chuxing $56,00 China Auto & transportation3 Serviços Financeiros Stripe $36,00 United States Fintech4 Transporte Aeroespacial SpaceX $36,00 United States Other5 Gerenciamento de dados Palantir Technologies $20,00 United States Data management & analytics6 Compartilhamento hospedagemAirbnb $18,00 United States Travel7 Concorrente TikTok Kuaishou $18,00 China Mobile & telecommunications8 Serviços Financeiros One97 Communications$16,00 India Fintech9 Serviço entrega alimentos DoorDash $16,00 United States Supply chain, logistics, & delivery10 Jogo Epic Games $17,80 United States OtherTabela 01: Global Unicorn Club: Private Companies Valued at $1B+Fonte: elaborado pelos autores, a partir dos dados do site cbinsights.com (2020).Finalmente em dezembro de 2020, após vários anos de expectativas e especulações, a Airbnb fez sua estreia na bolsa de valores, com alta de 112% e maior IPO1 do ano nos EUA. A Empresa iniciou o dia com preço inicial da ação a US$ 68, mas o interesse dos investidores foi tanto que no final do seu primeiro dia na Nasdaq, a ação já estava cotada a US$ 144,71, com valor de mercado de US$ 99,995 bilhões, segundo informações do Estadão de São Paulo (Romani e Capelas, 2020).Esta grande diferença entre o valor de oferta inicial da ação e o valor de mercado da Airbnb apresentada no lançamento do seu IPO é uma boa exemplificação da materialização do Goodwill – representa naquele momento a mensuração da riqueza intangível do Airbnb, através do ágio que o investidor estava disposto a pagar. Desta forma, constata-se conforme campo de referenciamento na tabela 01, que a concentração de riqueza destas empresas da era digital, se compõem predominantemente em riqueza intangível.Neste contexto, de migração de geração de resultados econômicos que se realiza através de ativos tangíveis que passa a ocorrer por meio de ativos intangíveis, se destaca a indústria jornalística que originalmente como uma organização tradicional tinha sua mutação de riquezas baseada em grandes ativos tangíveis de seu parque industrial (rotativas), migrando para o uso de ativos tangíveis de baixo valor (computadores em redes) através do ciberespaço e da cibercultura. Com isso, adquiriu uma grande capacidade de distribuição e circulação, o que lhe aufere um ativo intangível de extremo potencial de geração de benefícios futuros, ao que chamamos de riqueza.A nova cadeia de valor da indústria jornalística é totalmente distinta da cadeia de valor tradicional. É preciso entender que a forma tradicional de fazer jornalismo mudou. Na nova cadeia de valor, do ambiente digital, é necessário compartilhar distribuição e publicidade. Costa (2014) ainda ressalta que as organizações jornalísticas precisam se transformar em empresas de tecnologia também, pois o novo modelo respira com as redes sociais. Para ele, a questão não é só estar no Facebook ou no Google, é saber estar em 1 IPO é a abreviação de Initial Public Offering que significa Oferta Pública Inicial e que segundo Gitman (2012, p. 293) é a “primeira venda ao público das ações de uma empresa”. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 114cada uma destas redes, em cada uma das plataformas digitais, e para isso existe técnica, ou seja, tem que modular para cada rede; e é a isso que ele chama de superdistribuição (COSTA, 2014). GERENCIAMENTO E CONTROLE DE UM AMBIENTE VIRTUAL DE NOTÍCIAS COLABORATIVO (AVNC)A forma como as organizações buscam gerar valor, também chamado de modelo de negócio, tem sofrido inúmeras transformações, devido as disrupções tecnológicas ocorridas nas últimas décadas. Para Osterwalder e Pigneur (2011, p. 15), modelo de negócio mostra “a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização”, ou seja, como criar valor para todos os seus públicos de interesse, sejam eles stakeholders (colaboradores) ou shareholders (acionistas). Os autores ainda explicam que modelo de negócio “é um esquema para a estratégia ser implementada através das estruturas organizacionais dos processos e sistemas” (OSTERWALDER, 2011, p. 15).Já o modelo de gestão define a forma lógica e racional do processo de transformação do objetivo em resultado, através da definição de prioridades e estabelecimento de metas, indo além dos números, para valorizar agentes e pessoas e proporcionar convergência aos objetivos empresariais (KUGELMEIRER, 2014).Para delinear um modelo de negócio e gestão para um ambiente virtual de notícias colaborativo considera-se importante uma visão interativa do processo de planejamento, execução e controle. Em um modelo sistematizado é preciso observar as ações das pessoas, pois se trata de um sistema de atividades humanas. Para ser eficaz um modelo de gestão e seu sistema de controle focado na consecução de resultado econômico, necessita muito mais motivar pessoas para que alcancem objetivos da organização do que simplesmente assegurar-se do que está ocorrendo atualmente.Um sistema de controle busca promover uma identidade entre os objetivos dos membros da organização (indivíduos assim como grupos) e os objetivos da organização como um todo. Infelizmente a congruência total dificilmente é alcançada. Assim o objetivo do sistema de controle é aumentar o grau de Goal Congruence (FLAMHOLTZ, 1979). Desta forma, um modelo de negócio e gestão para organizações jornalísticas da “nova economia” precisa utilizar a inteligência lógica do Goal Congruence na definição dos papéis de todos os agentes envolvidos no negócio. Por meio da abordagem de Flamholtz (1979), que versa a respeito da questão da influência dos sistemas sobre o comportamento dos envolvidos, o principal propósito do Goal Congruence é maximizar a probabilidade de que as pessoas estejam motivadas a alcançar os objetivos organizacionais.Considera-se também importante que este modelo de negócio e gestão utilize um método de solução de problemas, que aqui será adotado o ciclo PDCA, uma ferramenta A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 115de gestão que promove a manutenção e melhoria contínua dos processos, por meio de um circuito de quatro ações: planejar (Plan), fazer (Do), checar (Check) e agir (Act) (CAMPOS, 2014).O Ciclo PDCA pode ser utilizado para manter e melhorar as “diretrizes de controle” de um processo, sob duas óticas: manutenção (metas viáveis e sustentáveis) e de melhoria (são as metas desafiadoras). Através do ciclo PDCA é possível controlar se os esforços estão realmente proporcionando os resultados esperados.Através do modelo de gestão, se estabelece a estratégia a ser implementada, definida pela alta administração, fundamentada nos atributos de cenários e mercados. Para a implementação desta estratégia e o alcance da vantagem competitiva, o modelo se utiliza da estrutura organizacional, mediada pelas ações de planejamento e controle da Controladoria. A controladoria, em seus modelos de mensuração, define as variáveis de apoio a decisão, que têm por objetivo o direcionamento para a convergência ao objetivo empresarial e respectiva transformação em vantagem competitiva.PREMISSAS DO MODELO DE NEGÓCIO E GESTÃO PARA O AVNCA partir do novo cenário traçado para as organizações jornalísticas da “nova economia”, foram identificados os conceitos mais adequados ao controle desta nova forma de gerar valor nas organizações jornalísticas da “nova economia”, de forma a tornar viável sua existência e continuidade. Desta forma, foram delineadas seis premissas que são a base do modelo de negócio e gestão para um ambiente virtual de notícias colaborativo: • Lógica decriação, entrega e captura de valor por parte da organização;• Incremento de riqueza tangível e intangível como valor;• Integração e convergência dos objetivos dos agentes através do Goal Congruence;• Sistema de controle gerencial através do ciclo PDCA;• Estabelecimento de um ciclo virtuoso;• Crescimento através de um ciclo de melhoria de abrangência.Ao se definir um modelo de negócio, é preciso ter em mente que esse negócio precisa criar valor para alguém, entregar esse valor para alguém e, também, capturar valor monetário para continuar funcionando. Essa é a lógica de Osterwalder e Pigneur (2011) e foi utilizada para operacionalização do negócio.Desta forma, com a primeira premissa, foram definidos os agentes formadores deste ambiente, aqui chamado como Portal de Notícias (leitor, publicador, anunciante e o próprio portal), assim como a função desempenhada por cada um deles e as suas relações, estabelecendo-se um processo de criar, entregar e capturar valor, conforme quadro 01: A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 116AGENTES DO NEGÓCIO DESCRIÇÃOFORNECEDORMEIO Publicador Responsável pela geração das reportagens que serão disponibilizadas aos clientes (leitores).FIM Portal de NotíciasFuncionará como responsável para disponibilizar espaços de publicidade para os clientes (anunciantes, grandes portais de notícias e e-commerces).PRODUTOMEIO Reportagens Responsável pela conectividade do cliente (leitor) ao portal.FIMPortal - EspaçoPublicitárioResponsável pelos recebimentos do cliente (anunciante) referente ao uso de espaço publicitário do portal.Portal - Shopping Digital*Responsável pelos recebimentos do cliente (anunciante) referente ao uso de espaço publicitário do Shopping Digital* e comissões sobre vendas originadas no portal.Espaço Publicitário do Portal para AfiliadosResponsável pelos recebimentos dos clientes (grandes portais de notícias e e-commerces) referente a comissões sobre vendas originadas no portal.CLIENTEMEIO Leitor Responsável pela utilização do Produto (reportagens) que, através da frequência de conectividade, proporcionará incremento de riqueza intangível ao negócio.FIMAnunciantesResponsáveis pela utilização do produto (espaço publicitário do portal).Responsáveis pela utilização do produto Shopping Digital2.Grandes Portais de Notícias e E-commercesResponsáveis pela utilização do produto (espaço publicitário para afiliados) onde são exibidos seus produtos e serviços acessórios.Quadro 01: agentes formadores do novo negócio jornalístico.Fonte: Rodrigues (2017).Com a segunda premissa, serão propostas medidas de mensuração de desempenho de todos os agentes envolvidos, com relação às riquezas tangível e intangível. Abaixo, estão relacionados alguns exemplos de medidas de mensuração do incremento de riqueza intangível para atribuição de desempenho às reportagens e de reconhecimento ao publicador3:2 Shopping Digital – será um espaço criado no Portal de Notícias para os comerciantes que atuam na área geográfica em torno das Universidades envolvidas. Esses comerciantes pagarão uma taxa mensal para se vincularem ao portal e o portal, também, receberá uma comissão sobre as vendas que eles realizarem via portal. 3 O detalhamento das medidas de mensuração do incremento de riqueza intangível você encontrará na tese de Dou- A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 1171 - Encontrabilidade em Sites de Busca (qualitativo);2 - Localidade Geográfica do acesso (qualitativa); 3 - Origem do acesso no Ciberespaço (qualitativa);4 - Índice de Abandono de acesso (qualitativa);5 - Número de Acessos (quantitativa);6 - Tempo de permanência (quantitativa).Com o objetivo de fazer o devido reconhecimento monetário ao Portal de Notícias e aos anunciantes, considera-se importante relacionar alguns exemplos de medidas de mensuração do incremento de riqueza tangível para atribuição de desempenho ao Portal – espaço publicitário e Portal – shopping digital: 1 - Faturamento por período – tempo (quantitativo): refere-se ao faturamento em unidades monetárias que um determinado espaço publicitário obteve em um determinado período de tempo. 2 - Número de transações efetivadas no período – tempo (quantitativa): refere-se ao número de transações efetivadas em um determinado período de tempo. Assim, é possível verificar quantas transações o espaço publicitário gerou no faturamento de um determinando período. 3 – Quociente entre faturamento e número de transações efetivadas no período – tempo (qualitativa): refere-se ao número índice de faturamento por transação efetivada em um determinado período. Esse número responderá à questão se o espaço publicitário gerou o faturamento através de muitas ou poucas transações. Torna-se importante ressaltar que não foi o objetivo, nem se teve a expectativa com a presente pesquisa de esgotar as possibilidades de mensurações, com as medidas acima relacionadas. Entende-se que todo bom projeto de desenvolvimento de modelo lógico deve ter sua implementação realizada em fases. Para a efetiva completude necessária de mensurações, tem-se, ao menos, que passar pelas fases de desenvolvimento de um protótipo e teste de sua eficácia.Estabelecidas as medidas de mensuração da criação de valor, tanto tangível como intangível, associadas aos produtos reportagens e espaços publicitários, torna-se importante a dedicação aos respectivos reconhecimentos que serão auferidos aos agentes (publicadores, portal enquanto espaço publicitário e portal shopping digital), como forma de proporcionar o movimento de convergência dos objetivos de todos os agentes envolvidos, conforme prevê a terceira premissa. Desta forma, o modelo prevê um cálculo de incremento da riqueza tangível e intangível para cada agente envolvido nesta criação de valor, estabelecendo reservas monetárias para esses agentes. torado: Modelo de Negócio e Gestão para Portais de Notícias da “Nova Economia”: proposta de modelo conceitual da Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF, 2017. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 118A quarta premissa prevê um sistema de controle gerencial que, por meio do uso do método de raciocínio do ciclo PDCA, serão estabelecidos os ajustes necessários, tanto através do PDCA de Manutenção - manutenção do funcionamento a curto e médio prazo -, como do PDCA de Melhoria - estabelecimento de crescimento de abrangência perpetuando o funcionamento no longo prazo.A ideia central é a da evolução controlada da organização, por meio de um ciclo virtuoso no qual, por meio dos esforços de todos os agentes envolvidos, regidos pela inteligência lógica do Goal Congruence, tem-se a intensificação da riqueza intangível.O estabelecimento do Ciclo virtuoso, conforme prevê a quinta premissa, se daria da seguinte forma: investimento em capital intelectual (aqueles benefícios intangíveis que geram valor para a empresa), por meio de um eficiente sistema de controle gerencial que possibilite o reconhecimento dos agentes, irá provocar incremento de riqueza intangível. Este crescimento de riqueza intangível aumentará a atratividade da organização (do Portal de Notícias ou AVNC), trazendo no presente não só um maior número de anunciantes e clientes e crescimento de abrangência, como também um maior valor agregado dos serviços ofertados, o que se materializará em crescimento de receita tangível que, retroalimentada em novos investimentos em capital intelectual, traria a perpetuidade do ciclo, lógica esta que a figura 02 busca elucidar:Figura 02 - Ciclo Virtuoso de Melhoria de Abrangência.Fonte: adaptado de Rodrigues (2017).O modelo aqui proposto pretende auxiliar: mercados regionais segmentados, uma comunidade, um bairro, uma região da cidade, uma cidade, uma região de um estado, um estado e assim sucessivamente, e a este movimento seria dado o nomede Ciclos de Melhoria de Abrangência, conforme demonstra a figura 03: A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 119Figura 03 - Ciclos de Melhoria de Abrangência.Fonte: adaptado de Rodrigues (2017).Através dos diversos movimentos cíclicos do PDCA no gerenciamento de todas as etapas do Modelo (desenvolvimento das atividades do ambiente), novas áreas de abrangências vão sendo conquistadas; estabelecendo-se, assim, o Ciclo de Melhoria de abrangência, que parte de um foco de localidade, comunidade próxima, para então ir conquistando abrangências superiores, conforme prevê a sexta premissa.A vantagem desta localidade inicial próxima é a otimização do oferecimento de espaços publicitários com a audiência de um público-alvo adequado, de forma assertiva, com um custo acessível para os comerciantes locais, já que o mercado de publicidade digital via web e mobiles ainda apresenta um custo muito alto. Os mercados regionais e suas segmentações, não suportam tão vultosos investimentos e nem teriam custo X benefício otimizado, e é neste nicho que o ambiente virtual de notícias colaborativo pretende atuar.A estratégia de crescimento a ser adotada no modelo proposto para o AVNC será a de iniciar as suas atividades com a comunidade acadêmica das instituições parceiras UENF, UFF e IFF. Sendo seu público-alvo inicial: publicadores (alunos e professores das instituições parceiras), afiliados/anunciantes (comunidade dos bairros circunvizinhos e estabelecimentos comerciais da cidade de Campos dos Goytacazes com atividades de interesse ao público universitário) e leitor (alunos e professores das instituições parceiras, comunidade dos bairros circunvizinhos e estabelecimentos comerciais da cidade de Campos dos Goytacazes).À medida que for crescendo, novas conexões serão estabelecidas, ampliando cada vez mais a sua abrangência, que devido ao ciberespaço, pode vir a saltar para abrangência A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 120nacional e posteriormente mundial, pois nesta era digital tudo é possível, não havendo fronteiras físicas para o crescimento.CONSIDERAÇÕES FINAISDiante do novo cenário em que se enquadram as organizações jornalísticas atuais, são necessárias novas práticas de negócio e gestão que proporcionem possibilidades reais de existência e continuidade dessas organizações, proporcionando a convergência e atendimento tanto aos objetivos empresariais quanto aos objetivos pessoais de todos os agentes envolvidos.Como principal contribuição o modelo trouxe o reconhecimento e a possibilidade de mensuração dos incrementos de riqueza intangível, em organizações da “nova economia”, onde prevalece o negócio digital e a primazia da riqueza intangível, reconhecida no goodwill destas empresas.A partir da seleção de conceitos da área de gestão e negócios, como controladoria, modelo de negócio, modelo de gestão, sistema de controle gerencial, goal congruence, ciclo PDCA, dentre outros, que possibilitassem o controle dessa nova forma de gerar valor em organizações jornalísticas da “nova economia”, é que estes conceitos foram harmonicamente integrados, determinando seis premissas para o modelo.Visando atender à nova realidade dos negócios jornalísticos nesta era de ciberespaço, o modelo pressupõe o reconhecimento dos agentes envolvidos no negócio e propõe medidas de mensuração de sua contribuição, como um grande valor intangível, estabelecendo reservas monetárias para esses agentes, sejam eles leitor, publicador, anunciante ou o próprio portal de notícias etc.Através de um sistema de controle gerencial, estabeleceu-se a possibilidade de medir, avaliar e reconhecer a participação de cada agente envolvido no AVNC, de forma a obter a congruência dos objetivos de todos os envolvidos, utilizando a inteligência lógica do Goal Congruence e garantindo, dessa forma, a expansão da abrangência e continuidade do funcionamento do negócio. O modelo tem como foco inicial uma visão de localidade para disponibilidade de publicidade e serviços acessórios, atendendo a um público-alvo específico e qualificado, onde através da valorização dos agentes proporcionadores de incremento de atratividade do negócio as receitas serão potencializadas e isso ampliará sua área de abrangência.Dessa forma, a proposição conceitual deste modelo vem de encontro a realidade atual das organizações jornalísticas, que precisam redescobrir uma forma rentável de sobreviver frente aos desafios representados pelo desenvolvimento das novas plataformas tecnológicas. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 121REFERÊNCIASANDERSON, C. W. BELL, E. SHIRKY, C. Jornalismo Pós-Industrial: adaptação aos novos tempos. Tradução de Ada Félix. Revista de Jornalismo ESPM. [S.I], v.5, pág. 30 – 89, abr/mai/jun, 2013.BORNELI, J. Airbnb recebe novo aporte e se iguala a Petrobras e Vale em valor de mercado. StartSe, 2015. Disponível em: . Acessado em: 21 fev. 2020. Campos, V. F. TQC - Controle da Qualidade Total no estilo japonês. 9ª. Edição. Belo Horizonte: Ed. Falconi, 2014.CATELLI, A. SANTOS, E. S. Internet: desafio para uma Contabilidade Interativa. Revista Contabilidade & Finanças – FIPECAPI – FEA/USP. São Paulo: FIPECAPI, v.14, p. 24-41, Jan/abr, 2001.CATELLI, Armando (org.). Controladoria: uma abordagem da Gestão Econômica – GECON. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. CBINSIGHTS. The Complete List of Unicorn Companies. 2020. Disponível em: https://www.cbinsights.com/research-unicorn-companies. Acessado em 23 nov 2020.COSTA, Caio Túlio. Um modelo de negócio para o jornalismo digital. São Paulo: Revista de Jornalismo da ESPM, 2014. Disponível: . Data do acesso: 05 out. 2015.FERNÁNDEZ, M. Empresas buscam o funcionário digital. El País. Madri, 2017. Disponível: Acessado em: 18 jun. 2017. FLAMHOLTZ, Eric. Organizational control systems as a managerial tool. California Management Review, v.22, n. 2, p. 50-9, 1979.IUDÍCIBUS, Sérgio. Contabilidade Introdutória. 11ª. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2010.JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2ª. Ed. São Paulo: Aleph, 2009KAYO, Eduardo Kazuo. A estrutura de capital e o risco das empresas tangível e intangível-intensivas: uma contribuição ao estudo da valoração de empresas. Tese de Doutorado e Administração. FEA/USP. São Paulo, 2002. KUGELMEIR, W. Você sabe qual a diferença entre Modelo de Negócio e Modelo de Gestão? 2014. Disponível em: Acessado em: 19 mai. 2019. LEV, Baruch. Intangibles: management and reporting. Washington:Brookings, 2001.LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Ed.34, 2000.____________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.MARTINS, E. ANTUNES, M. A. Capital intelectual: verdades e mitos. Rev. Cont. Fin. USP, São Paulo, n.29, p. 41-54, maio-ago, 2002. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 10 122NASSIF, L. A nova economia. Folha de São Paulo, 2000. Disponível em: . Acessado em: 13 jan. 2017.OSTERWALDER, A. PIGNEUR, Y. Business Model Generation – Inovação em Modelos de Negócio: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro, RJ: Alta Books, 2011.PEREZ, M. M. FAMÁ, R. Ativos intangíveis e o desempenho empresarial. Revista de Contabilidade e Finanças. USP, São Paulo, no. 40, p. 7 – 24, Jan/Abr. 2006.RODRIGUES, F. D. Modelo de negócio e gestão para portais de notícias da nova economia: proposta conceitual. Tese de Doutorado. UENF,2017.ROMANI, B. CAPELAS, B. Airbnb estreia na bolsa com alta de 112% e tem maior IPO do ano nos EUA. O Estado de S. Paulo, 2020. Disponível em: . Acessado em: 21 fev. 2021. SALOMÃO, K. Fim da guerra: Airbnb firma parceria com associação de hotéis em SP. Revista Exame, 2020. Disponível em: . Acessado em: 03 fev. 2021. SANTAELLA, L. A Ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade, ubiquidade. São Paulo: Paulus, 2010.SANTAELLA, L. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013. SIQUEIRA, L. D. CRISPIM, S. F. Modelos de negócio na era digital. Revista Espacios. Vol.33, 2012, pág. 21. Disponível em: http://www.revistaespacios.com/a12v33n07/12330721.htmlSTEWART, Thomas A. Capital intelectual: a nova vantagem competitiva das empresas. 2 Ed. Rio de Janeiro : Campus, 1998. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 123Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 11 ACESSO E CONSUMO DE NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS EM REDES SOCIAIS: NOTAS METODOLÓGICAS PARA A PROBLEMATIZAÇÃO DA NOÇÃO DE “PARTICIPAÇÃO”Data de submissão: 09/10/2021Telma Sueli Pinto JohnsonUniversidade Federal de Juiz de ForaFaculdade de ComunicaçãoPrograma de Pós-Graduação em Comunicaçãohttp://lattes.cnpq.br/1413850282536561Pedro Augusto Farnese de LimaUniversidade Federal de Juiz de ForaPrograma de Pós-Graduação em Comunicaçãohttp://lattes.cnpq.br/2264420474242513RESUMO: Analisamos formas de apropriação de notícias jornalísticas publicadas em sites de redes sociais, com base num construto sobre qualidade da participação, para além das práticas comuns de “curtir” e “compartilhar”. Um total de 1.195 comentários, postados em outubro de 2015 na página do jornal O Estado de S. Paulo no Facebook, foram examinados. Um quadro metodológico, com categorias distintivas de níveis participação como ferramenta analítica para depurar comentários válidos e significativos, é proposto.PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo. Redes Sociais. Problemática da participação. Jornal O Estado de S. Paulo.ACESS AND CONSUMPTION OF JOURNALISTIC NEWS IN SOCIAL NETWORKS: METHODOLOGICAL NOTES FOR THE PROBLEMATIZATION OF THE NOTION OF “PARTICIPATION”ABSTRACT: We analyze ways of appropriating journalistic news published on social networking sites, based on a construct about quality of participation, in addition to the common practices of “liking” and “sharing”. A total of 1,195 comments, posted in October 2015 on the newspaper O Estado de S. Paulo Facebook page, were examined. A methodological framework, with distinctive categories of levels participation as an analytical tool to debug valid and meaningful comments, is proposed. KEYWORDS: Journalism. Social networks. Issues of participation. O Estado de S. Paulo newspaper.1 | INTRODUÇÃOEste trabalho se insere no projeto de pesquisa intitulado “Jornalismo em redes sociais: explorando remediações e modelos de negócios emergentes”, em desenvolvimento desde 2014 na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. O projeto guarda-chuva investiga estratégias editoriais e mercadológicas de marcas jornalísticas tradicionais no contexto brasileiro em sites de redes sociais.Na etapa inicial, a partir de perspectivas teóricas da mídia na era da convergência, particularmente as noções de remediação, interação e redes sociais, examinou-se padrões de forma e conteúdo jornalísticos adotados pelo jornal O Globo em sua página no Facebook, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 124comparando postagens dos meses de fevereiro e agosto de 2014. A análise de conteúdo híbrida (corpus quali-quantitativo) mostrou evidências que o jornal utiliza a rede social como alvo para circulação e recirculação de notícias com potencial de remediação para o seu website, sem interação com os internautas (Johnson; Pereira Jr., 2015).Numa etapa seguinte, o projeto voltou-se para a identificação de modelos emergentes de personalização de notícias em O Globo no Facebook, explorando categorias de conteúdo (soft e hard news) e horários de distribuição. Com base no esquema proposto por Lorenz (2014) sobre os graus possíveis de personalização em publicações na web, 295 postagens foram coletadas entre 11 e 15 de junho de 2015. Análises revelaram (Johnson, 2015), em linhas gerais, que o jornal faz adaptação de conteúdo de acordo com períodos do dia, com picos de atualização à noite e postagens de apelo erótico durante as madrugadas.A investigação, na fase atual, centra em análises sobre formas de acessos, compulsivos ou não, apropriação e deliberação mediada de notícias de empresas jornalísticas tradicionais no Facebook. A interação entre leitores é problematizada sob a ótica da qualidade da participação, para além das práticas de “curtir” e “compartilhar”. Identifica-se, num primeiro momento, gêneros informativos e editorias que geram mais comentários entre os visitantes na página do jornal O Estado de S. Paulo na rede social. A categoria “comentário” é operacionalizada como participação mais ativa e elaborada, atendo-se a critérios de trocas públicas argumentadas por razões (Gomes, 2014; Gomes; Maia, 2008; Habermas, 2003).O monitoramento do Estadão no Facebook foi realizado entre 14 e 16 de outubro de 2015, após pesquisa da norte-americana Bites apontar o jornal como o veículo com maior poder de engajamento na internet no Brasil (Portal Imprensa, 2015). No período, 185 postagens (média diária de 61,6) foram coletadas e 1.195 comentários analisados, dos quais 82% desqualificados e 18% qualificados para uma reflexão sobre limites e possibilidades dos fenômenos da mediação e midiatização na comunicação contemporânea.2 | CONSUMO DE NOTÍCIAS EM REDES SOCIAIS SOB CONTEXTOS ESPECÌFICOSO crescente acesso e consumo de notícias em redes sociais é um fenômeno mundial. Dados do Reuters Institute for the Study of Journalism (Digital News Report 2016) apontam que 51% de um universo de 50 mil entrevistados em grupos focais de 26 países, usam mídias sociais como fontes de notícias toda semana. O Facebook, de acordo com o relatório, é a rede global mais acessada para encontrar, ler/assistir e compartilhar notícias.O relatório identifica, no universo de países pesquisados, que os mais altos índices de utilização das redes sociais como fontes de notícias estão na Grécia (74%), Turquia (73%) e Brasil (72%). O alto consumo de notícias em redes sociais pelos gregos está relacionado à baixa confiança nos jornalistas e nas empresas jornalísticas, o que gera A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 125na população resistência em pagar para receber notícias. Kalogeropoulos (2016, p. 70) observa que há uma alta taxa de participação entre os gregos, em termos de compartilhar e comentar, porque as redes são vistas como “ferramentas de expressão de opiniões e sentimentos diante do contínuo estado de desordem política e econômica” do país.No caso da Turquia, as redes sociais se tornaram populares pela alternativa de acesso às notícias, em função da intensificação do governo turco no controle e supressão da liberdade de imprensa. Yanatma (2016, p. 72) afirma que “as mídias sociais emergiram como uma ferramenta de comunicação-chave para seguir os desenvolvimentos nacionais”. Em sua análise, 64% dos turcos usam o Facebook para compartilhar e discutir notícias em consequência da polarização política no país, mas pessoas com formação educacional mais elevada utilizam, principalmente, redes alternativas como Twitter (30%) e Instagram (12%). Os dados do Digital News Report 2016 relativos ao Brasil apresentam a especificidade de serem representativos do comportamento dos consumidores de notíciasem áreas urbanas. A população brasileira de 204,5 milhões de habitantes com 58% de acesso à internet está representada numa amostra de 2.001 respondentes. O fenômeno da alta taxa de acesso e consumo de notícias em redes sociais não é explicado qualitativamente pelo relatório. Carro (2016), contudo, correlaciona a perda de leitores em nove dentre os dez jornais com maior circulação impressa em 2015, enquanto o uso de notícias on-line cresceu 50% no primeiro semestre de 2015 quando comparado com o mesmo período do ano anterior.Um olhar mais atento sobre os dados quantitativos do relatório nos leva a questionar as formas de consumo de informação jornalística em redes sociais pelos brasileiros, particularmente notícias produzidas e colocadas em circulação por marcas jornalísticas tradicionais, em busca da compreensão de como os usuários dessas páginas se apropriam das notícias para além de práticas comuns como “curtir” e compartilhar”. Parte-se do pressuposto que a categoria “comentário”, em redes sociais, configura-se como forma de participação mais ativa e elaborada, sob o viés da interação humana comunicativa (Primo, 2007; Rost, 2014), do que escolhas mais simplistas e automatizadas de clicar em curtir, descurtir ou compartilhar.A problematização sobre formas de acesso, consumo e apropriação de notícias em redes sociais configura-se como questão relevante num cenário mundial em que os algoritmos ganham, cada vez mais, sofisticação e ubiquidade na mediação dos discursos e fluxos de conhecimento humano (Gillespie, 2014; Santi, 2015; Wooley, 2016). Wooley (2016) descreve algoritmos sociais – em oposição a algoritmos gerais de busca, navegação e recomendação – como um tipo particular de software automatizado desenhado para coletar informações, tomar decisões, interagir e imitar usuários reais online. Um dos aspectos maléficos da automação digital em redes sociais, argumenta Wooley (2016, p. 2), é que esse tipo de robotização está sendo usado para propósitos A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 126políticos. “A característica-chave dessa variedade de robôs não é onde eles estão, por exemplo, numa plataforma particular, mas o que eles fazem [...], coletar e filtrar informações”. Em linha com uma literatura internacional em construção, Wooley (2016) declara que os algoritmos sociais estão sendo amplamente utilizados como recurso de manipulação da opinião pública em sites como Facebook e Twitter.No propósito de avançar para um construto sobre noções de participação mediada pelas tecnologias contemporâneas, atentando para as possibilidades algorítmicas de manipulação sociopolítica, decidiu-se como estratégia metodológica quantificar num primeiro momento, as categorias “curtir”, “compartilhar” e “comentar” como formas gerais de participação. Num momento seguinte, adotou-se como critério selecionar notícias que geraram um número de comentários superior aos compartilhamentos para, então, proceder à análise da natureza dos comentários tendo como pano de fundo critérios de validação e argumentação justificada por razões.Uma das bases dessa classificação considera a categorização geral aplicada no Digital News Report 2016 sobre formas de engajamento no acesso e consumo de notícias em redes sociais. O participante ativo é considerado aquele que lê, compartilha e comenta notícias, enquanto o participante reativo lê, compartilha, mas não comenta, e o participante passivo lê, mas não compartilha e nem comenta. Um outro ponto de apoio foi a reportagem investigativa publicada pela revista Superinteressante intitulada “O lado negro do Facebook”, em que Santi (2015) revela os likes como espécie de moeda social da rede, cobrados monetariamente e funcionando sob a lógica dos algoritmos.Santi (2015) testou o Facebook criando quatro diferentes páginas vazias, sem postagem de qualquer conteúdo. Na comparação, o jornalista observou que quando há pagamento pelos “impulsionamentos” das postagens (em inglês, boosting), o algoritmo produz muitos feedbacks. O jornalista pagou R$ 20 em troca de likes, para testar o sistema, recebendo 69 “curtidas” em menos de 24 horas. Em outra página, Santi recebeu 167 likes após o pagamento de R$ 96 ao Facebook. O mais revelador é que Santi, ao entrar em contato com quem havia curtido as páginas para saber as razões, usando o seu nome real, recebia mensagens desconexas e truncadas, produzidas pelo algoritmo. Segundo releva Santi:Uma ou outra respondeu, sempre seguindo o mesmo padrão pouco esclarecedor: “Não tinha nada para curtir, mas eu curti assim mesmo”. Fui perdendo o ânimo até que, por algum motivo, o Facebook passou a me impedir de enviar mensagens pagas. Ele deixou de ganhar alguns reais – e eu perdi meu único jeito de entrar em contato com as pessoas que tinham curtido minhas páginas falsas. Aparentemente, pelo menos algumas delas eram gente de verdade, não robôs programados para dar cliques. Por que deram likes, jamais saberemos. (Santi, 2015, p. 39).A incógnita apresentada por Santi, bem como o crescente atravessamento da lógica dos algoritmos na vida pública, constituem-se como parte das múltiplas dimensões dos A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 127fenômenos da comunicação mediada. Mitchel e Hansen (2010, p. XII) observam que o termo “mídia”, como um substantivo singular coletivo, é de alguma forma vinculado à emergência dos meios de comunicação de massa – do investimento do século XVIII no papel como o meio de circulação e sociabilidade, à invenção do século XIX com a eletricidade como o meio da fenomenalidade, aos jornais do fim do século XIX e à televisão do século XX, formas através das quais a informação é mediada.As reflexões de Mitchell e Hansen são relevantes para os propósitos deste trabalho à medida que chamam a atenção para a perspectiva de que os estudos da mídia não podem se restringir aos estudos dos meios de comunicação enquanto tecnologias per si, numa linha determinista, mas devem se abrir aos estudos da racionalidade fundamental entre o homem e a técnica (Stiegler, 2010), enquanto função irredutível da mediação na história humana.Como Mitchell e Hansen explicam,O significado moderno mais antigo de meio como substância intermediadora parece não apenas fazer uma aparição disfarçada, mas fazer assim numa maneira – ou seja, como uma generalidade – capaz de sustentar a integridade do termo mídia através de suas várias disjunções e reinvenções periódicas. Como um termo denotando “substância infiltrada e envolvente” em que os organismos humanos vivem, meio designa uma relacionalidade mínima, uma abertura mínima para a alteridade, um acoplamento ambiental mínimo, que aparece de alguma forma central para o entendimento de nós mesmos como seres “essencialmente” protéticos. (Mitchell e Hansen, 2010, p. XII).Essa noção mais abrangente de mídia interessa particularmente, como pano de fundo para o desenvolvimento deste trabalho, pelas possibilidades de reflexão e análise de empirias sob o ângulo das noções de mediação e midiatização. É perceptível que a amplitude que a noção de mediação ganhou nos estudos da comunicação (Martino, 2015), nas últimas duas décadas, dificulta seu valor heurístico e rendimento analítico. Silverstone (1999) atribui caráter genérico e fortemente dessingularizante da mediação, bem como a não-explicitação das determinações políticas, econômicas, estéticas, técnicas.Para Silverstone (1999), é necessário pensar a mídia como um processo de mediação, de “circulação de significados”. Como explica Silverstone (1999), a mediação é infinita, constrói, reafirma e descontinua quadros de representação e experiência, como processo interpretativo, inacabado, em constante devir.A mediação implica o movimento de significado de um texto para outro, de um discurso para outro, de um evento para outro. Implica a constante transformação de significados, em grande e pequena escala, importantee desimportante, à medida que textos da mídia e textos sobre a mídia circulam em forma escrita, oral e audiovisual, e à medida que nós, individual e coletivamente, direta e indiretamente, colaboramos para a sua produção. (Silverstone, 1999, p. 33).Ao recorrer a Habermas, colocando em relação a mídia e o processo político, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 128Silverstone (1999) observa que no novo ambiente midiático sobrecarregado de informações e pluralidade de vozes que fazem confundir os limites das esferas pública e privada, parece que a “participação eficaz” desapareceu. O autor desafia o papel contemporâneo das instituições midiáticas: “Em debate está a capacidade [...] de criar e sustentar um debate público significativo: de maneira justificável, acessível e responsável. Não podemos pedir, nem devemos esperar, menos” (Silverstone, 1999, p. 273).Num percurso conceitual por correntes que tentam dar conta do papel que desempenham as instituições e os processos envolvidos na comunicação mediada, Ramirez (2016) argumenta que, apesar de aproximações diversificadas e desconexas aos fenômenos midiatizados, todas contemplam a comunicação como elemento-chave. Ramirez (2016, p. 17), assim, propõe o conceito de “midiatização” como expressão da “centralidade” das tecnologias e dos processos de comunicação”, que perpassam a vida econômica, política e permeiam o universo de valores e representações na atualidade.Embora a noção de midiatização de Ramirez (2016, p. 17) enfatize a centralidade midiática para a interpretação do devir das sociedades contemporâneas, sua proposta rejeita leituras deterministas ao considerar que a midiatização “estabelece contornos e captura fluxos”. Nesse sentido, há uma articulação entre a visão de Ramirez e Hjarvard (2012, p. 54) que entende a midiatização da sociedade como processo pelo qual relações humanas e práticas sociais se articulam com as mídias, tornando-se práticas rotineiras. “A sociedade contemporânea está permeada pela mídia de tal maneira que ela não pode mais ser considerada como algo separado das instituições culturais e sociais.3 | PERCURSOS METODOLÓGICOSAs noções de meio, mídia, mediação e midiatização foram utilizadas como ferramentas conceituais para reflexões e análises sobre formas e qualidade da participação na categoria “comentários” na página do jornal o Estado de S. Paulo no Facebook, entre os dias 14 e 16 de outubro de 2015. O mapeamento privilegia, numa etapa inicial estritamente quantitativa, apenas comentários que excederam o número de “compartilhamentos”, como proposta de filtro para o corpus analítico desta proposta metodológica. O monitoramento identificou que houve um total de 185 postagens, no período, que podem ser classificadas de acordo com as definições de hard e soft news (Silva, 2013; Sousa, 2002). Em linhas gerais, as categorias de valores-notícia, envolvem: Hard news: Impacto; Conflito; Polêmico; Proximidade; Governo; Tragédia/Drama; Surpresa e Justiça. Soft news: Entretenimento; Curiosidade; Conhecimento e Raridade. Outros: Todas as notícias que não se encaixam nas categorias Hard e Soft News.Das 185 postagens, 30 apresentaram número superior de comentários em relação aos compartilhamentos, o que representa 16,2% do total. Vale ressaltar que este quantitativo foi coletado 24 horas após a publicação. Foi identificado o predomínio de soft news (um A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 129total de 21, representando 70 % do recorte). As editorias que mais postaram notícias foram “Mais” e “Cultura”, o que sugere que, para o jornal, o público tem mais interesse por informações amenas que envolvem cultura, curiosidades e pesquisas.Já as notícias de natureza hard receberam maior destaque no número de participações dos internautas, de acordo com a métrica adotada nesta pesquisa, tratando assuntos mais factuais e polêmicos. No primeiro dia do monitoramento, a notícia com o título “Que burrada eu fiz” – contextualizando em linha-fina o caso de uma faxineira que comeu o bombom de um delegado, obteve 826 comentários e 398 compartilhamentos. A publicação apresentou o depoimento de uma servidora que consumiu um doce, que não lhe pertencia, enquanto executava suas funções na delegacia onde atuava. No dia seguinte, a repercussão do caso gerou mais interação na página de O Estado de S. Paulo no Facebook. A notícia, publicada sob o título “Para delegado da PF, houve quebra de confiança no caso do Bombom”, alcançou 922 comentários e 273 compartilhamentos. Desta vez, a notícia foi publicada tendo como fonte principal o delegado responsável pela denúncia, que alegou quebra de confiança da funcionária ao consumir o bombom.4 | ACHADOS E ANÁLISESO caso da faxineira e do delegado assumiu proporções impensáveis, se compararmos com décadas atrás quando seria considerado, pela imprensa tradicional e pelo público consumidor das mídias tradicionais, como mais uma notícia que trata da vida desigual brasileira. O caso, considerado como estrato real e documental desta pesquisa, demonstra a aceleração das mediações humanas com as técnicas (Stiegler, 2010), mas ganha valor como objeto de análise de produtos sociais, gerados em ambiências públicas, supostamente, democráticas, em sociedades midiatizadas.Wolton (2010) levanta uma questão fundamental para a reflexão sobre a condição humana no século XXI, que não mais sofre com a escassez de notícias, mas, ao contrário, com o excesso de informações, que gera caos, ingenuidade, desorientação, vigilância e coloca, em disputa, formas de pertencimento e poder. Wolton (2010) explora o paradoxo entre informação e comunicação, como campos separados das tecnologias de comunicação em rede, com proposições para se pensar a comunicação contemporânea. Informação é transmitir, numa relação básica de emissão e recepção. Comunicar é aceitar que há alguém no outro lado do processo de comunicação, como condição primeira (Habermas, 2002; Johnson, 2015; Wolton,2010).Após avaliação preliminar da natureza das postagens, o foco foi angular 1.195 comentários que se qualificam como formas de participação ativa, democrática e significante (Silvertone, 1999; Wolton, 2010). Não foram incluídos, para efeitos de análise, “comentários dos comentários” na coleta, porque a quantidade identificada e monitorada escaparia dos propósitos desta pesquisa. Os comentários foram classificados de acordo com critérios A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 130básicos de racionalidade em discussões públicas A partir das considerações feitas, a postagem 1 “Que burrada eu fiz”, sobre a pergunta de uma faxineira que comeu o bombom do delegado, obteve 468 comentários, dos quais 357 foram classificados como não qualificados e 111 qualificados.Gráfico 1: Percentual dos comentários da postagem 1.Fonte: Elaboração dos autores.A postagem 2 “Para delegado da PF, houve quebra de confiança no caso do bombom” apresentou 727 comentários, sendo 620 não qualificados e 107 qualificados.Gráfico 2: Percentual dos comentários da postagem 2.Fonte: Elaboração dos autores.Na segunda etapa, procedemos, então, a análise de cada um dos comentários qualificados, com o objetivo de categorizar as abordagens apresentadas. Foram, então, A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 131identificados três níveis, a saber:Nível 1 – Crime: visões a favor ou contra a postura do delegado, levando em conta argumentos de cunho jurídico;Nível 2 – Contexto: referências às questões políticas e econômicas, com citações diretas a empresas e pessoas. Foram desconsiderados comentários genéricos como “Prender esse bando de políticos esse delegado não quer, neh”;Nível 3 – Surpresa: comentários que demonstravam inquietações a respeito do tema, questionando inclusive os critérios de noticiabilidade adotados pelo Jornal. Na postagem 1, houve uma maiorincidência de comentários relacionados ao Nível 1. Já na postagem 2, a categoria Contexto se destacou, conforme pode-se verificar na tabela 1.Classificação dos comentários Notícia 01 Notícia 02Nível 1: Crime 53 (48%) 31 (29%)Nível 2: Contexto 34 (31%) 40 (37%)Nível 3: Surpresa 24 (21%) 36 (34%)Tabela 1: Classificação dos comentários qualificados.Fonte: Elaboração dos autores.Na primeira postagem, o público se mostrou mais impactado com a informação, se posicionando contra ou a favor da personagem e questionando a atitude da autoridade. Várias argumentações foram utilizadas, desde as fundamentadas em leis, até aos valores morais e de costume impostos pelas famílias. Mas o que prevaleceu (Figura 1) foram comentários que julgavam o roubo em si, independente do seu valor, ou seja, condenaram a subtração do bombom, mas, também, questionaram a atitude do delegado.Figura 1: Comentário de internauta criticando o roubo e a atitude do delegado.Fonte: Facebook jornal Estadão de 14/10/20151.1 Disponível em https://www.facebook.com/pg/estadao/posts/?ref=page_internal. Acesso em 22 de outubro de 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 132Já na segunda postagem, podemos inferir que o público já se mostrava um pouco desgastado com o assunto em debate, se expressando (Figura 2) de maneira mais agressiva e questionando a publicação. Houve muitos ataques à Polícia Federal por conta da atitude do delegado, levando-se em consideração a situação política e econômica do Brasil. Figura 2: Comentários sobre atuação da PFFonte: Facebook do jornal Estadão de 15/10/20152Também verificamos (Figura 3) que o contexto levou internautas a questionarem a publicação. Figura 3: Questionamento da postagem.Fonte: Facebook do jornal Estadão de 15/10/20153.Alguns, inclusive, questionam a superficialidade dos comentários, justificando que a maioria se deixou levar pelo título da publicação, sem ter ciência do conteúdo. Figura 4: Internauta comenta superficialidade das interações.Fonte: Facebook do jornal Estadão de 15/10/201542 Disponível em https://www.facebook.com/pg/estadao/posts/?ref=page_internal. Acesso em 22 de outubro de 2015.3 Disponível em https://www.facebook.com/pg/estadao/posts/?ref=page_internal. Acesso em 22 de outubro de 2015.4 Disponível em https://www.facebook.com/pg/estadao/posts/?ref=page_internal. Acesso em 22 de outubro de 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 133Em conclusão, os dados demostram comentários que privilegiam julgamentos, sejam contra ou a favor, o que sugere uma necessidade do internauta de se manifestar diante das postagens publicadas (Gráfico 3). A estratégia do jornal em elaborar um título que expõe o posicionamento de algum personagem envolvido na história pode justificar uma maior participação do público. Gráfico 3: Classificação geral dos comentários.Fonte: Elaboração dos autores.A subtração de um bombom, para muitos, poderia ser uma atitude irrelevante, mas a repercussão gerada pela atitude do delegado, em um contexto em que os brasileiros estão diante de questões políticas e econômicas delicadas, pode ter gerado a revolta dos internautas, o que levou a uma maior incidência de comentários, gerando, assim, maior engajamento. Podemos inferir, então, que o Estadão tem seu conteúdo produzido a partir de três premissas: proximidade, contextualização e tempo. A primeira está relacionada à estratégia de identificação e no estabelecimento de comunicação contínua de forma a conhecer o seu público-alvo, seus interesses e seu estilo de vida. No item “contextualização”, são relacionadas as características do público com os fatos que acontecem no Brasil e no mundo que podem gerar maior comoção e debate, o que, consequentemente, tornará o assunto mais relevante e interessante. Em relação ao fator “tempo”, consideramos a atualidade da publicação. Conteúdos perdem força ao longo do tempo e se não forem atualizados acabam com a frequência de interação.É importante destacar, também, que ambas as publicações estão vinculadas à editoria Política. Como dissemos, este assunto é o que vem recebendo maior atenção do público diante dos últimos acontecimentos. Em nosso recorte, identificamos oito diferentes editorias nas 185 publicações. Deste total, 61 (32,97%) revelaram que o assunto A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 134predominante no Estadão, seja através de notícias ou artigos opinativos, trata-se de questões de temática política. 5 | CONSIDERAÇÕES FINAISBuscamos problematizar a noção de interação dos leitores em sites de redes sociais, fazendo o contraponto com elementos da qualidade da participação, para além das práticas de “curtir” e “compartilhar”, compreendendo, assim, gêneros e editorias que geram o maior número de comentários entre os leitores, em contexto de midiatização. A categoria “comentário” em redes sociais digitais configura-se como uma forma de participação mais ativa e elaborada, sob o viés da interação comunicativa humana, do que formas mais simplistas e automatizadas de clicar e enviar. Assim, estudos nessa direção e merecem mais investimentos em pesquisas acadêmicas na área da Comunicação, especialmente na interface entre novos e velhos modelos de negócios jornalísticos, novos arranjos nativamente digitais e desafios sobre novas formas de participação, não necessariamente baseadas em trocas argumentativas baseadas na racionalidade.REFERÊNCIASCARRO, R. Brasil. In: Digital News Report 2016. Oxford: University of Oxford Press, 2016, p. 82-83.DIGITAL NEWS REPORT 2016. Reuters Institute for the study of Journalism. Oxford: University of Oxford Press, 2016.GILLESPIE, T. The relevance of algorithms. In: T. GILLESPIE, T., P.J. BOCZKOWSKI, K.A. FOOT, K. A. (ed.). Media Technologies: essays on communication, materiality, and society. Cambridge: MIT Press, 2014, p. 167-194.GOMES, W. Esfera pública política. In: A. Citelli et al. (Org.). Dicionário de comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo: Contexto, 2014, p. 221-229.GOMES, W; MAIA, R.M. Comunicação e democracia. São Paulo: Paulus, 2008.HABERMAS, J. Direito e democracia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.HJARVARD, S. Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e cultura. Matrizes, Vol. 5, n. 2, p. 53-91, 2012.JENKINS, H. Convergência e conexão são o que impulsionam a mídia agora. Entrevista concedida a Priscila Kalinke e Anderson Rocha. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 39, n. 1, p. 213-219, 2016.JOHNSON, T.S.P. Entre hard e soft news: explorando modelos de personalização de notícias em plataformas sociais. Lumina, Vol. 9, n. 2, p. 1-18, 2015. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 11 135JOHNSON, T.S.P; PEREIRA JR. Remediação sem interação: um exame sobre a presença de O Globo no Facebook. In: Simpósio Internacional de Ciberjornalismo, 6º, Campo Grande. Anais... Campo Grande, MS. Disponível em: http://www.ciberjor.ufms.br/ciberjor6/anais-6o-simposio-internacional-de-ciberjornalismo. Acesso em: 30 jul 2015.KALOGEROPOULOS, A. Greece. In: Reuters Institute Digital News Report 2016. Oxford: University of Oxford Press, 2016, p. 70-71.LORENZ, M. Personalização: análise aos 6 graus. In: J. CANAVILHAS (org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã, PT: Livros LabCom, 2014, p. 137-158. MARTINO, L.M.S. Teoria das Mídias Digitais. Petrópolis: Ed. Vozes, 2015.MITCHELL, W.J.T.; HANSEN, M.B.N. Introduction. In: W.J.T. MITCHELL; M.B.N. HANSEN (Ed.). Critical terms for media studies. Chicago: The University Chicago Press, 2010, p. vii-xxii.PRIMO, A. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.RAMIREZ, P.A. Mediatizácion social: poder, mercado y consumo simbólico. Salamanca: CS, 2016.ROST, A. Interatividade: definições, estudos e tendências. In: J.CANAVILHAS (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã, PT: Livros LabCom, 2014, p. 53-88.SANTI, A. 2015. O lado negro do Facebook. Superinteressante, 348. São Paulo, jun., p. 28-39.SILVA, G. Para pensar critérios de noticiabilidade. In: G. SILVA; M.P. SILVA; M.L. FERNANDES (Org.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações. Florianópolis: Insular, 2013, p. 51-69.SILVERSTONE, R. 1999. Por que estudar a mídia?. São Paulo: Loyola, 1999.SOUSA, J. P. Teorias da notícia e do jornalismo. Chapecó: Argos, 2002.STIEGLER, B. Memory. In: W.J.T. MITCHELL; M.B.N. HANSEN (Ed.). Critical terms for media studies. Chicago: The University Chicago Press, 2010, p. 64-87.WOLTON, D. Informar não é comunicar. Porto Alegre: Sulina, 2010.WOOLLEY, S. Automating power: social bot interference in global politics. First Monday, Vol. 21, n. 4, p. 1-13, 2016.YANATMA, S. Turkey. In: Reuters Institute Digital News Report 2016. Oxford: University of Oxford Press, 2016, p. 72-73. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 136Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 12 IMPLEMENTAÇÃO DE SEIS SIGMA EM UMA PADARIA NO MÉXICOData de submissão: 08/10/2021Brenda Carolina Pérez MillánInstituto Politécnico Nacional, CECyT 19.Tecámac, Estado de México, MéxicoErasto Vergara HernándezInstituto Politécnico Nacional, UPIIHSan Agustín Tlaxiaca, 42080, Hidalgo, MéxicoRESUMEN: El presente trabajo tiene como objetivo exponer la aplicación de diferentes herramientas Six Sigma para describir los cambios de mejora continua necesarios en una panificadora. Se explica la metodología Six Sigma, las herramientas usadas en las etapas de definición y medición del sistema de calidad implementado en la panificadora y las variables relacionadas en el proceso. Los resultados revelaron que con la implementación adecuada de esta metodología y con el apoyo al equipo y al personal de la organización se puede obtener la satisfacción del cliente.PALABRAS CLAVE: Six sigma, lean manufacturing, panificadora, cliente.IMPLEMENTATION OF SIX SIGMA IN A BAKERY IN MEXICABSTRACT: The aim of this article is to present the application of different Six Sigma tools to describe the continuous improvement changes needed in a bakery. It explains the Six Sigma methodology, the tools used in the definition and measurement stages of the quality system implemented in the bakery and the variables related to the process. The results revealed that with the proper implementation of this methodology and with the support of the organisation’s team and staff, customer satisfaction can be achieved.KEYWORDS: Six sigma, lean manufacturing, bakery, customer.1 | INTRODUCCIÓNLa metodología Seis Sigma para proyectos de mejora de procesos existentes se fundamenta en el empleo de ciertas herramientas metodológicas denominadas por las siglas DMAIC, que es un acrónimo de cada una de las etapas que la componen. Es conveniente mencionar que cuando se trata de procesos que se encuentran en la etapa de diseño, la metodología cambia ligeramente a Diseño para Seis Sigma o DPSS por sus siglas en inglés.La metodología DMAIC (Definition, Measurement, Analysis, Improvement y Control) es una serie de herramientas metodológicas basadas en aspectos básicos de Control total de la calidad (TQM), Control estadístico de procesos, Reingeniería de procesos, entre otras que permite seleccionar qué herramientas emplear sin restricción alguna, a diferencia de otras metodologías, que son rígidas y en las cuales se deben emplear todos los pasos para A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 137la culminación de los objetivos, similar a un rompecabezas en el que se deben emplear todas las piezas y si falta alguna el resultado es incorrecto.Es conveniente aclarar que, así como Seis Sigma depende de herramientas estadísticas y gráficas para su aplicación, estas no podrían aplicarse sin contar con información relacionada con el proceso. Esta necesidad de datos hace que esta metodología sea una herramienta objetiva basada en un gran procesamiento de información para llegar a conclusiones acertadas. Sobre todo porque las decisiones de las herramientas muchas veces se fundamentan en hechos históricos que son grabados o recopilados muchas veces con el propósito de tener referencias o registros que nos ayuden a entender el desempeño del proceso.2 | DESARROLLOSe plantea como meta la reducción de tiempo y número de facturas en estatus “client resolution” en la empresa “Tommy S,A de CV”. El defecto que se aborda es el tiempo que tarda una factura en el proceso de Client Resolution, el cual se observa en el proceso que toda factura de proveedor pasa antes de ser pagada, esto en el área de Cuentas por Pagar Se observó que el tiempo de solución de una factura en Client resolution fue aumentando con la fusión de varias empresas que hubo en el grupo, el volumen de facturas fue creciendo y esto entorpeció el proceso, es decir, el tiempo para procesar una factura aumentó entre un 50 y un 70% más en tiempo.Los objetos más comunes son: la información fiscal (requisitos) y la información comercial. Los defectos más numerosos están en la información comercial, ya que en la información fiscal simplemente se rechaza y el proveedor vuelve a facturar correctamente.Por los protocolos y políticas que la empresa tiene sobre la recepción y procesamiento de facturas (información comercial) y por las regulaciones fiscales que se imponen. Este proyecto se desarrolló en México solamente, abarca todas las facturas que sean facturadas a las sociedades del grupo. El proyecto solamente abarca procesos que tengan que ver con cuentas por pagar México, por lo tanto, no incluye procesos fuera del área de Cuentas por pagar. Sociedades que no sean de México.Las posibles barreras que se puede encontrar son: El costo del proyecto, el tiempo invertido, desarrollos muy grandes para problemas pequeños. Las actividades manuales (no automatizadas).Para medición de los resultados de la implementación se estableció el métrico primario “Y” o regla. Este indicador debe de ligar al problema con el objetivo de forma que el mejorar la Y nos lleve a lograr el objetivo. Estas mediciones se validarán más adelante en la fase de medición. En este proyecto el métrico primario es el: Tiempo que espera una factura en ser contabilizada pasando por todo el proceso completo de cuentas por pagar, desde que el proveedor la manda al buzón de facturas hasta que ya es registrada y A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 138esperando su vencimiento en SAPA. Los Límites de especificación Métrico Primario (Y) se establecieron en el siguiente rango:Valor mínimo aceptable: 24 horas/factura de espera.Valor máximo aceptable: 48 horas/factura de espera.Desempeño Actual (Y) : de 72 a 96 horas de espera.Desempeño Histórico (Gráfico): tendencia hacia el alta, se acentúan en los meses de diciembre y enero.La meta que se quiere lograr es una reducción de entre el 50 y el 60% del tiempo promedio de los último 5 meses más recientes.El diagrama de despliegue de la función de calidad (QFD), se muestra en la Figura 1.1. A Necesidades del cliente2. Características de Diseño (Soluciones)Figura 1. Diagrama QFD.Para el diagrama del desarrollo SIPOC se siguió la metodología de: A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 139Enunciado del proyectoReducción de tiempo y número de facturas con temas especiales o en resolución en Cuentas por Pagar (Client Resolution).Oportunidad / Problema1.- El número de Facturas en estado “client resolution” es excesivo.2.- El tiempo de respuesta a la solución que se le debe dar a una factura con tema especial excede al establecido (2 días hábiles).3.- El sistema es complejo para el usuario que realiza la Requisición ya que, al crearse mal la Requisición,– 59 itens; Cinemas de Campinas – 43 itens, entre outros.Também há vídeos sobre Queops Disco Clube, Viaduto Cury, Documentário Rock em Campinas anos 80 e 90 partes 1 e 2, Centro de Memória da Unicamp 1985, Campinas 220 Anos – 1994, Reclames Diversos, Desabamento Cine Rink, As Primeiras Escolas de Campinas e outros.São centenas de imagens que provocam reações diferenciadas, interpretações variadas, análises sobre o que as fotos e vídeos significam, junto a recordações de muitas pessoas.A fotografia tornou-se uma arte pondo seus recursos técnicos a serviço dessa poética dupla, fazendo falar duas vezes o rosto dos anônimos: como testemunhas mudas de uma condição inscrita diretamente em seus traços, suas roupas, seu modo de vida; e como detentores de um segredo que nunca iremos saber, um segredo roubado pela imagem mesma que nos traz esses rostos. A teoria inicial da fotografia como pele descolada das coisas apenas confere a carne da fantasia à poética romântica do tudo fala, da verdade gravada no próprio corpo das coisas. (RANCIÉRE, 2012, p.23-24). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 5Imagem 2: Vida noturna.Fonte: Facebook, 2021.Os temas variados e de épocas diversas atraem públicos de diferentes idades. Analisando os comentários, é possível ver o interesse que essa memória da cidade desperta nos internautas. Muitos marcam seus amigos e familiares nos comentários, relembram de pessoas que estão nas fotos, compartilham as postagens, contam histórias e explicam como era determinado local, como as coisas funcionavam na época, rememoram comidas marcantes, eventos e espaços importantes para a cultura, economia ou história local.Reza o dito popular que “recordar é viver”, e podemos afirmar o inverso: que viver é, em grande parte, um processo de recordar. Memória e experiência estão intimamente relacionadas, uma alimentando e constituindo a outra. (CARDOSO, 2013, p.39).E não é somente o público mais velho que se interessa pelas fotos. Avaliamos especificamente as postagens sobre as fotos do tópico “Bares e Restaurantes” referentes ao Centro de Convivência Cultural e seu entorno, conhecido como Setor, nos anos 80 e 90. Nos comentários, é possível ver como os mais jovens têm curiosidade sobre como era a cidade na época de seus pais e avós. Muitas vezes até reconhecem alguns de seus familiares nas imagens postadas na página.Pelos comentários dos mais jovens e dos mais velhos, verificamos de que modo as imagens ganham novos significados, dependendo de quem as vê. Tempos, perspectivas e vivências diferenciadas proporcionam diferentes leituras do que é apresentado. Também é forte o saudosismo de quem viveu as diferentes épocas, com inevitáveis comparações com os dias atuais, e muitas referências aos objetos, espaços físicos, comidas e bebidas que A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 6marcaram o período, especificando o que significava para os usuários.Sem um sujeito capaz de atribuir significado, o objeto não quer dizer nada; ele apenas é. A apreensão de todos os fatores citados deriva da relação entre usuários e artefatos, numa troca de informações e atribuições que se processa de modo contínuo. Em última instância, é a comunidade que determina o que o artefato quer dizer. (CARDOSO, 2013, p.33).Pelos comentários dos mais velhos, percebemos que além da saudade da época vivida, há uma série de informações que as imagens carregam e só podem ser percebidas por quem vivenciou aquela experiência. Por questões de proteção à privacidade dos internautas e dos citados nos comentários, omitimos os nomes. Com exceção disso, preservamos a integra das mensagens, inclusive com gírias, abreviações e erros de português. Um internauta comenta: “Obrigado por compartilhar com a gente esse conteúdo, imagens dos bares, casas noturnas e a cena rock começando nos anos 80, Campinas era uma referência rock and roll em São Paulo é muita gente não sabe disso.”Outra elogia e analisa: “Parabéns a quem postou todas estas fotos, falam na alma, são ttas emoções, rsrsrsrs.......gracias... (sic)”As imagens também trazem memórias gustativas, os paladares dos leitores mais velhos são estimulados pelas fotos. “Que saudades!!! Amava ir comer beirute de camarão no Natural. O Setor era tudo de bom!”, diz uma ex-frequentadora. Outro diz: “Ahhhh saudadesss do LUA CHEIA... Onde acho? Só voltando no tempo?” Mais uma recorda: “Também lembro com vontade do LUA CHEIA outro dia fiz em casa só pra matar a vontade será que ninguém tem a receita? (sic)”Outra lembra: “Esse era top! bolinho de bacalhau e o famoso pastel de carne com muito ovo e azeitonas”. Outro internauta fala de bebidas, lanches e da segurança na época. “Quem lembra da pinga de banana, lua cheia etc. e tal...época em que se andava nas ruas sem se preocupar com assaltos e violências era só amizade alegria e muita bebedeira, bons tempos... (sic)”. Parece ser importante nos comentários lembrar objetos, alimentos, bebidas que pontuam as memórias.Há controvérsias quanto às memórias, especialmente quando elas são coletivas e não individuais. Não é de surpreender, portanto, que as pessoas recorram aos objetos como suportes de memória. Os artefatos servem tanto de ponto de partida para as lembranças como para encerrar litígios. (CARDOSO, 2013, p.40).Um internauta que se identifica como um dos donos do bar Natural relata: “Abrimos o Natural em 1980, a ideia foi do L. que conheceu S. cozinheiro naturalista e sua mãe Dna D. que fazia as delicias de doces, pães, tortas, lanches inesquecíveis como Lua cheia, Carijocó, e S. G. com a colaboração de S. e sua irmã R. Bons tempos de muitos amigos e diversão...” A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 7Os mais jovens têm outra visão das imagens, procurando familiares e analisando as fotos com espírito “arqueológico”. Uma das fotos, mostrando o trânsito na Rua General Osório, perto dos bares City Bar, Natural, Bacamarte e Paulistinha, trouxe surpresa para os mais jovens sobre os veículos mais populares da época. Como aconselha Cardoso (2013) sempre que se investiga o significado de um artefato, é preciso perguntar: quem olha, a partir de onde e procurando o quê.Imagem 3: Trânsito de Campinas.Fonte: Facebook, 2021.Entre esses mais jovens, um diz: “caramba cheio de fiat” (sic). Outra também nota: “nossa quanto Fiat 147 rsrsrs”. E mais um avalia: “caramba, só tinha fiat 147, devia ser o top da época”. Outros fazem um “garimpo” em busca de conhecidos e parentes. Uma pessoa pergunta: “Pai, é vc de preto na lateral??? E outra complementa: “... acho que é o vô no meio de camisa azul clarinha...”. Mas um jovem identifica: “Meu pai (Z.) ali no começo! E meu avô ali de verde no fundo”. Outra diz sobre foto do Natural: “Restaurante era do meu pai”.Em alguns trechos verificamos um diálogo entre essas gerações. Os mais velhos começam a explicar como era a época, algumas vezes se aproveitando dos comentários dos mais novos. Quando comentam sobre o trânsito e os veículos, por exemplo, alguns frequentadores explicam. Um fala sobre o sentido da rua, contrário ao que é atualmente: “A Rua Gal. Osório com sentido ao Cambuí naquele tempo”. Outro também alerta: “Notem que o trânsito naquela época era para o outro sentido...”Sobre o grande número de Fiats 147, uma internauta comenta: “Eu tb tive um...e o que era engatar a marcha ré...vinte tentativas e uma desistência...rsrsrsrsrsrs” (sic). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 8Outro dos mais velhos explica como era o Ilustrada: “Uma vez tomei uma cerva com Edu Passeto, e ainda ganhei um autógrafo. Saudados do C”. Outro comentário fala de outro bar: “muitas caipirinhas nesse bar e boa música tb e conheci o BECHIOR nesse bar tb...”. Outro fala sobre o Natural: “Maite Proença, não saia dai ... (sic)”.Imagem 4: Campinas à noite.Fonte: Facebook, 2021.Esses diálogos entrela OC nace mal, por lo tanto, al ingresar la factura no lo permite el sistema, por la incongruencia de la información.OBJETIVODisminución en un 50% el tiempo la resolución de facturas en estatus “client resolución” para que la factura siga el proceso normal de registro en el tiempo establecido y reducir el número de incidencias por falta de simplicidad en el procesos o simplicidad en el sistema para la creación de las requisiciones.DEFINICIÓN DE LAS Y´S· Tiempo máximo de estatus “Client Resolution”: 2 días hábiles.· Manuales de uso de sistemas para la creación de requisiciones.· Capacitaciones para la creación de requisiciones.· Capacitaciones a proveedores para la emisión de facturas que cumplan con los requisitos fiscales y cumplan con la validación comercial con la empresa.BENEFICIOSCon la creación correcta de requisiciones y con la correcta emisión de facturas de los proveedores, se reduce el número de facturas con algún tema especial, por lo tanto, se puede tener un mayor control en el tiempo de respuesta en la resolución de facturas con temas especiales para que sigan el proceso normal de captura en SAP. Otro efecto positivo es la reducción de la incurrencia en el no cumplimiento de pago al vencimiento debido al tiempo que se esperan a que le den solución.S I P O C(PROVEEDORES) (ENTRADAS) (PROCESOS) (SALIDAS) (CLIENTES) A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 140¿Quién suministra lo que necesita para ejecutar el proceso?¿Cuáles son los insumos o entradas requeridos?¿Qué hace el proceso?¿Cuál es el resultado esperado del proceso?¿Qué clientes necesitan la salida de este proceso?Usuarios requisitores o creadores de requisicionesFacturas bien emitidasDar solución a las facturas que tengan algún detalle que les impida seguir su proceso normal de registro en SAPReducir el número de facturas sin detalle so temas especiales.Cuentas por pagar, que es parte del proceso, peor al final el beneficio es para él mismo.Área de compras Requisiciones bien emitidasNo exceder de los 2 días hábiles por factura que requiera una solución a algún tema especial que impida a la factura seguir su proceso normal de registro.Proveedores que esperan el pago de sus facturas.Pagar las facturas a tiempo al vencimientoUsuarios requisitores, que les facilita el uso del softwareEl diagrama de proceso de facturación en la panificadora se observa en la Figura 2:Figura 2.- Diagrama del proceso de pago. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 141I. Estadística DescriptivaII. Índice Cp• Límite superior – 48 horas• Límite inferior – 24 horas• Objetivo – 34 horas Figura 3.- Gráfico de capacidad para el Operario 1 y el Operario 2El índice Cp para el operario 1 es de 0.20 y el del operario 2 es de 0.2, ambos están A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 142en la última categoría, la 4, por lo que se recomienda hacer un serio cambio en el proceso. En el Histograma da cada uno de los operarios se observa claramente que el proceso no está en control, el tiempo de registro de una factura sobre sale mucho del límite superior en ambos operarios; al igual que las campanas de Gauss de ambos, son chatas por lo que hay mucha dispersión en las muestras, esto significa mucha variabilidad en el proceso (en este caso, tiempo). Figura 4.- Gráfico de capacidad sixpack para el Operario 1 y el Operario 2En los informes de Capability Sixpack, se pueden observar la calidad en el proceso de cada operador, al igual que los histogramas anteriores, e observa mucha variabilidad y mucha desviación respecto a la propia media de cada operador.III. Justificación y descripción de los datosComo se dijo anteriormente, los datos son las horas que una factura en Client Resolution estuvo en ese estatus hasta que fue registrada, los datos se tomaron de una muestra de 20 facturas por mes que se hicieron a cada uno de los Operarios (quienes registran), con estos datos se puede sacar una clara estadística d ellos tiempo que están tomando cada uno en registrar la factura.3 | CONCLUSIONESLa metodología Seis Sigma en el sector industrial ha tenido una influencia fundamental, ya que ha colocado a muchas empresas en la elite de alto competitividad al colocar más productos o servicios de calidad a los más bajos costos posibles. La metodología está basada en aspectos básicos de Control total de la calidad (TQM), Control estadístico de procesos, reingeniería de procesos, entre otras implica implementación de diversas técnicas para la definición, conceptualización, solución y control de problemas relacionados a la falta o carencia de estándares de calidad aceptables en la producción de bienes o servicios. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 12 143REFERENCIASEckes George, El Six Sigma para Todos, Grupo Editorial Norma,2004.Miranda Rivera Luis Nestor, Seis Sigma / Six Sigma: Guia Para Principiantes / Guide for Beginners, Editorial Panorma 2006.Socconini Luis, Lean Six sigma Green Belt, Manual de participante. Marge Books, 2015.Taylor Gerald M., Lean Six Sigma Service and Excellence, 2012 A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 13 144Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 13 A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO JORNAL CEARENSE O POVO VIOLENCE AGAINST WOMAN IN THE NEWSPAPER CEARENSE O POVOData de submissão: 08/10/2021Francielle Souza NonatoUniversidade Federal de Sergipe São Cristóvão – Sergipe http://lattes.cnpq.br/7691843062000343Isabella Vieira SantosUniversidade Federal de Sergipe São Cristóvão – Sergipe http://lattes.cnpq.br/6405021849593068 Pedro Gabriel Barreto RamosUniversidade Federal de Sergipe São Cristóvão – Sergipe http://lattes.cnpq.br/7503120112863322 RESUMO: O artigo busca identificar a abordagem da pauta sobre violência contra a mulher no jornal O Povo, o mais antigo e o segundo maior em tiragem da imprensa cearense. O assunto foi recorrente em 2018 após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e tem sido pauta no jornal desde que uma cidadã cearense tornou-se personagem central da criação da Lei Maria da Penha, o que justifica a necessidade de compreender e examinar a forma como a temática é abordada pelo veículo. Foram utilizadas três matérias para a análise e a metodologia da Análise de Conteúdo dentro da perspectiva de Maria Laura Franco. Desse modo, é possível uma maior compreensão do objeto analisado e do posicionamento editorial do periódico sobre o tema estudado. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo; pauta; violência; mulher; Jornal O Povo.VIOLENCE AGAINST WOMAN IN THE NEWSPAPER CEARENSE O POVOABSTRACT: The article intends to identify the agenda about violence against woman in the newspaper O Povo, the oldest and second biggest in circulation in the Ceará press. The coverage was recurrent in 2018 after murder of Rio councilor Marielle Franco and it’s been approached as agenda since citizen from Ceará became a central character in the creation of the Maria da Penha Law, which justifies the need to undertand and analiysis how the issue is addressed by the journalistic vehicle. Were used three news articles for analysis and the methodology of Content Analysis from the perspective of Maria Laura Franco. Therefore it’s possible to have a greater understanding of the analyzed object and the journal’s editorial position on the studied topic.KEYWORDS: journalism; agenda; violence; woman; Newspaper O Povo.1 | INTRODUÇÃOTrata-se de uma análise de conteúdo com a temática “violência contra a mulher” nas pautas do jornal O Povo. Objetivando compreender a forma como esse tema é tratado no jornal cearense, são analisadas três matérias A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 13 145produzidas pelo veículo, considerando a finalidadegerações se dão independente das diferentes significações das imagens. Os jovens enxergam de uma maneira, os mais velhos de outra, já que detalham e revelam como se fossem “segredos” da época que viveram. É nesse diálogo entre gerações que as imagens publicadas mostram suas multiplicidades de significado.Apesar dos diferentes pontos de vista, a importância das postagens desse acervo montado com base em arquivos pessoais é compartilhada tanto por jovens quanto pelas pessoas que viveram o período, na maioria acima dos 50 anos. Um internauta elogia: “Que acervo maravilhoso. Parabéns. Merece a edição de um livro”. Outro, mais jovem, também ressalta: “Que da hora parabéns pelas lembranças muitas fotos eu não era nem nascido e emocionante ver as imagens e saber como era do muito valor por antiguidades e sei como tem valor pra quem viveu esses momentos top de mais” (sic). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 9A recordação é também o que constitui a essência do belo. Até mesmo no seu pleno “desabrochar”, a beleza é “inessencial” sem a recordação. O que surge como essencial no belo não é a presença do brilho imediato, mas o ter havido uma recordação que continua agora a iluminar. (HAN, 2019, p.89).CONCLUSÃOPelo considerável número de seguidores e pelos diferentes perfis dos internautas que reagem às fotografias e vídeos somente nesta Fanpage do Facebook, notamos que os temas referentes aos acontecimentos passados são muito atraentes, não somente para os mais velhos, mas também para os mais jovens. E a ressignificação das imagens acaba causando uma espécie de “nostalgia” mesmo em quem nunca viveu aqueles momentos. Essa atração de parte dos mais jovens por épocas antigas é visível também no sucesso de roupas e objetos “retrôs” ou “vintages”. E esse não é um fenômeno atual, nas décadas de 80 era comum o sucesso das “festas dos anos 60”, com os frequentadores usando roupas e dançando músicas da época. Assim como hoje são comuns as “festas dos anos 80”.De certa forma, os jovens concordam com os mais velhos quando dizem a clássica frase saudosista: “no meu tempo é que era bom”. Como eles não viveram aquelas épocas, não sabem que havia muitos problemas e talvez piores que os atuais. Coisas que os mais velhos preferem apagar da memória.Mesmo os mais jovens não são imunes à nostalgia. É bastante difundido o mito segundo o qual as coisas teriam sido mais simples e mais bem-ordenadas no passado. O mesmo filtro acaba por gerar uma reverência coletiva pelo passado, percebido como algo mental que faz com que as pessoas se lembrem mais do que é agradável e esqueçam o desagradável reconfortante. (CARDOSO, 2013, p.40).Por outro lado, as gerações mais antigas se sentem rejuvenescidas quando relatam nas redes sociais digitais como eram sua época de mocidade. Tentam mostrar que eram mais livres, mais felizes e mais tolerantes. Os mais jovens parecem aceitar essas “meias verdades” sem contestar, como se fossem uma licença poética que permite o sucesso de páginas, sites e canais voltados para a economia da saudade. Esse diálogo cordial parece indicar um pacto informal para concordar que um mundo melhor é possível, que já existiu em parte e de certa forma, e que pode ser criado ou recriado em um futuro próximo. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 1 10REFERÊNCIASCAMPINAS DE ANTIGAMENTE. Disponível em: https://www.facebook.com/campinasdeantigamente. Acesso em 30 de outubro de 2021.CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Ubu, 2016. HAN, Byung-Chul. A salvação do belo. RJ: Vozes, 2019.RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. RJ: Contraponto, 2012.WILLIAMS, James. Stand out of our light: freedom and resistance in the attention economy. Cambridge University Press, 2018. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 11Data de aceite: 01/11/2021CAPÍTULO 2 CULTURA ORGANIZACIONAL E CULTURAS NAS ORGANIZAÇÕES SOB UMA PERSPECTIVA CRÍTICAJuliane do Rocio JuskiRelações Públicas e Doutoranda em Comunicação no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)RESUMO: As novas realidades de trabalho e a complexidade dos ambientes organizacionais exigem um repensar do conceito de cultura organizacional. Nos últimos anos, percebemos um movimento crítico no campo da Comunicação Organizacional que observa as profundas transformações desencadeadas pela cultura no contexto das organizações. Mas, para compreender essas mudanças é preciso compreender o conceito de cultura e como se aplica às organizações. Assim, o artigo busca tensionar o conceito de cultura e cultura organizacional a partir de um viés crítico e fragmentado.PALAVRAS-CHAVE: cultura; cultura organizacional; comunicação organizacional; estudos culturais.ORGANIZATIONAL CULTURE AND CULTURES IN ORGANIZATIONS FROM A CRITICAL PERSPECTIVEABSTRACT: The new work realities and the complexity of organizational environments demand a rethinking of the concept of organizational culture. In recent years, we have noticed a critical movement in the field of Organizational Communication that observes the profound changes triggered by culture in the context of organizations. But to understand these changes it is necessary to understand the concept of culture and how it applies to organizations. Thus, the article seeks to tension the concept of organizational culture and culture from a critical and fragmented perspective.KEYWORDS: Culture; organizational culture; organizational communication; cultural studies.INTRODUÇÃOA cultura é um daqueles conceitos polissêmicos e multifacetados que acabou ocupando um papel guarda-chuva para designar tudo que esteja atrelado a comportamento, ritos, crenças, valores e práticas. Atualmente, é ainda mais recorrente observar o termo “cultura” associado a outros conceitos como “cultura do estupro”, “cultura machista”, “cultura digital”, mas será que todas essas expressões se caracterizam como cultura? Para compreender esse contexto, o artigo busca realizar um resgate histórico sobre as origens do conceito de cultura até entender como ele passou a integrar estudos no campo da Comunicação Organizacional. Em um segundo momento, vemos a necessidade de aprofundar a compreensão das diferenças entre os estudos de cultura organizacional e culturas nas organizações, para compreender as múltiplas culturas e perspectivas presentes A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 12nos estudos contemporâneos.E a partir dessa compreensão, fazemos um recorte para a perspectiva crítica dos estudos em cultura organizacional observando aproximações e tensionamentos entre conceitos essenciais para esses estudos no campo da comunicação organizacional crítica e dos Estudos Culturais. Afinal, o que é cultura?Cultura é um conceito abrangente e de difícil definição. O senso comum associa a questão da cultura com o nível de erudição. Conforme aponta Srour (2012) é comum compreender cultura como o nível de escolaridade ou a bagagem intelectual do sujeito, com a tradicional distinção entre culto e popular. E essa complexa definição se apresenta também na conceituação do termo segundo o Dicionário Aurélio (online) que define cultura como um conjunto de hábitos sociais e religiosos, de manifestações intelectuais e artísticas que caracterizam uma sociedade. O verbete traz, ainda, a questão da cultura como um conjunto de normas de comportamento, saberes, hábitos ou crenças que diferenciam um grupo de outro. E resgata também a concepção de cultura a partir de uma origem, como cultivar, criar, cuidar, ligada ao contexto da agricultura. Para esclarecer esses dilemas, nos valemos de Hall (2013, p. 146) que esclarece como o conceito de cultura passou a ser uma dimensão transformadora na sociedade. “Concentradas na palavra ‘cultura’, existem questõesdiretamente propostas pelas grandes mudanças históricas” que modificaram a indústria, a democracia, as classes sociais e as artes. Hall (2013) indica a cultura como uma questão social para a vertente de estudos conhecida, posteriormente, como Estudos Culturais. A partir das ideias de Raymond Williams, um dos pais fundadores dos Estudos Culturais, Hall (2013) identifica duas maneiras diferentes de conceituar cultura. A primeira descreve cultura como “a soma das descrições disponíveis pelas quais as sociedades dão sentido e refletem as suas experiências comuns” (HALL, 2013, p. 147) e a segunda possui um caráter mais antropológico e se associa as práticas sociais. A cultura não é uma prática, nem apenas a soma descritiva dos costumes e culturas populares das sociedades, como ela tende a se tornar em certos tipos de antropologia. Está perpassada por todas as práticas sociais e constitui a soma do inter-relacionamento das mesmas. Desse modo, a questão do que e como ela é estudada se resolve por si mesma. A cultura é esse padrão de organização, essas formas características de energia humana que podem ser descobertas como reveladoras de si mesmas – dentro de identidades e correspondências inesperadas, assim como em descontinuidades de tipos inesperados – dentro ou subjacente a todas as demais práticas sociais. (HALL, 2013, p. 149).É a partir dessa segunda ênfase que “a teoria da cultura é definida como o estudo A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 13das relações entre elementos em um modo de vida global” (HALL, 2013, p. 149). Para Hall (2013), essa segunda perspectiva apresentada por Williams é central por apresentar a cultura como um modo de vida integrado, apoiando-se nas relações ativas e indissolúveis entre os sujeitos e as práticas sociais. Outro autor que reconstrói a trajetória conceitual do termo “cultura” é Barbosa (2013), que explica historicamente as dificuldades e tensões do conceito. A autora revela que o termo “cultura” passou a se popularizar a partir da segunda metade do século XX e ultrapassou o campo da antropologia e da sociologia. De acordo com Barbosa (2013, p. 63) “o termo cultura foi definido pela primeira vez por Edward B. Tylor, em 1871, e daí em diante tornou-se um conceito central da Antropologia”. Apesar de ser um conceito central, a autora esclarece que não é consensual, ou seja, mesmo sendo basilar para os estudos e pesquisas antropológicas, encontramos diversas definições para o conceito. Parte dos antropólogos compreendem a cultura como uma das três dimensões do espaço social e que se refere a dimensão simbólica, mas Barbosa (2013) adverte que essa concepção é restritiva, uma vez que a “noção de cultura não demarca mais uma dimensão específica da vida social, a simbólica, em sua relação constante com a prática”. Do mesmo modo, apontam Carrieri e Silva (2013), foi a partir dos anos 1920 que se intensificou a atenção sobre o conceito “cultura”. Os autores identificam Tylor (1958, p. 1 apud CARRIERI e SILVA, 2013, p. 35) como o pai fundador do conceito, corroborando a visão de Barbosa, que por sua vez a compreende como “um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e qualquer outra capacidade e hábitos adquiridos pelo homem como um membro de uma sociedade”. Barbosa (2013) aponta, ainda, que desde o início, o refinamento conceitual de cultura sempre foi acompanhado de uma oscilação entre momentos consensuais e outros de contestação. Exemplo disso, foi o artigo de Leslie White (1959 apud BARBOSA, 2013) que especificava o objetivo da antropologia como sendo a cultura. Nesse texto, White se propõe a responder os autores das décadas de 1930 e 1940 que definiam a cultura como uma abstração “construída com base na análise do comportamento humano, além de reivindicar para a antropologia a condição de ciência”. Barbosa (2013) explica que para White toda ciência precisava de um objeto real de análise, e se a antropologia se valia da cultura, portanto, a cultura consistia em um faculdade peculiar da espécie humana materializada em ideais, crenças, atitudes, sentimentos, padrões de comportamento, costumes, códigos, instituições, trabalhos e formas de arte, linguagem, ferramentas e demais formas de implementação dessas capacidades simbólicas. A partir desse momento, passou-se a compreender a cultura como um sistema no qual os significados eram dados pelas relações entre os sujeitos e os usos. “Os pertencentes a um universo extras-somático e inter-relacionados, da mesma forma que um sistema no qual os significados são dados pelas relações que as diferentes partes do sistema mantêm entre si, eram denominados simboletos” (BARBOSA, 2013, p. 65). A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 14De acordo com Barbosa (2013), essa vertente de compreensão simbólica da cultura atinge seu ápice com a publicação do livro de Clifford Geertz (1973 apud BARBOSA, 2013) A interpretação das culturas em que define cultura como um sistema de símbolos e significados e o homem, um ser amarrado as suas teias.Nas palavras de Geertz (2012, p. 4) o conceito de cultura por ele defendido tenta demonstrar como seu entendimento é essencialmente semiótico. “Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de significado”. Partindo das concepções de Geertz, Thompson (1995) é outro autor que analisa a trajetória do conceito de cultura, resgatando parte dos estudos apresentados por Hall (2013). O autor sinaliza que o conceito de cultura possui uma longa história própria e os sentidos adotados pelo termo, em certa medida, são fruto dessa história. Thompson (1995) classifica a conceituação de cultura a partir de quatro concepções: clássica, descritiva, simbólica e estrutural. O autor esclarece que a concepção clássica se refere as primeiras discussões sobre cultura, em especial, aquelas que tiveram origem entre os filósofos e historiadores alemães nos séculos XVIII e XIX. Nessa concepção clássica, a cultura é compreendida como “um processo de desenvolvimento e enobrecimento das faculdades humanas, um processo facilitado pela assimilação de trabalhos acadêmicos e artísticos ligado ao caráter progressista da era moderna” (THOMPSON, 1995, p. 170). Já a abordagem descritiva é classificada por Thompson (1995) como a vertente desenvolvida pela antropologia que passou a compreender cultura como um conjunto de valores, crenças, costumes, convenções, hábitos e práticas que caracterizam determinadas sociedades. Nesse sentido, “a cultura de um grupo ou sociedade é o conjunto de crenças, costumes, ideias, valores, bem como os artefatos, objetos e instrumentos materiais, que são adquiridos pelos indivíduos enquanto membros de um grupo ou sociedade” (THOMPSON, 1995, p. 173). A terceira vertente apresentada por Thompson (1995) é a concepção simbólica, tendo como ponto de partida os estudos desenvolvidos por Geertz (2012). A partir dessa perspectiva, Thompson (1995) classifica cultura como “o padrão de significados incorporados nas formas simbólicas, que inclui ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças” (THOMPSON, 1995, p. 176). Apesar de demonstrar uma grande evolução conceitual, Thompson (1995) critica a concepção por indicar ser insuficiente para explicar as relações sociais estruturadas nas quais os símbolos e as ações simbólicas estão inseridos. Ou seja, conforme apontam Carrieri e Silva (2013), Thompson critica a ausência da contextualização dos conflitos e das relações de poder inerentes as distinções e desigualdades dos sujeitos na estrutura social. A partir desse déficit,Thompson (1995) propõe, então, uma quarta abordagem: a concepção estrutural. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 15De acordo com essa concepção, “os fenômenos culturais podem ser entendidos como formas simbólicas em contextos estruturados, e a análise cultural pode ser pensada como o estudo da constituição significativa e da contextualização social das formas simbólicas” (THOMPSON, 1995, p. 166). Thompson (1995) enfatiza que essa concepção estrutural de cultura por ele construída baseia-se tanto no caráter simbólico dos fenômenos culturais como no fato de tais fenômenos estarem inseridos em um contexto social estruturado. Podemos oferecer uma característica preliminar dessa concepção definindo a análise cultural como o estudo das formas simbólicas – isto é, ações, objetos e expressões significativas de vários tipos – em relação a contextos e processos historicamente específicos e socialmente estruturados dentro dos quais, e por meio dos quais, essas formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas. (THOMPSON, 1995, p. 181).Nesse sentido, a compreensão ofertada por Thompson (1995) realiza um repensar a cultura em uma forma ainda mais abrangente, complexa e multifacetada. Assim como descreve Dupuis (1996 apud CARRIERI e SILVA, 2013, p. 37) ao afirmar que uma cultura é configurada no tempo e no espaço pelas práticas dos atores no interior de contextos de interações sociais e históricas, resulta em significações dessas ações pelos próprios sujeitos. Ou seja, tanto Thompson (1995) como Dupuis (1996) reconhecem que a cultura irá se configurar como uma forma simbólica, quando os objetos que compõem essas formas simbólicas forem interpretados a partir dos significados construídos pelos sujeitos em um determinado contexto. Barbosa (2013, p. 65) destaca também que a partir dessa mudança houve um novo interesse na questão cultural que “tomou de assalto um conjunto de disciplinas e especialidades como os estudos literários, a nova história cultural, os estudos culturais, entre outros”. E a partir dessa expansão para além das fronteiras antropológicas, o conceito de cultura passou a designar uma infinidade de atributos, características. A autora (2013, p. 63) enfatiza que “o conceito foi usado para designar qualquer coisa, exatamente como a palavra coisa, um significante em estado puro, que pode ser ajustado a qualquer conteúdo/significado ainda não classificado”. Hall (2013) indica que embora o conceito de cultura tenha sido analisado por diversos autores, seu conceito continua complexo e sua riqueza consiste em ser “uma área de continua tensão e dificuldades no campo” (HALL, 2013, p. 147). E com esse esvaziamento do conceito, até mesmo alguns antropólogos passaram a defender o abandono do conceito (Barbosa, 2013). Carrieri e Silva (2013) também corroboram com o resgate histórico apresentado por Barbosa (2013). Os autores esclarecem que a partir dessa ampla utilização do conceito viu-se uma necessidade acentuada de obter um rigor epistemológico, devido a complexidade de suas articulações. E vão além, ao apontar que esse ausência de rigor tem sido comum na apropriação do conceito de cultura envolvendo A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 16os estudos organizacionais. Pontuando aproximações e distanciamentos entre cultura nas organizações e cultura organizacionalCarrieri e Silva (2013) identificam na antropologia as origens conceituais dos estudos sobre cultura voltado para as organizações. Valendo-se de Sackmann (1991 apud CARRIERI e SILVA, 2013), os autores apontam que a Escola Funcionalista e a abordagem do Idealismo Cultural afetaram significativamente os estudos em cultura organizacional. De acordo com os autores, as influências da Antropologia nos estudos de cultura voltados para organizações ficam evidentes na publicação de um dos primeiros mapeamentos desenvolvidos por Smircich (1983 apud CARRIERI e SILVA, 2013). O trabalho identifica duas grandes perspectivas: a) cultura como uma variável da organização, algo que ela tem.b) cultura como uma metáfora, algo que ela é.De acordo com Carrieri e Silva (2013), na perspectiva da cultura como variável, os estudos demonstram um caráter instrumental da cultura, assumida pelos autores como um fator que pode ser administrado, no sentido de viabilizar a normalização organizacional. E esse caráter instrumentalizado ainda é percebido, atualmente, nas organizações. Em especial, por lideranças que acreditam na manipulação e gestão da cultura organizacional, identificada como um atributo organizacional, assim como outros recursos. Já na perspectiva como metáfora, Carrieri e Silva (2013, p. 42) esclarecem que ela usualmente é definida com base na metáfora da “cola”, como o elemento que mantém a organização unida. “Ela expressa os valores, crenças e ideias compartilhados por todos os agentes organizacionais”. A cultura nesse contexto, segundo os autores, é estudada primeiro como uma variável que oferece a oportunidade de evidenciar, compreender e até controlar a criação de verdades, valores e crenças que ocorrem na organização em uma perspectiva funcionalista. Ou a segunda abordagem que se alinha a um paradigma interpretativo, no qual as organizações são compreendidas como expressões de formas e manifestações da consciência humana. “Elas são analisadas e compreendidas quanto aos aspectos simbólicos como o uso da linguagem e a configuração dos discursos organizacionais. Por meio deles, caberia ao pesquisador ler, interpretar e compreender a cultura” (CARRIERI e SILVA, 2013, p. 43). A partir dessas abordagens, é possível compreender como houve uma grande ampliação dos estudos em cultura organizacional e cultura nas organizações, pois a partir dessas abordagens foi possível, por exemplo, identificar como o mundo social e organizacional não podem ser rotulados como um dado concreto, mas como “uma criação das interações humanas, das quais resultam as inúmeras significações simbólicas manifestadas na cultura” (CARRIERI e SILVA, 2013, p. 43). Assim, de acordo com os A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 17autores, a linguagem, a identidade, os mitos, os ritos, as histórias deixam de ser apenas artefatos culturais e passam a existir como processos que produzem e formam significações que dão sentido a existência da organização. Carrieri e Silva (2013) discorrem, ainda, que nessa perspectiva da cultura enquanto metáfora, compreendem três abordagens: a cognitiva, a psicoestruturalista e a simbólica. Na perspectiva cognitiva, a cultura é vista como um sistema de conhecimentos e crenças que são compartilhados na organização. A perspectiva psicoestruturalista, compreende a cultura como expressão manifestada pelo inconsciente humano. E, por fim, a abordagem simbólica que considera as organizações a partir dos discursos simbólicos que necessitam de interpretação para serem decifrados e compreendidos. Posteriormente, de acordo com Carrieri e Silva (2013), estudos de Smircich (1983), Alvesson e Berg (1992) expuseram a confusão que reinava no campo dos estudos culturais voltado às organizações. Essa confusão atribuída as múltiplas influências dos mais variados campos de conhecimento, associado ao interesse dos próprios estudiosos em posicionamentos paradigmáticos e contextos de atuação distintos. De maneira imbricada, segundo os autores, levaram a um mosaico de abordagens, e essa proliferação levou a uma segunda onda de críticas por vários autores. Nesses estudos que apontavam uma grande variedade de abordagens, levaram a questionamentos sobre as contribuições de cada perspectiva identificada. A partir desses mapeamentos, Carrieri e Silva (2013) apresentam a proposta de distinguir as abordagens em dimensões básicas que identificam as diferentes visões sobre cultura no interior das organizações, configurando-se em três perspectivas: a integração, a diferenciaçãoe a fragmentação.Baseados em apontamentos já delineados por autores como Martin (1992) e Frost et al (1991), os estudos sobre cultura voltados para organizações se enquadram nas seguintes perspectivas:1. Perspectiva da integração: os estudos aqui inseridos reconhecem apenas a consistência das manifestações culturais (valores, interpretações, entre outros) e tratam a organização como voltada ao consenso e à transparência. A ambiguidade é apenas um problema a ser resolvido para se alcançar a integração de todos.2. Perspectiva da diferenciação: os estudos aqui inseridos reconhecem que, apenas dentro de determinados grupos, há consistência nas manifestações culturais, delimitando, também, o consenso e a transparência em seu interior. [...]3. Perspectiva da fragmentação: os estudos aqui inseridos se voltam às inconsistências entre as manifestações culturais, o dissenso e as ambiguidades na organização. Isso porque ela está inserida em um mundo de diversidade cultural, permeado por relações de interesses e consensos transitórios. (CARRIERI e SILVA, 2013, p. 46).Nessas perspectivas apresentadas por Carrieri e Silva (2013), já é possível perceber o mesmo movimento observado nos estudos de conceituação de cultura, um movimento A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 18atrelado a expansão e complexidade da compreensão de cultura no contexto organizacional. Pontuamos, ainda, uma aproximação velada com as perspectivas apresentadas pelos Estudos Culturais nos processos de recepção, cuja interpretação pode ser integral, parcial ou negociada, ou divergente e controversa, assim como as perspectivas de integração, diferenciação e fragmentação. Outra distinção apresentada por Carnieri e Silva (2013) que se faz essencial é a diferenciação entre cultura organizacional e culturas nas organizações. De acordo com os autores, essa diferenças são discutidas por Alvesson (1993), Frost et al (1991) e Martin (1992) que identificam essa segmentação a partir das diversas formas de ver o mundo. Elas demarcam fronteiras um tanto flexíveis entre os estudos sobre cultura no contexto das organizações. “Tais fronteiras se evidenciam nestas três dimensões: (a) relação entre as manifestações culturais; (b) grau de consenso organizacional e (c) orientação em relação a ambiguidade”. Além disso, os autores pontuam as quatro dimensões apresentadas por Alvesson (1993 apud CARRIERI e SILVA, 2013) que incluem: a) Grau em que a organização é considerada única produtora de padrões culturais;b) Grau em que a organização é tida como coerentemente homogênea;c) Grau em que se considera a organização independente de fatores culturais externos;d) Níveis assumidos como apropriados para o estudo do fenômeno cultural.Assim, cultura organizacional compreende as dimensões em que a organização se configura como produtora de sua cultura, com grau elevado de homogeneização. Já as investigações sobre culturas nas organizações, configuram os estudos que compreendem a organização como produtora de um ambiente macrossocial, composta por diversos sujeitos, em um ambiente heterogêneo e repleto de ambiguidades. Freitas (1999) também identifica como o corpo teórico da cultura organizacional se encontra fragmentado e com uma difícil compreensão de forma integral e consensual pelos pesquisadores e acadêmicos. Para a autora, sua fragilidade conceitual e metodológica ainda é alvo de duras críticas. Freitas (1999, p. 97) compreende cultura organizacional “primeiro como instrumento de poder, segundo como conjunto de representações imaginárias sociais que se constroem e reconstroem nas relações cotidianas dentro da organização e que se expressam em termos de valores, normas, significados e interpretações”. De acordo com a autora, a cultura organizacional oferece um sentido de direção, uma unidade, e é por meio dela que se define e transmite o que é importante, qual a maneira apropriada de pensar e agir em relação aos ambientes interno e externos, o que seriam condutas aceitáveis. De acordo com Freitas (1999), as organizações são espaços de poder, de conflitos, de diferenças e de convivência negociada e seria, portanto, uma das funções da cultura organizacional conseguir um tipo de adesão, de consentimento, ou seja, a coparticipação dos indivíduos. Essa perspectiva de Freitas (1999) exemplifica a diferenciação apresentada por Carrieri e Silva (2013), entre cultura organizacional e culturas nas organizações. A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 19Já para Marchiori (2008, p. 94), a cultura organizacional é compreendida como “o reflexo da essência de uma organização, ou seja, sua personalidade. Ela é essencialmente experimentada por seus membros de maneira conjunta, o que, sem sombra de dúvidas, afeta a realidade organizacional e a forma com que os grupos se comportam e validam as relações internas”. Assim, a autora defende que é preciso haver construção de significado, ou seja, comunicação, para que haja cultura em uma organização. Para ela, a formação da cultura organizacional está fortemente atrelada ao processo de conhecimento e relacionamento, além disso é por meio dos relacionamentos e do diálogo que os significados são gerados. E reafirmando o que indicou Martin (1992), Marchiori (2008) indica que as manifestações culturais não podem ser entendidas fora de um contexto no qual é apresentada, percebida e interpretada.Nesse mesmo sentido, Carrieri e Silva (2013) além de fazer um resgate histórico sobre o campo da cultura organizacional, identificam também as limitações dessas abordagens funcionalistas e indicam estudos recentes como os apresentados por Martin (1992) e Alvesson (1991) que exploram as três perspectivas (integração, diferenciação e fragmentação), partindo do princípio que não existe apenas uma cultura organizacional, mas várias. E essa perspectiva, como bem apontam os autores, possibilita compreender o impacto da cultura no ambiente organizacional a partir das interações entre os atores organizacionais sob uma perspectiva histórica de construção dessas culturas pelas pessoas e pelos grupos que compõem a organização. Análise da cultura organizacional sob um viés críticoComo vimos, os estudos em cultura organizacional ou cultura no contexto das organizações possuem uma longa trajetória, marcada com múltiplas abordagens e perspectivas. Dentre essas, Mumby (2013) apresenta os estudos mais significativos que ajudaram a ilustrar como a cultura organizacional é mais do que uma simples construção da realidade organizacional de forma comunicativa e coletiva, identificando a cultura como resultado de um sistema de poder e de interesse político, que são a estrutura profunda das organizações. Esses estudos são classificados pelo autor como: (a) estudos críticos e (b) estudos pós-modernos.Dentro dessa perspectiva, nosso recorte é em observar as análises caracterizadas como estudos críticos, uma vez que elas se baseiam nas matrizes teóricas e conceitos abordados pelos estudos culturais e podem ser classificadas sob a perspectiva de fragmentação apresentadas por Carrieri e Silva (2013).De acordo com Mumby (2013), a pesquisa em comunicação organizacional sob uma perspectiva crítica tem como base uma tradição neomarxista com foco em questões de ideologia e hegemonia, conceitos trabalhados por Althusser (1971); Gramsci (1971) e Marx (1967). Sob essa perspectiva, os estudos analisam como as organizações capitalistas são A produção do conhecimento nas ciências da comunicação Capítulo 2 20capazes de produzir e reproduzir as relações de poder no local de trabalho. Mumby (2013), valendo-se de Eagleton (1991) e Hall (1983, 1985) , esclarece que os conceitos de ideologia e hegemonia são essenciais para compreender essa perspectiva crítica. E que a ideologia se refere a uma relação vivida por completo em um mundo moldado por diversas práticas discursivas e não discursivas. Nesse sentido,
  • Qconcursos - Questões - Exercícios 8
  • Qconcursos - Questões - Exercícios 7
  • Marcação de MATEMÁTICA questoes
  • cinco ideias
  • Interiores-Sustentaveis-www ugreen com_ br-Ed 00
  • Prova de Questões Estilo ENEM
  • 03 EBOOK MATEMATICA CORREIOS 2024
  • Índice de Matemática e Informática
  • Qconcursos - Questões - Exercícios 3
  • 50-QUESTOES-CORREIOS-MATEMATICA (1)
  • Questões de Matemática
  • Iniciacao Cientifica
  • [03/12, 15:49] Vânia ☕????: Questão 2: Temos estudos e pesquisas de história da arte desde 4 mil a.C.constatando que O homem semprecriou sua arte, a...
  • Considerando que as práticas de governança, segundo o COBIT, são representadas pela forma XXXNN.ZZ, podemos afirmar que: Escolha uma opção: a. NN ...
  • 5) Em métodos quantitativos, é comum trabalhar com dados que possuem diferentes níveis de importância ou relevância. "de um conjunto de dados é o ...
  • Qual a relação da atenção com a inibição do impulso? A ) A atenção ocorre quando controlamos o impulso de desviar nosso foco de um estímulo para ou...
  • e e superiores, junto com os ossos que formam a cintura apendicular que representa os os compõem, analise as afirmativas e as classifique com V par...
  • [03/12, 15:45] Vânia ☕????: Questão 1: A aquisição da consciência dos limites do próprio corpo é um aspecto importante do processo dediferenciação d...
  • orillações Aditionals iodo: 03/12/2024 00:00 à 07/12/2024 23:59 Orientações: Cada avaliação virtual permite ao aluno 3 tentativas para melhorar sua...
  • o conjunto de unidades em um anel é um conjunto importante que consiste em elementos que possuem inversos multiplicativos dentro desse anel. Em par...
  • Uma empresa do ramo alimentício está analisando a possibilidade de adquirir uma indústria de embalagens. O valor presente líquido do negócio é de R...
  • Charge favorite 5) divisão Considere euclidiana A = {0,1,2} 3 e a operação binária de soma #:AxA A sobre A dada por xoy=r onde r é o resto da divis...
  • Assinale a opção que entender correta: A Pode-se afirmar que faturamento são os recebimentos em valores monetários de uma organização em razão da c...
  • Marcar para revisão 1 o conjunto 1={a+bv7eR`/a.beQ} é um grupo com a operação de multiplicação usual dos números reais. Considerando que o elemento...
  • 5 Marcar para revisão Cada conjunto de inequações no problema dua corresponde a uma tradução dos limites dos recursos e das demandas de produção do...
  • Modelo comunicativo de Roman Jakobson
  • PROVA 1 - Comunicação e Expressão - 2020 1

Conteúdos escolhidos para você

344 pág.

Grátis

vol 11confaeb
333 pág.

Grátis

LIVRO COLÓQUIO 2019

UNIRIO

346 pág.
IFAP_-_10_ANOS_DE_TRAJETÓRIA,_DESAFIOS,_PROGRESSO_CIENTÍFICO,_TECNOLÓGICO_E_EDUCACIONAL_NO_AMAPÁ

UNOPAR

124 pág.
Caderno-de-Resumos-completo
Seminário SEMENTE UFBA 2016

Perguntas dessa disciplina

Determine um vetor simultaneamente ortogonal aos vetoresu = (-1,-1,-1) e v = (2,0,2). A. 0 B. (-2,2,2). C. (-2,0,-2). D. (2,0,2). E....

UNIBTA

Uma aplicação do produto vetorial se dá no cálculo da área do paralelogramo definido pelos vetores u e v. Descrição da imagem não disponível​​​​...

UNIBTA

Dadas as expressões algébricas A, B e C: A = y2 -3y B = 2y2 – y C = y2 – 2y Efetue essas operações algébricas e escreva o resultado na forma r...

UNIP

Como implementar um algoritmo para realizar o calculo de profundidade de uma arvore em java

UFSCAR

Ed, quantos continentes existem e em qual deles está o Brasil está localizado?

UFMS

  • Qconcursos - Questões - Exercícios 8
  • Qconcursos - Questões - Exercícios 7
  • Marcação de MATEMÁTICA questoes
  • cinco ideias
  • Interiores-Sustentaveis-www ugreen com_ br-Ed 00
  • Prova de Questões Estilo ENEM
  • 03 EBOOK MATEMATICA CORREIOS 2024
  • Índice de Matemática e Informática
  • Qconcursos - Questões - Exercícios 3
  • 50-QUESTOES-CORREIOS-MATEMATICA (1)
  • Questões de Matemática
  • Iniciacao Cientifica
  • [03/12, 15:49] Vânia ☕????: Questão 2: Temos estudos e pesquisas de história da arte desde 4 mil a.C.constatando que O homem semprecriou sua arte, a...
  • Considerando que as práticas de governança, segundo o COBIT, são representadas pela forma XXXNN.ZZ, podemos afirmar que: Escolha uma opção: a. NN ...
  • 5) Em métodos quantitativos, é comum trabalhar com dados que possuem diferentes níveis de importância ou relevância. "de um conjunto de dados é o ...
  • Qual a relação da atenção com a inibição do impulso? A ) A atenção ocorre quando controlamos o impulso de desviar nosso foco de um estímulo para ou...
  • e e superiores, junto com os ossos que formam a cintura apendicular que representa os os compõem, analise as afirmativas e as classifique com V par...
  • [03/12, 15:45] Vânia ☕????: Questão 1: A aquisição da consciência dos limites do próprio corpo é um aspecto importante do processo dediferenciação d...
  • orillações Aditionals iodo: 03/12/2024 00:00 à 07/12/2024 23:59 Orientações: Cada avaliação virtual permite ao aluno 3 tentativas para melhorar sua...
  • o conjunto de unidades em um anel é um conjunto importante que consiste em elementos que possuem inversos multiplicativos dentro desse anel. Em par...
  • Uma empresa do ramo alimentício está analisando a possibilidade de adquirir uma indústria de embalagens. O valor presente líquido do negócio é de R...
  • Charge favorite 5) divisão Considere euclidiana A = {0,1,2} 3 e a operação binária de soma #:AxA A sobre A dada por xoy=r onde r é o resto da divis...
  • Assinale a opção que entender correta: A Pode-se afirmar que faturamento são os recebimentos em valores monetários de uma organização em razão da c...
  • Marcar para revisão 1 o conjunto 1={a+bv7eR`/a.beQ} é um grupo com a operação de multiplicação usual dos números reais. Considerando que o elemento...
  • 5 Marcar para revisão Cada conjunto de inequações no problema dua corresponde a uma tradução dos limites dos recursos e das demandas de produção do...
  • Modelo comunicativo de Roman Jakobson
  • PROVA 1 - Comunicação e Expressão - 2020 1
A producao do conhecimento nas ciencias - Matemática (2025)
Top Articles
Latest Posts
Recommended Articles
Article information

Author: Maia Crooks Jr

Last Updated:

Views: 5435

Rating: 4.2 / 5 (63 voted)

Reviews: 86% of readers found this page helpful

Author information

Name: Maia Crooks Jr

Birthday: 1997-09-21

Address: 93119 Joseph Street, Peggyfurt, NC 11582

Phone: +2983088926881

Job: Principal Design Liaison

Hobby: Web surfing, Skiing, role-playing games, Sketching, Polo, Sewing, Genealogy

Introduction: My name is Maia Crooks Jr, I am a homely, joyous, shiny, successful, hilarious, thoughtful, joyous person who loves writing and wants to share my knowledge and understanding with you.